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Sarkozy e os milhões de Kadhafi

mjp | Eric Topona | AP | Lusa
21 de março de 2018

O ex-Presidente francês, Nicolas Sarkozy, é interrogado pelo segundo dia consecutivo por suspeitas de ter recebido dinheiro do ex-líder da Líbia, Muammar Kadhafi, para a sua campanha eleitoral de 2007.

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Nicolas Sarkozy foi recebido por Muammar Khadafi em Tripoli, em julho de 2007 Foto: AP

Nicolas Sarkozy passou a noite em casa e chegou esta manhã à Polícia Judicial de Nanterre para uma nova sessão de interrogatórios, de acordo com as agências de notícias. O ex-chefe de Estado foi detido na manhã de terça-feira (20.03), em Nanterre, nos arredores de Paris, para ser interrogado pela polícia no âmbito de uma investigação sobre o financiamento da sua campanha eleitoral em 2007.

O processo judicial teve origem num documento líbio, publicado em maio de 2012 no portal de informação Médiapart, revelando que o antigo Presidente francês teria recebido dinheiro do ex-líder da Líbia Muammar Kadafi.

"Trata-se do financiamento de uma campanha presidencial de alguém que se tornaria Presidente - Nicolas Sarkozy, em 2007 - por uma ditadura, com dinheiro de uma ditadura, dinheiro de Muammar Kadafi", afirma o jornalista Edwy Plenel, fundador do Médiapart. "Há suspeitas de corrupção, de financiamento ilegal de uma campanha, um enorme escândalo no Estado", sublinha.

Mercado de escravos na Líbia

O regime de Muammar Kadafi terá transferido para Nicolas Sarkozy 50 milhões de euros - mais do dobro do limite legal de 21 milhões para o financiamento de campanhas. Os pagamentos violam também as regras francesas sobre financiamento estrangeiro e declaração das origens dos fundos de campanha.

Edwy Plenel garante que há provas. "Os juízes interrogaram agentes secretos, diplomatas, tradutores e todos confirmaram a veracidade do documento e dos factos: a promessa da ditadura líbia de financiar Sarkozy com 50 milhões de euros. Hoje sabemos que parte deste dinheiro foi transferido para a campanha de 2007", explica.

Ligações suspeitas

Quatro anos após a denúncia do Médiapart, em 2016, o empresário Ziad Takieddine, que foi ministro do Interior de Kadafi, afirmou ter recebido cinco milhões de euros em dinheiro entre o final de 2006 e início de 2007, de Tripoli para Paris, que entregou a Nicolas Sarkozy, que era então ministro do Interior, e ao seu diretor de gabinete, Claude Guéant. Sarkozy sempre negou as acusações, classificando-as como "manipulação e crueldade".

Sarkozy e os milhões de Kadhafi

Para Thomas Borrel, porta-voz da ONG francesa Survie, que luta contra o neo-colonialismo francês em África, a detenção de Sarkozy significa que os magistrados têm provas suficientes para incriminar o ex-Presidente. "Se os juízes estão a embarcar nesta nova etapa contra um antigo Presidente da República, é porque certamente têm elementos muito concretos. Não é um ato em vão", conclui.

A justiça francesa recuperou a agenda do ministro do Petróleo de Kadafi, Choukri Ghanem, que morreu em 2012 em circunstâncias pouco claras, onde os pagamentos de dinheiro a Sarkozy eram mencionados. Um ex-colaborador do líder líbio que estava encarregue das relações com França, Bachir Saleh, também assegurou ao jornal "Le Monde" que Kadafi disse que "tinha financiado Sarkozy".

Mansão na Riviera

A justiça investiga ainda o caso da venda de uma mansão na Riviera Francesa, em 2009, por cerca de 10 milhões de euros, a um fundo líbio administrado por Bachir Saleh, também ex-tesoureiro do regime de Kadafi.

Os investigadores suspeitam que o empresário Alexandre Djouhri - que terá alegadamente servido de intermediário para os pagamentos entre Tripoli e a campanha de Sarkozy - seja o verdadeiro proprietário desta casa, que terá vendido a um preço "muito inflacionado".

A justiça francesa quer ouvir Bachir Djaleh e Alexandre Djouhri no âmbito das investigações. Djaleh, exilado na África do Sul, sobreviveu a uma tentativa de assassinato no final de fevereiro, em Joanesburgo. Djouhri foi detido em Londres em janeiro,  por suspeitas de "fraude e branqueamento de capitais", e poderá ser extraditado para França em julho, a pedido de Paris.