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Um "pacifista" alemão luta pela estabilidade na RDC

Dirke Köpp / AFP / RTR / Lusa30 de dezembro de 2013

Um alemão chefia a missão de paz da ONU na RDC. O trabalho da missão não é fácil. A instabilidade transborda as fronteiras da região leste do país. Kinshasa acordou ao som de tiros. Jornalistas foram feitos reféns.

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Foto: Dirke Köpp

As ruas do centro de Kinshasa ficaram desertas. Na manhã desta segunda-feira (30.12), ouviram-se disparos em vários pontos da capital congolesa, incluindo no aeroporto e num complexo militar. Vários jornalistas da televisão pública da República Democrática do Congo (RDC) foram feitos reféns por homens armados com catanas e armas automáticas, segundo relatos das agências de notícias internacionais.

Entretanto, o Governo congolês já garantiu ter a situação sob controlo. Os jornalistas foram libertados. 40 atacantes morreram nos confrontos com as forças de segurança, disse o porta-voz governamental, Lambert Mende.

Faida Muganga, jornalista da televisão pública, disse à DW África que os sequestradores afirmaram ser leais ao chefe religioso Joseph Mukungubila Mutombo, um dos concorrentes do actual Presidente, Joseph Kabila, nas presidenciais de 2006.

"Os assaltantes terão afirmado que o padre Mukungubila enviou as suas pessoas para salvar o país", contou Faida Muganga. O Governo diz que está a tentar confirmar essa informação.

Unruhen in Kinshasa Kongo
Militares foram para as ruas de KinshasaFoto: Reuters

Mukungubila é um crítico aberto do Governo de Kabila, tendo acusado Kinshasa de ceder aos interesses tutsis e à pressão do Ruanda quando assinou um acordo de paz com os rebeldes tutsis do M23, no início de dezembro. O grupo rebelde foi derrotado em novembro, no leste do Congo, pelo exército governamental, com a ajuda da missão de estabilização das Nações Unidas no país, a MONUSCO.

Estabilidade é tarefa difícil

Os tiroteios em Kinshasa exemplificam mais uma vez que alcançar a estabilidade na República Democrática do Congo não é tarefa fácil. No leste do país, os conflitos duram há quase duas décadas. A região é rica em recursos minerais.

O diplomata alemão Martin Kobler chefia a MONUSCO desde agosto. Esta é a maior de todas as missões de paz da ONU, contando com cerca de 21 mil capacetes azuis.

A MONUSCO começou o seu trabalho de estabilização há 14 anos, mas os efeitos são muito reduzidos. A reputação dos soldados da paz também é reduzida, mas tende a melhorar, pois a MONUSCO dispõe há quatro meses de uma Brigada de Intervenção de 3 mil homens, altamente equipada, com um mandato robusto e com um novo chefe: Martin Kobler.

O "pacifista"

Martin Kobler Chef der UNO-Mission Kongo
Martin Kobler, chefe da missão da ONU na RDCFoto: Dirke Köpp

Quando chegou, o diplomata alemão transmitiu uma mensagem clara aos rebeldes: "Quem não entregar as armas e renunciar à violência será combatido pelas forças da ONU!"

Kobler define-se a si próprio como um "pacifista". Mas há dois temas em que, segundo ele, não há compromissos possíveis.

"O recurso a crianças, como soldados é uma atrocidade que não podemos aceitar. O mesmo se pode dizer de violações sistemáticas de mulheres", diz o chefe da MONUSCO. "Quem comete esse tipo de crime tem que ser castigado. E é isso que vamos fazer, aplicando todas as medidas que o nosso mandato nos permite. Vamos, pois agir e reagir militarmente, sempre que seja necessário."

"Há sempre uma solução"

Martin Kobler nasceu há 60 anos na cidade alemã de Estugarda. Depois de estudar Direito e Letras na Alemanha e na Indonésia, ingressou nos serviços diplomáticos. Trabalhou no Egito, na Índia, nos Territórios Palestinianos, na Bósnia, no Iraque e no Afeganistão.

Até que, há quatro meses, foi nomeado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, como enviado especial para o Congo e chefe da MONUSCO.

"Em princípio sou uma pessoa otimista", diz Kobler. "A minha opinião é a seguinte: Não existe problema para o qual não haja solução."

Até à data, o seu maior êxito à frente da MONUSCO foi a vitória militar, em novembro, contra o M23.

"Temos que ser mais ativos. Temos que agir mais, em vez de reagir apenas. Não adianta reagir apenas depois de terem morrido muitas pessoas", afirma Kobler. "É preciso que mostremos presença no terreno, antes que as atrocidades aconteçam. Ao mesmo tempo é necessário responsabilizar e castigar os autores de crimes e atrocidades."

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Apesar de ser otimista, o diplomata alemão é simultaneamente realista. Martin Kobler sabe que ainda há um longo caminho a percorrer.