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Severino Ngoenha: "MDM tem de se reestruturar"

Nádia Issufo
2 de julho de 2018

Analista Severino Ngoenha considera que partido de Daviz Simango tem como grande desafio reestruturar-se. O Movimento Democrático de Moçambique, a segunda maior força política da oposição, vive uma crise sem precedentes.

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Foto: Ismael Miquidade

Vários membros do MDM acusam a liderança do partido de falta de democracia e arrogância, entre outras coisas, e como resultado têm estado a abandonar a formação em massa. Na última sexta-feira (29.06) saíram do partido dez altos quadros do círculo eleitoral de Maputo, que se juntaram à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição.

Em entrevista à DW África, o analista moçambicano Severino Ngoenha analisa a situação do partido, estabelecendo comparações com outras formações políticas.

DW África: Como avalia a crise que o MDM está a viver?

Severino Ngoenha: "MDM tem de se reestruturar"

Severino Ngoenha (SN): Nós criamos democracia através de partidos políticos, que é o que a democracia contemporânea reza, ou parece rezar, mas esses partidos políticos têm dificuldade em ter democracia no próprio interior. E este problema não é intrínseco do MDM. Tivemos a mesma situação com o presidente Afonso Dhlakama, cuja morte criou uma quase paralisia do partido, digamos assim. Mas esta falta de democracia, de certa maneira, e de um debate livre de ideias também existe na FRELIMO. Então, o que me parece importante é que estamos com dificuldades em pensar os partidos políticos como formações políticas que têm uma linha política comum em termos de orientação, mas que têm sensibilidades diferentes ligadas à formação dos indivíduos, à própria sensibilidade, etc. Para mim, isto é uma chamada de atenção para a necessidade de um debate democrático muito mais vivo no interior dos próprios partidos políticos, não só no MDM, mas também na RENAMO e na própria FRELIMO.

DW África: Esta tensão pode desencadear o fim do MDM?

SN: Eu prefiro pensar que vamos passar por momentos difíceis na formação de partidos políticos, na sua organização, na sua democratização, no seu debate interno. A história da FRELIMO também mostrou isso. Esse processo de crescimento, de estabelecimento de uma família política coesa, ordenada, também passa por isso. Isso também se passou na RENAMO. Mas a força de um partido é capaz de ultrapassar esses momentos difíceis, de ir encontrando uma maneira de viver e que, espero, não seja de expulsão ou de exoneração daqueles que não pensam da mesma maneira, mas sim descobrir o modus vivendi democrático no interior do próprio partido, porque só partidos democráticos podem fazer a democracia.

DW África: A crescente crise pode fragilizar o MDM neste momento de eleições?

SN: E vai. É impossível que um partido que perca algumas das pessoas mais representativas, algumas pessoas que davam a cara pelo partido, e cujos próprios membros do partido que estão a sair - quer seja justo ou injusto, não é isso que interessa - escrevam mal do partido e acusem a direção do partido de tribalismo, de corrupção, etc., é impossível que isso não tenha corolário na opinião pública. Aquela paixão que o MDM suscitou há quatro, cinco, seis anos atrás, sobretudo na classe jovem e nos habitantes das cidades, é evidente que isso vai ter repercussões no plano eleitoral nas próximas eleições.

Mosambik Daviz Simango Bürgermeister von Beira
Daviz Simango, presidente do MDMFoto: DW/J. Beck

DW África: Alguns dos altos quadros que abandonaram o MDM acusam a direção do partido de ser arrogante. Caso o MDM não venha a mudar essa suposta postura, quais seriam as consequências para o partido?

SN: Não quero pensar que o MDM não seja suficientemente clarividente para dar-se conta do perigo que pode representar a saída em massa dos seus quadros e, sobretudo, a denúncia ao partido e os seus líderes da parte dos seus próprios quadros. E se a questão é arrogância, eu não vou chamar-lhe arrogância, vou antes dizer que estamos com dificuldades nos partidos de pensar na democracia interna. Um partido não pertence a ninguém, um partido não pertence a um grupo de indivíduos, é um espaço de debate onde pessoas com convergência de pensamento e de orientação política, filosófica e ideológica se conglomeram para juntos terem força para fazer valer as próprias ideias e opiniões. Mas essas pessoas não têm de pensar da mesma maneira, não são clones umas das outras, têm sensibilidades e históricos diferentes. E é exatamente essa sensibilidade, esse histórico, esse posicionamento que cria democracia interna, que é a riqueza que um partido pode ter. E essa riqueza pode trazer uma democracia mais rica e um debate nacional mais alargado. Por isso, não quero pensar que o MDM não vai ser capaz de ultrapassar essa fase, quero pensar que é um momento difícil para a vida política do partido e vai ser preciso repensar isso e tentar ver o que vão fazer para ultrapassar isso.

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