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Desporto

União Berlim estreia-se na primeira liga alemã

Janek Speight | bd | gcs
28 de maio de 2019

A União Berlim garantiu pela primeira vez um lugar na Bundesliga. A capital da Alemanha passa a ter duas equipas na primeira liga alemã. E agora? O clube quer proporcionar aos adeptos uma experiência única no estádio.

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Foto: Getty Images/AFP/J. MacDougall

"Scheisse, wir steigen auf!" - era a frase que estava há duas épocas numa faixa de adeptos da União Berlim, em letras garrafais: "bolas (para usar uma palavra menos forte em português), vamos subir!"

Mas o que foi na altura uma brincadeira, por o clube estar na segunda posição a 10 jogos do fim da época, tornou-se agora realidade. Nesta época, ficou em terceiro lugar e jogou o play-off contra o Estugarda, antepenúltimo lugar na primeira liga. E depois de um empate a duas bolas na primeira mão, a equipa do luso-guineense Carlos Mané manteve o sangue frio na segunda mão e conseguiu um empate a 0 bolas. Está agora pela primeira vez na Bundesliga. Será o segundo clube da capital alemã na primeira liga, para além do Hertha de Berlim, o clube que tradicionalmente dominava o futebol em Berlim-Ocidental.

É território novo para a União Berlim (em alemão "Union Berlin"), mas o clube deverá proporcionar aos adeptos uma experiência única, porque foge às tendências do futebol moderno.

Um clube diferente

A União Berlim sempre foi um pouco diferente e um pouco estranha. O clube foi fundado, no seu formato atual, em 1966. Era o arqui-inimigo do Dínamo de Berlim, o maior clube de Berlim-Leste, tido como joguete de Erich Mielke, antigo chefe da Stasi, a polícia secreta da Alemanha de Leste, que venceu 10 títulos consecutivos na ex-RDA (República Democrática da Alemanha) entre 1979 e 1989.

Mas a União Berlim foi sempre "segundo-violino"; nunca conseguiu mais do que um sétimo lugar, ziguezagueando entre divisões. E, embora o clube fosse um dos 11 clubes de futebol financiados pelo regime da antiga Alemanha de Leste, as suas origens remontam a muito antes da formação da RDA, em 1949, tendo sempre atraído um tipo diferente de adeptos.

Fußball Union Berlin vs FC Ingolstadt 04
Na fotografia, a mascote da União Berlim com os jogadoresFoto: Getty Images/Bongarts/M. Kern

O clube ficou conhecido por ter uma base de adeptos anti-sistema. Dissidentes do regime comunista sentiam-se à vontade para ventilar críticas ao sistema, protegidos pelo anonimato da multidão e pela rivalidade com o Dínamo de Berlim.

"Havia um lado político, claro, porque o Dínamo estava ligado à Stasi, que era indesejada por muita gente", diz Christian Arbeit, porta-voz e adepto de longa data da União Berlim, em entrevista à DW.

"Mas, primeiro que tudo, era uma rivalidade futebolística. Era um lugar de uma cultura diferente. Era um lugar de individualidade e liberdade", acrescenta.

Os adeptos ajudaram

A União Berlim passou grande parte dos 20 anos seguintes no quarto escalão. O ponto de viragem foi a chegada do presidente Dirk Zingler em 2004, comenta Sebastian Fiebrig, autor do blogue de adeptos "Textilvergehen".

"Muitas vezes, eram os adeptos que tinham de impulsionar o clube, mas com a chegada de Dirk Zingler, o clube começou a puxar para o mesmo lado dos adeptos", afirma Fiebrig.

Sob a liderança de Zingler, a União Berlim tornou-se mais estável e conseguiu passar para a segunda divisão, mantendo-se aí durante uma década.

Os adeptos ajudaram. Voluntários dedicaram mais de 140.000 horas a restaurar as bancadas do estádio, para que o clube obtivesse a licença da liga em 2008. Quatro anos antes, os adeptos fizeram doações para ajudar a salvar o clube da bancarrota.

Fußball | Union Berlin
O estádio da União Berlim, o "Stadion An der Alten Försterei"Foto: imago/Camera 4

Agora, a União Berlim quer aumentar o número de lugares no estádio, de 22 mil para 37 mil - incluindo mais 8.000 lugares em pé, como manda a tradição do clube.

"A nossa identidade não significa que não façamos negócio. É claro que fazemos, é futebol", diz Fiebrig. "Temos patrocinadores para pagar aos jogadores e fazemos negócio, não conseguimos sobreviver de outra forma."

Uma experiência única

Quem já foi ao estádio da União Berlim, o "Stadion An der Alten Försterei", costuma dizer bem da experiência. Em dias de jogo, o bairro onde fica o estádio, Köpenick, habitualmente calmo, transforma-se com a energia dos adeptos.

"Em dias de jogo, o que conta é o futebol. E o clube faz questão de que os adeptos só experienciem futebol", afirma Fiebrig.

Ou seja, não há espetáculos nos intervalos dos jogos, não há música para festejar os golos, não há espetáculos de luz, nem sinos, nem apitos - só uma experiência tradicional de futebol, sem as armadilhas do futebol moderno. E tudo num estádio que remonta a uma era que já passou.

"O que se sente no estádio é algo diferente", refere Arbeit. "É futebol puro".

E o resultado não é apenas um clube, acrescenta Fiebrig: "A União é como uma família. Acho que todos os clubes dizem isto, mas a União é diferente. Podemos ser uma boa influência na Bundesliga".

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