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Wole Soyinka muito preocupado com o futuro da Nigéria

Jan-Philipp Scholz / António Cascais18 de março de 2015

Wole Soyinka: a literatura é asua profissão e paixão. Mas, com eleições à porta na Nigéria, Wole Soyinka não se inibe de falar sobre política, mais precisamente sobre o momento difícil que o seu país atravessa.

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Wole Soyinka, escritor nigerianoFoto: imago/Gallo Images

Uma das feridas abertas é ainda o caso do sequestro - por parte do grupo islamista Boko Haram - de mais de 200 meninas de uma escola, no norte do país, em abril do ano passado.

Em entrevista exclusiva à DW África, Wole Soyinka comentou o caso: “A Nigéria corre o sério risco de se tornar um Estado falhado, e está muito perto de se tornar, de facto, num Estado falhado. Perdi a esperança de podermos recuperar a maior parte das meninas sequestradas. Trata-se de um crime hediondo, uma vergonha nacional.”

Fontes do exército nigeriano divulgaram, nos últimos dias, notícias segundo as quais os militares nigerianos teriam conseguido recuperar territórios ocupados pelos homens do Boko Haram.

Fim do Boko Haram não é para já

Buchcover : Wole Soyinka - Die Ausleger
Wole Soyinka foi Prémio Nobel da Literatura em 1986Foto: Odeon

Representa isso o princípio do fim para o grupo terrorista? O Prémio Nobel da Literatura responde: “Vai ser preciso muito tempo, anos talvez, para se conseguir aniquilar essa organização terrorista. Vai demorar talvez mais de uma geração, porque o Boko Haram está enraizado na sociedade e não só na Nigéria. O Governo deveria ter combatido politicamente essa organização, logo desde o início, em vez de atuar tardiamente e com a força militar. É essa a maior crítica que faço ao Governo do Presidente Jonathan.”

Soyinka nasceu em 1934 no seio de uma família cristã da etnia Yoruba, em Abeokuta, a cerca de 200 km de Lagos. Nos anos 50 estudou literatura inglesa na Grã Bretanha, começando então a escrever e publicar poemas.

Wole Soyinka é consirado um pan-africanista. Enraizado na cultura yoruba, nunca deixou de olhar para o resto do continente africano. Prova disso é o facto de ter dedicado muitos dos seus poemas a países como o Zimbabué ou Moçambique.

Soyinka denuncia preparação de golpe militar

Wole Soyinka
Wole Soyinka é também dramaturgoFoto: imago/gezett

As suas atenções, nestes dias, estão no entanto viradas para o seu próprio país, que está mergulhado numa onda de violência e que por isso enfrenta dificuldades na organização das próximas eleições. O escrutínio - recorde-se - foi adiado, devido à falta de segurança no país, para o dia 28 de março. O Presidente Goodluck Jonathan, um cristão do sul, luta pela releição. Muhammadu Buhari, um muçulmano do norte, é o seu maior rival.

Para Wole Soyinka “este Governo de Goodluck Jonathan falhou redondamente, mas o candidato da oposição – Bouhari – também tem um historial nada famoso. Estamos longe de podermos dizer: Ah, ele é a solução, ele é que vai mudar tudo para melhor! Atualmente estão a acontecer muitas coisas estranhas nos bastidores da política nigeriana."

O escritor denuncia em exclusivo a DW África: "Debrucei-me sobre o assunto e investiguei o que está a acontecer. É a primeira vez que afirmo isto em público, mas é esta a triste verdade: partes influentes do exército nigeriano elaboraram estratégias para depor o atual Governo. O que esses círculos querem é instalar um Governo de transição, através de uma espécie de golpe militar.”

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