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Mavungo: "Se o MPLA ganhar é um problema de batota"

António Rocha | cp
3 de agosto de 2017

Cabinda acolhe a campanha eleitoral para as eleições a 23 de agosto. Na província angolana, já estiveram três cabeças-de-lista que concorrem às eleições gerais em Angola.

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Angola Stadt Cabinda
Cabinda: província angolana onde decorreu a campanha eleitoralFoto: DW/C. Luemba

João Lourenço, do MPLA, Isaías Samakuva, da UNITA, e Abel Chivukuvuku, da CASA-CE, estiveram nos últimos dez dias no enclave angolano para divulgarem as suas propostas, tendo em vista a conquista do maior número de votos nas eleições de 23 de agosto.

Debate sobre campanha em Cabinda

Para o ativista Raúl Tati, antigo vigário-geral da diocese de Cabinda, as mensagens dos diferentes candidatos não fogem muito às questões ligadas aos problemas sociais e económicos.

Raúl Tati sublinha que "em Cabinda é preciso ter um discurso que vá ao encontro das aspirações deste povo". Para o ativista cabindense, "todos os cidadãos em Cabinda" defendem que a província angolana "tem de evoluir para um estatuto superior. A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a abrir espaço de debate em Cabinda sobre o assunto, o que não fazem os outros partidos".

Angola Raul Tati Priester in Cabina
Ativista Raúl Tati, antigo vigário-geral da diocese de CabindaFoto: DW/C. Luemba

"Se a UNITA formar Governo, que se encontre uma solução que responda aos anseios do povo de Cabinda", afirma Tati.

Por seu turno, o ativista angolano Marcos Mavungo acredita que em todas as eleições em Angola os partidos vão ao enclave com muitas propostas, mas depois do pleito eleitoral tudo fica como antes. "Uns falam de eleições, outros falam de estatuto especial, até o próprio MPLA. Depois da campanha, tudo fica em silêncio".

Democratizar Angola

Para Marcos Mavungo, não existem condições para a realização de eleições livres e justas. Acredita que Cabinda só serve para os políticos ganharem votos: "sempre que se assinou acordos com a UNITA, não se cumpriu nada. Cabinda tornou-se um negócio para as pessoas ganharem e depois esquecerem-se. Duvido muito que agora a situação vá mudar", diz o ativista.

Na opinião do também académico Raúl Tati, após as eleições de 23 de agosto, deve-se procurar consolidar a democracia em Angola. Raúl Tati refere que "estamos a dar o nosso contributo para que se fortaleça a democraticidade em Angola. Se isto acontecer, temos a certeza quase absoluta que trará ventos favoráveis para o nosso problema em Cabinda". O ativista acredita que "a UNITA tem pergaminhos para chegar até ali".

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Ativista Marcos MavungoFoto: DW/J. Carlos

Marcos Mavungo também está convencido que as mensagens dos cabeças-de-lista não convencem o eleitorado de Cabinda. Contudo, deixa claro que, se não houver fraude, o MPLA não vencerá o pleito, pelo menos em Cabinda. "Nas condições atuais - com corrupção, desemprego, pobreza - o MPLA não ganha. Se o MPLA ganhar, é um problema de batota", defende Marcos Mavungo.

"Devemos participar" nas eleições

Para os analistas, as eleições criam equilíbrios políticos depois de uma certa turbulência. E, no caso de Angola, o ativista Raúl Tati refere: "não sei se devo falar de equilíbrios ou desequilíbrios, mas a verdade é que há vontade de participação e a população de Cabinda vai procurar esclarecimento sobre essa vontade de participar".

Refere que em anos anteriores "muitos cidadãos de Cabinda se abstinham de participar nas eleições angolanas, e este é também o meu caso". Porém, nas eleições de 23 de agosto, "devemos participar para podermos encontrar uma saída para o nosso problema", na opinião do ativista Raúl Tati.

"Votar pela paz e pela democracia"

Angola: Campanha eleitoral em Cabinda

O  lema das eleições de 23 de agosto é "votar pela paz e pela democracia". Mas, segundo o antigo vigário-geral da diocese de Cabinda, "a paz ainda não chegou a Cabinda porque ainda há um diferendo na região, um conflito que aguarda uma solução".

O ativista cita a Bíblia para afirmar que a paz nasce da justiça e acrescenta que "a justiça para Cabinda será encontrar um estatuto que vá ao encontro do povo de Cabinda".

Raúl Tati considera que as condições em que vão ser feitas as eleições "não são as mais desejadas", mas que os eleitores devem exercer o seu direito de voto. "Não temos outro meio para levarmos à frente a nossa voz, para podermos conquistar a nossa dignidade e identidade. Temos de participar e o voto será a nossa arma, desta vez", afirma.

Boicote às eleições

Jean-Claude Nzita, porta-voz da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda/Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC), disse em entrevista à DW África que: "essas eleições não têm qualquer significado para nós, porque Cabinda não é Angola".

Em nome da FLEC/FAC, Jean-Claude Nzita apela os cabindenses a não participarem no ato eleitoral.

"O problema de Cabinda tem de ser solucionado ao nível da Organização das Nações Unidas (ONU) e não com as autoridades angolanas. Todos os partidos que participam na campanha eleitoral fazem parte da ocupação de Cabinda contra a vontade do povo desta região", defende, alertando que "vamos boicotar essas eleições"."Olhem para Cabinda com humanidade"

Jean-Claude Nzita
Jean-Claude NzitaFoto: DW/J.-C. Nzita

Apesar desta complicada situação em Cabinda, o ativista Marcos Mavungo, deixa uma mensagem de esperança aos candidatos dos diferentes partidos na corrida eleitoral: "olhem para Cabinda com humanidade", apela, pois "o povo de Cabinda tem direito à sua identidade e auto-determinação".

Marcos Mavungo acredita não fazer sentido que os candidatos mudem as suas promessas para "discursos demagógicos depois da campanha eleitoral" e que passem a dizer que têm outras prioridades.

"Se o povo de Angola está independente, ninguém pode negar este direito ao povo de Cabinda. Nem José Eduardo dos Santos, nem Samakuva, nem Chivukuvuku", conclui o ativista.

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