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Tensão continua na véspera do referendo constitucional no Egito

14 de dezembro de 2012

Manifestações pró e contra o projeto de Constituição continuaram nas ruas de várias cidades egípcias nesta sexta-feira (14.12), um dia antes do controverso referendo popular.

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Protesto no Egito contra o projeto de constituiçãoFoto: Reuters

Na véspera do controverso referendo que deverá aprovar - ou não - a nova Lei Fundamental do Egito, manifestantes pró e contra o novo projeto de Constituição saíram, novamente para as ruas do país. 

Na segunda maior cidade egípcia, Alexandria, partidários e adversários do presidente Mohamed Morsi entraram em confronto. Dezenas de pessoas se combatiam com golpes de catanas e bastões, além de jogarem pedras umas nas outras. Vários automóveis foram incendiados.

A capital, Cairo, e outras grandes cidades do país foram palco, nas últimas três semanas, de violências. Pelo menos oito pessoas morreram e centenas ficaram feridas. A tensão contínua no Egito evidencia a crise política mais grave no país desde a queda, em fevereiro de 2011, do ex-presidente Hosni Mubarak, no âmbito dos movimentos de protesto conhecidos como Primavera Árabe.

Referendo controverso: o "sim" vencerá?

O catalisador da crise egípcia é o referendo constitucional que terá lugar neste sábado (15.12) e também na próxima semana (22.12). Os eleitores deverão se pronunciar a favor ou contra a Lei Fundamental, redigida por uma Assembleia constituinte dominada por islamitas. Desde quarta-feira (12.12), egípcios vivendo no exterior já votam o texto da nova Constituição.

Desde quarta-feira (12.12) egípcios que vivem no estrangeiro começaram a votar o texto da nova Constituição
Desde quarta-feira (12.12) egípcios que vivem no estrangeiro começaram a votar o texto da nova ConstituiçãoFoto: picture alliance/dpa

A entrada em vigor do texto antecederá a realização de eleições legislativas que poderiam acontecer em 2013.

A proposta causa polêmica porque foi redigido por uma Assembleia constituinte dominada por islamitas. Entre outros, o texto retoma a formulação do antigo texto constitucional, que prevê que os princípios da charia (lei islâmica) "são a principal base da legislação". Por isso, a oposição teme uma islamização excessiva do governo chefiado pelo presidente Mohamed Morsi, o primeiro presidente civil – e muçulmano, já que é ex-membro da Irmandade Muçulmana – do Egito. Por outro lado, de acordo com o texto, a charia não seria a única base do direito egípcio. E o governo diz que a nova Lei Fundamental deverá dotar o país de um "quadro institucional estável".

Observadores esperam que a maior parte dos eleitores vote a favor da Constituição – já que os islamitas estariam sabendo usar o fato de grande parte dos egípcios ser religiosa, mas pobre e sem instrução, aceitando assim a nova Lei Fundamental como "lei divina".

A nova Constituição nas ruas

Em Imbaba, um bairro pobre da capital, Cairo, a vendedora de jornais Umm Mohamed também vende pequenos livros – trata-se da nova Constituição. Umm Mohamed está feliz porque os egípcios, segundo ela, estão comprando os livros para entender o motivo do debate no Egito. Por outro lado, a vendedora é analfabeta e faz parte dos 40% da população do país que é iletrada. Quando for votar no referendo, no sábado (15.12), Umm Mohamed terá de se apoiar nos símbolos e nas cores disponíveis nas cédulas de votação e que tencionam ajudar na decisão.

Manifestações pró e contra o projeto de Constituição sairam às ruas de várias cidades egípcias nas últimas semanas
Manifestações pró e contra o projeto de Constituição sairam às ruas de várias cidades egípcias nas últimas semanasFoto: Marco Longari/AFP/Getty Images

"É claro que vou votar 'sim', para que o país melhore de uma vez. Mohamed Morsi é um homem bom. Ele sabe o que o Islã significa. Seus opositores apenas espalham boatos, querem causar confusão. Mas nós sabemos que Morsi tem boa intenção", destaca Umm Mohamed.

Poucos egípcios que vivem em Imbaba – um bastião islamita – são contra a nova Constituição. Entre eles, está um médico que não se identificou aos microfones da DW África. Mas ele diz que a charia é uma coisa e o Islã, outra: "A pobreza aqui é muito grande e, se os islamitas vêm e dizem às pessoas para votarem 'sim' porque é isso que o Islã quer, é uma situação muito ruim. Mas é exatamente esta a estratégia dos islamitas. Se você der um chocolate, um quilo de açúcar, um quilo de manteiga para as pessoas, é claro que elas vão votar 'sim'. Isso é normal em todo o Egito".

Autora: Renate Krieger/AFP/Reuters / Cornelia Wegerhoff (Cairo)
Edição: António Rocha

Tensão continua na véspera do referendo constitucional no Egito