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PolíticaZimbabué

Zimbabué: Governo acusa dissidentes de conspiração

AFP | tms
25 de julho de 2020

Harare defendeu este sábado (25.07) as prisões de um jornalista investigativo e um líder da oposição, alegando que ambos planeavam "derrubar o Governo" com o apoio dos Estados Unidos e outras "potências estrangeiras".

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Manifestante pede a libertação do jornalista Hopewell Chin'onoFoto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi

O jornalista Hopewell Chin'ono e o líder da oposição Jacob Ngarivhume foram detidos na segunda-feira passada (20.07), acusados ​​de incitamento à violência pública devido à organização de protestos contra o Governo, programados para 31 de julho.

Ngarivhume - chefe de um pequeno partido chamado Transform Zimbabwe ("Transforma Zimbabué", na tradução livre) - convocou protestos em todo o país contra a suposta corrupção do Estado e a atual situação económica do país.

Chin'ono, um crítico franco do Governo, convocou a população a participar das manifestações via Facebook e Twitter. O jornalista também ajudou a expor um escândalo de corrupção de vários milhões de dólares envolvendo a compra de suprimentos para o combate ao novo coronavírus, num episódio que ficou conhecido como "Covidgate".

Esclarecimento do Governo

Num comunicado este sábado (25.07), o Governo disse que desejava "esclarecer as coisas" sobre as prisões. "(Chin'ono) não foi detido por expor corrupção", disse a ministra da Informação, Monica Mutsvangwa, acrescentando que o jornalista encontra-se na prisão "por usar as suas redes sociais para incitar os zimbabueanos a derrubar violentamente o Governo".

Mutsvangwa afirmou que os dissidentes estão presos devido à "sua estratégia de desestabilizar violentamente o país" e "tomar o poder inconstitucionalmente".

A ministra acusou "potências estrangeiras" de participar "dessa conspiração", observando que, na segunda-feira, a embaixada dos Estados Unidos em Harare publicou uma mensagem em defesa de Chin'ono no Twitter.

"Soubemos que a polícia está na casa de Hopwell Chin'ono neste momento e estamos profundamente preocupados com o seu bem-estar", dizia a mensagem da embaixada norte-americana, que pedia "proteção aos jornalistas".

"Outras embaixadas ocidentais que geralmente assumem a postura dos EUA juntaram-se a essa interferência, publicando mensagens e divulgando declarações que foram calculadas para obstruir o curso da justiça num país anfitrião", afirmou o comunicado.

Até ao momento, a embaixada dos EUA não comentou as acusações do Governo zimbabueano.

Fiança negada

Na sexta-feira (24.07), Chin'ono e Ngarivhume tiveram fiança negada e foram presos em custódia pelo Tribunal de Harare. Os advogados de ambos disseram que apelariam da decisão.

Entretanto, os protestos de 31 de julho foram, de facto, proibidos esta semana depois que o Presidente Emmerson Mnangagwa impôs um toque de recolher e restabeleceu as medidas de confinamento contra a propagação do novo coronavírus.

A data marcará o segundo aniversário da eleição de Mnangagwa, que foi manchada por acusações de fraude. "A pergunta que se põe é porque pedir uma revolta violenta em plena pandemia de Covid-19?", perguntou a ministra Mutsvangwa .

Críticos dizem que Mnangagwa lidera uma crescente repressão aos dissidentes desde que assumiu o cargo e não conseguiu reparar a economia prejudicada por anos de má gestão por seu antecessor, Robert Mugabe.

Ainda na sexta-feira, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos alertou o Zimbabué contra o uso da pandemia de Covid-19 como desculpa para conter manifestações políticas.

Até ao momento, o país registou 2.296 infeções e 32 mortes, embora haja suspeitas de que os números estejam subestimados devido à falta de capacidade de teste.

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