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Sudão do Sul é um dos "piores países para ser criança"

Isaac Mugabi | vct
6 de agosto de 2018

Depois de décadas de guerra no Sudão do Sul, educação, comida e segurança são necessidades difíceis de obter. Mesmo com ajuda internacional, fome extrema e subnutrição são a realidade de muitos.

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Mulheres e crianças em Terekeka, no Sudão do SulFoto: picture-alliance/AP/M. Quesada

Em dezembro de 2013, o país mais novo de África entrou em guerra civil. Para muitos sul-sudaneses que esperavam uma nova era, o novo capítulo do país acabou por traduzir-se na continuidade de décadas de conflito.

O Governo dividiu-se entre várias fações com dois principais rivais: o Presidente Salva Kiir e o líder rebelde Riek Machar, que nunca foram capazes de fazer um acordo para uma paz duradoura. Em julho de 2018, os dois líderes assinaram outro acordo para cessar-fogo e para partilhar de poder durante um Governo unitário de transição. O acordo final foi assinado este domingo (05.08), na capital do vizinho Sudão. Machar vai integrar o governo de unidade nacional e tornar-se primeiro vice-presidente. 

Milhares de pessoas foram mortas desde que rebentou o conflito e mais de um milhão fugiram do país. O vice-diretor das operações no Sudão do Sul da Organização Save the Children, Arshad Malik, falou com a DW sobre como as crianças têm sido afetadas pela crise.

 Gorom-Flüchtlingslager im Südsudan
Apesar das próprias dificuldades, o Sudão do sul acolhe ainda refugiados de países vizinhosFoto: DW/T. Marima

DW África: Pode contar-nos como é ser criança no Sudão do Sul hoje?

Arshad Malik: Sessenta e três por cento da população no Sudão do Sul enfrenta uma insegurança alimentar severa. Tem a ver com questões de proteção. Temos um grande número de crianças que são recrutadas para soldados armados, por todos os partidos. Até abril, 17 municípios eram classificados como IPC4, que é o termo técnico para um estado de pré-fome extrema. Entretanto, 34 munícipio entraram nesse estado. E isto acontece apesar de todos os programas humanitários a decorrerem no país. Cinquenta por cento de crianças com menos de 5 anos enfrenta uma situação de subnutrição e 45% da população encontra-se deslocada, sejam refugiados vindos de outros países ou cidadãos sul-sudaneses que estão deslocados. É um dos piores países para se ser criança. É esse o estado das coisas para uma criança no Sudão do Sul.

DW África: Como é que se chega às zonas onde estas crianças necessitam de ajuda?

Arshad Malik: O maior problema que enfrentamos tem a ver com infraestruturas. Noventa e cinco por cento da ajuda externa dependa de transporte aéreo. No ano passado, gastamos 10% do orçamento total em transporte aéreo. Não há estradas. O impacto das estações do ano nas estradas é muito grande. É muito difícil chegar a essas áreas. Claro que depois há áreas com conflitos a acontecer, também é um desafio: algumas áreas não são acessíveis por questões de segurança.

DW África: No ano passado, o Presidente Salva Kiir prometeu que o seu Governo iria ajudar todas as organizações de ajuda humanitária a chegarem às pessoas em situação de vulnerabilidade. Isso cumpriu-se?

Arshad Malik: A capacidade que o Governo tem neste momento e as infraestruturas têm um impacto. Assim como a questão do desemprego e da situação económica. A libra sul-sudanesa depreciou muito. Em dezembro de 2017 eram precisas 182 libras sul-sudanesas para comprar um dólar, em julho deste ano já são precisas 330. Estou a falar do mercado aberto, não da taxa de câmbio oficial do banco, que é mais estável. Mas isto tem um impacto negativo na crise alimentar. Se a promessa foi cumprida? Direi que houve um esforço sincero da parta da Comissão de Socorro e reabilitação do Governo, é o braço governamental que coordena a generalidade das operações organizações humanitárias nos países. Houve um esforço sincero.

Südsudan - Freilassung von Kindersoldaten
Muitos grupos armados, de diferentes lado da guerra, usam crianças-soldado Foto: Getty Images/AFP/S. Glinski

DW África: De quanto financiamento precisam e de onde vem o dinheiro?

Arshad Malik: É difícil dar um número. Posso falar do apelo consolidado enviado pela ONU. Para educação, são necessários 51 milhões de euros, para os serviços básicos de educação. Para segurança alimentar e meios de subsistência são precisos cerca de 23 milhões de euros. E nutrição e saúde é mais ou menos igual. Para já, temos cerca de 24 milhões de euros de financiamento confirmado para esta no. No entanto, devido a altos custos operacionais, este dinheiro não é suficiente para os serviços essenciais. E todas as organizações humanitárias no Sudão do sul enfrentam o mesmo problema

DW África: Acha que a situação vai melhorar?

Arshad Malik: O Sudão do Sul é negligenciado, a maior parte das atenções estão voltadas para a Síria e para o Iémen porque recebem muita atenção mediática. É um problema complexo para a comunidade europeia. Querem conter o fluxo de refugiados para a Europa, por isso investem mais na Síria e no Iémen. O Sudão do Sul não representa tanto uma ameaça para a comunidade europeia e o mundo ocidental. Há sinais de que há menos doações. Tudo isso terá um impacto negativo nas crianças do Sudão do Sul. Neste momento, o Governo não tem capacidade, até que se assine o acordo de paz e a situação acalme, o que vai levar tempo. Esse momento entre o processo de paz e a capacidade efetiva do governo garantir os serviços principais aos cidadãos é crítica, e é aí que a comunidade internacional precisa de continuar apoiar o Governo e as pessoas do Sudão do Sul. 

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