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Tartarugas ameaçadas em Cabo Verde

9 de dezembro de 2011

No mundo existem sete espécies de tartarugas marinhas, todas ameaçadas ou em vias de extinção. Em Cabo Verde podem encontrar-se cinco delas, na ilha da Boavista a organização alemã Turtle Foundation tenta protegê-las.

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Tartaruga caretta-caretta ou comum, também chamada amarela, é a espécie que se encontra mais nas águas de Cabo VerdeFoto: DW

Nas águas das praias cabo-verdianas podem encontrar-se as seguintes espécies de tartarugas: a tartaruga comum ou amarela, que é a espécie mais frequente nas águas de Cabo Verde, a tartaruga verde ou cágeda, a tartaruga olivácea ou parda, a tartaruga de pente (também chamada tartaruga bico de falcão) e a tartaruga de couro.

Numa visita ao acampamento de voluntários da Turtle Foundation - ou Fundação Tartaruga - na praia de Lacacão em Boavista, Cabo Verde, a Deutsche Welle teve a oportunidade de acompanhar os voluntários numa das suas patrulhas noturnas.

Tartaruga à vista

Às dez horas da noite, três voluntários fazem-se ao caminho da praia do Curral Velho para ver se encontram tartarugas marinhas a desovar na areia da praia. Está escuro e ventoso, no acampamento da organização alemã Turtle Foundation, que desde 2008 se dedica à proteção de tartarugas marinhas em Cabo Verde, mas isso não intimida os voluntários.

Cerca de 30 minutos depois de chegarmos ao nosso destino, a praia do Curral Velho, vemos uma tartaruga. Dois dos voluntários começam a andar mais rápido mas silenciosamente para não perturbar a tartaruga. Minutos depois, Paola Chesi, a chefe da patrulha vem ter connosco e diz-nos que "a tartaruga está a pôr os ovos".

A desova

Kap Verde Turtle Foundation Miguel
Miguel Évora Lima é voluntário da Turtle Foundation e observa uma tartaruga na hora da desova, durante uma patrulha nocturnaFoto: DW

Paola e os seus colegas têm de trabalhar rápido, enquanto a tartaruga põe os ovos. A chefe da partulha tira em primeiro lugar amostras de tecido da pele da tartaruga para a pesquisa de colegas do acampamento "porque é uma operação rápida".

Outras operações, como a marcação da tartaruga com um chip, são feitas durante a camuflagem, ou seja, enquanto a tartaruga cobre o ninho com a areia da praia.

Cada fêmea pode fazer várias desovas, e entre 56 e 70 dias depois nascem os bebés das tartarugas, que imediatamente se dirigem para o mar. Entre 20 a 30 anos depois, as fêmeas sobreviventes voltam à mesma praia onde nasceram para desovar.

O período da desova começa em Junho e termina em Outubro. Durante estes meses, os voluntários da Turtle Foundation patrulham as praias porque as tartarugas estão mais vulneráveis quando saem do mar para por os ovos.

Nem tudo são rosas

Miguel Évora Lima tem 21 anos e é da ilha de Santo Antão. Ele começou a trabalhar com a Turtle Foundation como militar, para proteger os voluntários e o acampamento. Agora voltou como voluntário da organização ambiental.

Miguel explica que, por vezes, as tartarugas fazem várias tentativas para voltar para o mar e não conseguem, pois desorientam-se. E desta vez foi precisamente isso que aconteceu.

A voluntária italiana, diz que as luzes do enorme hotel na praia do Lacacão, que ficam acesas durante toda a noite, podem ter levado à desorientação da tartaruga. Paola fica, por isso, com a tartaruga até ela entrar no mar em segurança.

O trabalho com os locais

Miguel e eu voltamos para o acampamento mais cedo, porque o dia seguinte começa às cinco e trinta da amanhã para ele.

Kap Verde Turtle Foundation
Christian Roder (com cão) e Amanda Dutra (terceira da esq.) com um grupo de voluntáriosFoto: DW

Será um dia especial para Miguel porque vai aprender a fazer o censo, ou seja, a contagem de atividades na praia. Desde a contagem de ninhos à contagem de rastos, ou marcas deixadas por tartarugas na areia durante a noite, para fins estatísticos.

“É importante que os locais ajudem porque eles é que vivem aqui. E assim também temos locais a falar com locais o que é bom para a proteção das tartarugas.”, afirma Alex Couprie, o jovem voluntário francês de 19 anos que ensina Miguel a fazer o censo.

Desafios a ultrapassar

O principal objetivo da organização é, como explica Christian Roder, o diretor do projecto da Turtle Foundation em Cabo Verde, que, "a longo prazo", as patrulhas deixem de ser necessárias. E que os locais entendam que podem lucrar mais se as tartarugas estiverem vivas e que não precisam de matá-las.

As tartarugas são, na realidade, só uma fonte de rendimento extra, segundo o jovem ativista alemão, que desde 2008 gere as actividades da Turtle Foundation em Cabo Verde.

Amanda Dutra é a coordenadora do acampamento e aponta outra ameaça que as tartarugas enfrentam: "Um dos problemas mais recentes e que tem um potencial de se tornar ainda mais sério é a questão do desenvolvimento turístico. Nós temos um hotel enorme numa praia muito importante para a desova e isto é só o começo. Há planos para desenvolver o turismo aqui com campos de golfe e áreas residenciais e muito mais."

Mudança de comportamentos

Segundo Amanda Dutra este é um grande problema nas ilhas de Cabo Verde porque ainda não há uma grande consciência no que diz respeito à proteção das tartarugas. No entanto, Christian Roder diz que as coisas estão a mudar em Boavista através da abordagem da organização.

Kap Verde Turtle Foundation Schild
Miguel Évora Lima começou como segurança dos voluntários na Fundação e hoje é voluntárioFoto: DW

"Isto significa que a fundação é vista como parte da sociedade que é bem vinda. E não somos vistos como alguém que está a tirar uma fonte de rendimento à comunidade", conclui Christian.

Pequenas conquistas

E entretanto, a organização ambiental também já ganhou parceiros locais. A Turtle Foundation está a trabalhar com uma associação de Pescadores (na praia da Varandinha). Os pescadores decidiram deixar de apanhar tartarugas e em troca a Turtle Foundation dá-lhes apoio financeiro. Amanda Dutra, a coordenadora do acampamento em Lacacão, está claramente entusiasmada com esta decisão.

Mas Christian Roder, o diretor do projeto sabe que ainda há um longo caminho a percorrer e diz que "é muito difícil saber até que ponto o comportamento das pessoas mudou."

Mas ele também afirma que alguns questionários feitos pela organização na comunidade mostram que a mensagem tem chegado às gerações mais jovens.

Miguel, o voluntário que começou por trabalhar com a Turtle Foundation como militar é prova disso. Para ele está claro porque se deve proteger as tartarugas marinhas: "As tartarugas vivem nos oceanos há mais de 100 milhões de anos, não há interesse em extinguir uma espécie que nós já encontrámos aqui."

Autora: Carla Fernandes
Ediçao: Johannes Beck