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"Um civil desarmado vai fazer um golpe de Estado?"

Nelson Sul D'Angola (Benguela)24 de junho de 2015

A questão é colocada pela mãe de Nito Alves, um dos ativistas detidos desde sábado em Angola. Um grupo de cidadãos pede a libertação imediata dos ativistas. Caso contrário, planeia-se a realização de um protesto.

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Ativista angolano Nito Alves (foto de arquivo)Foto: Maka Angola

O Governo do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, poderá enfrentar uma manifestação em grande escala se as autoridades não libertarem imediatamente os ativistas detidos no sábado (20.06) por alegado incitamento à rebelião - o aviso é de Emílio Catumbela, um dos ativistas do Movimento Revolucionário que escapou à detenção.

"Vamos mandar uma carta à Procuradoria-Geral da República para a libertação imediata [dos ativistas]. Se eles não os libertarem, vamos utilizar o artigo 47 da Constituição da República de Angola", diz Catumbela. Nesse artigo, garante-se a todos os cidadãos a liberdade de reunião e de manifestação pacífica, sem necessidade de qualquer autorização, bastando apenas informar as autoridades.

Nito Alves, Luaty Beirão e Domingos da Cruz interrogados

Na tarde desta terça-feira (23.06), três dos cerca de vinte ativistas detidos na capital angolana começaram a ser interrogados por um procurador afeto ao Serviço de Investigação Criminal (SIC). Foram ouvidos Nito Alves, Luaty Beirão e o jornalista Domingos da Cruz, autor do livro ''Ferramentas Para Destruir o Ditador e Evitar uma Nova Ditadura''.

"Um civil desarmado vai fazer um golpe de Estado?"

Enquanto decorria o interrogatório, vários ativistas e familiares dos jovens detidos concentraram-se frente às instalações do SIC perante a vigilância de dezenas de agentes da Polícia de Intervenção Rápida e dos serviços secretos.

Entre os presentes esteve a mãe de Nito Alves, Adália Chivonde, que acusou o Presidente José Eduardo dos Santos de orquestrar manobras políticas para incriminar os ativistas e instalar o medo no seio da população.

"Um civil, sem arma, vai fazer um golpe de Estado?", questionou.

Adália Chivonde denunciou que ainda não esteve com o seu filho desde que ele foi detido.

"O meu filho entrou no sábado e, até hoje, não o vi. Esta terça-feira, passámos lá todo o dia e não o vimos. Enquanto isso, estávamos a ser controlados, com carros atrás de nós, como se fôssemos gatunos."

Mbanza Hamza
Ativista Mbanza HamzaFoto: privat

"Quem não deve, não teme"

A mãe do ativista Mbanza Hanza também se mostrou revoltada com a situação.

"Quem não deve, não teme. Se é um Presidente, vai ter medo de uma criança que está a estudar simplesmente um livro?", perguntou Leonor João.

"[Os agentes] foram a minha casa, levaram os meus computadores e os meus telefones. Levaram tudo, até subiram ao telhado. Não há armas em minha casa. Nem o Mbanza, nem eu temos armas. Um golpe de Estado começa com generais. O Mbanza e o Nito nunca foram militares. Meus Deus, eles são estudantes, são crianças."