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PolíticaEstados Unidos

Debate Trump vs. Biden: Factos e ficção

Rob Mudge | Uta Steinwehr | Joscha Weber
30 de setembro de 2020

O Presidente dos EUA, Donald Trump, e o candidato democrata, Joe Biden, trocaram insultos e acusações num primeiro frente a frente caótico rumo às eleições presidenciais de novembro. A DW verifica os factos.

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Foto: Brian Snyder/Reuters

1. Os impostos de Trump

Moderador: "Diga-nos, quanto pagou em impostos federais em 2016 e 2017?"
Trump: "Milhões de dólares."
Moderador: "Pagou milhões de dólares, não 750?"
Trump: "Milhões de dólares e vocês vão ver."

As declarações fiscais de Donald Trump dão que falar desde a última campanha eleitoral, há quatro anos, uma vez que o Presidente norte-americano se recusa a divulgá-las - algo que é uma prática comum entre presidentes e candidatos presidenciais nos Estados Unidos da América.

No domingo (27.09), o New York Times revelou que Trump pagou apenas 750 dólares em impostos federais sobre o rendimento em 2016 e 2017. Em comparação, segundo o Gabinete de Orçamento do Congresso, uma família de classe média pagou, em média, 2.200 dólares em impostos sobre o rendimento em 2016.

De acordo com os registos de quase duas décadas a que o New York Times teve acesso, Trump não pagou qualquer imposto federal sobre o rendimento em 11 anos. O Presidente pagou outros impostos - e é a isso a que se refere na sua resposta. Mas responde incorretamente à pergunta específica do moderador.

2.   Covid-19: Mortalidade por etnia

Biden: "Um em cada mil afro-americanos perdeu a vida devido ao coronavírus. E se ele não fizer algo rapidamente, um em cada 500 afro-americanos vai morrer até ao final do ano."

Facto: as taxas de mortalidade variam consoante a etnia. De acordo com os dados do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, em números absolutos, há mais brancos a morrer com Covid-19. No entanto, em termos percentuais, os afro-americanos sofrem mais com a pandemia.

Até agora, um em cada 1.020 negros norte-americanos morreu devido à infeção - 98 mortes por cada 100 mil pessoas. No caso dos norte-americanos brancos, um em cada 2.150 morreu com Covid-19 - 47 mortes por cada 100 mil pessoas.

O que os africanos pensam sobre Donald Trump?

Por outras palavras, os afro-americanos têm o dobro da probabilidade de morrer da infeção pelo novo coronavírus dos que os brancos. Portanto, a primeira parte da declaração de Joe Biden é verdadeira e há indícios de que a tendência vai manter-se. No entanto, não é possível provar se a previsão de Biden de um aumento da taxa de mortalidade para 1 em 500 na população negra está correta.

3.   Fraude eleitoral

Trump: "Encontraram [boletins de voto] em riachos. Alguns com o nome Trump, no lixo. (...) Foram enviados mil boletins de voto duplos para uma zona democrata. Isto será uma fraude como nunca se viu antes. Vejam a Virgínia Ocidental, onde um carteiro vendia boletins de voto."

O Presidente norte-americano tem afirmado repetidamente nas últimas semanas que o voto por correspondência dá aso a manipulação e deu os exemplos acima citados no debate televisivo desta terça-feira (29.09).

Trump está parcialmente certo. De facto, foram encontradas três caixas de transporte dos correios numa vala em Wisconsin. De acordo com uma declaração do Serviço Postal norte-americano, entre as cartas estavam também boletins de voto por correspondência, mas não é claro quantos boletins foram encontrados e se já tinham sido preenchidos. No estado da Pensilvânia, foram encontradas nove urnas de voto no lixo, segundo o Departamento de Justiça.

Na Virgínia Ocidental, um carteiro foi acusado de fraude eleitoral em maio depois de ter alterado o voto de democrata para republicano em cinco boletins, mas não vendeu quaisquer documentos.

A terceira acusação é verdadeira: no estado da Virgínia, de acordo com as autoridades, até mil pessoas podem ter recebido dois boletins de voto. Segundo o diretor do gabinete eleitoral, no entanto, as pessoas em causa não podem votar duas vezes, uma vez que é feita uma nota no caderno eleitoral.

O facto é que existem irregularidades isoladas - mas Trump não fornece qualquer prova de fraude em grande escala. Nem sempre se cinge aos factos ou omite o contexto que os relativiza.

Symbolfoto I Briefwahlen in den USA
Por causa da pandemia do novo coronavírus, prevê-se um aumento significativo do número de votos por correspondência nos EUAFoto: picture-alliance/AP/N. Harnik

4.   Economia e emprego

Trump: "Tive de paralisar a melhor economia da história do nosso país [durante a pandemia]. Agora, está a ser reconstruída."

Falso: A economia da era Trump não tem tido um desempenho tão bom como nas presidências de Dwight D. Eisenhower, Lyndon B. Johnson e Bill Clinton.

Durante o mandato de Trump, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,3% em 2019, 2,9% em 2018 e 2,4%  em 2017. Anteriormente, porém, em 1997, 1998 e 1999, o PIB cresceu 4,5% e 4,7%, respetivamente.

Se recuarmos ainda mais, a diferença torna-se mais clara: o crescimento entre 1962 e 1966 foi entre 4,4 e 6,6 por cento. Nos anos do pós-Guerra de 1950 e 1951 foi de 8,7% e 8%, respetivamente.

A taxa de desemprego atingiu um mínimo de 3,5% no mandato de Trump. Em 1953, chegou aos 2,5%.

Biden: Trump será "o primeiro Presidente dos EUA com menos postos de trabalho no final do seu mandato do que quando tomou posse."

Falso: Se Trump falhar a reeleição, não será o primeiro Presidente que perdeu postos de trabalho. Isto aconteceu na Presidência de Herbert Hover, que perdeu as eleições em 1932 contra Franklin D. Roosevelt, numa altura em que a crise económica global tinha levado a elevadíssimas taxas de desemprego.

As estatísticas oficiais, no entanto, só remontam a 1939. E nenhum presidente deixou desde então a Casa Branca com menos empregos do que quando tomou posse.

5.   Meio ambiente

Trump: "Eu quero água e ar cristalinos. Quero um maravilhoso ar limpo. Temos o carbono mais baixo. Se olharmos para os nossos números, estamos fenomenais."

A afirmação é, no mínimo, enganadora. O Governo de Trump não é conhecido por pôr o meio ambiente em primeiro lugar. Os EUA abandonaram o Acordo do Clima de Paris em 2019 e reverteram (ou estão em vias de reverter) 100 regras ambientais. Trump diz que quer ar puro, mas suavizou algumas das regras da Lei do Ar Limpo.

E quando diz carbono, não é claro a que se refere. É verdade que os Estados Unidos reduziram as suas emissões de dióxido de carbono mais do que qualquer outro país, se olharmos para os números da Agência Internacional de Energia (AIE). Mas os EUA estão longe de ter as mais baixas emissões de CO2 per capita. De acordo com o Banco Mundial e a organização científica UCS, os EUA estão no grupo de países com as maiores emissões per capita.