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África do Sul aposta nas energias renováveis

8 de dezembro de 2011

A África do Sul, país anfitrião da Cimeira Mundial do Clima 2011, não pode ser considerado um exemplo no que toca à proteção do ambiente. Mas este país está firmemente decidido a mudar.

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South African President Jacob Zuma speaks during the opening ceremony of the climate conference in the city of Durban, South Africa, Monday, Nov. 28, 2011. International negotiations have opened under the U.N. climate treaty to seek ways to curb ever-rising emissions of climate-changing pollution. South African President Jacob Zuma is to address delegates from more than 190 countries who will try to resolve differences between rich and poor countries on responsibilities for emissions cuts.(Foto:Schalk van Zuydam/AP/dapd)
O Presidente sul-africano, Jacob Zuma, anunciou planos ambiciosos para reduzir as emissões de CO2 no seu paísFoto: dapd

A média anual de emissões de CO2 por sul-africano atinge as 7,4 toneladas, um valor superior àquele registado na França, na Suíça ou em Portugal. Uma comparação com os países vizinhos aponta uma diferença ainda maior: os sul-africanos emitem cinco vezes mais gases de efeito de estufa do que os namibianos, e setenta vezes mais do que os moçambicanos.

O problema da África do Sul é a sua total dependência do carvão como fonte de energia. O que se deve à enorme reserva desta matéria-prima no subsolo sul-africano e aos baixos custos de transporte devido às curtas distâncias de fornecimento. O carvão é tão abundante e barato que a África do Sul até extrai dele uma parte do seu combustível. Esta prática é uma relíquia da era do apartheid, que se ficou a dever à tentativa do regime branco, isolado internacionalmente, de se tornar menos dependente da importação de petróleo.

South African President Jacob Zuma, left back, speaks during the opening ceremony of a climate conference as delegates listen in the city of Durban, South Africa, Monday, Nov. 28, 2011. International negotiations have opened under the U.N. climate treaty to seek ways to curb ever-rising emissions of climate-changing pollution. South African President Jacob Zuma is to address delegates from more than 190 countries who will try to resolve differences between rich and poor countries on responsibilities for emissions cuts.(Foto:Schalk van Zuydam/AP/dapd)
A Cimeira do Clima decorre até ao dia 9 de dezembro de 2011Foto: dapd

A energia a carvão é um problema para o ambiente

Mas o carvão está na origem, sobretudo, de 90% da produção da eletricidade sul-africana. O diretor da delegação sul-africana do banco alemão de desenvolvimento, KfW, Harald Gerding, descreve o setor de energia do país como sendo “muito especial”. Realçando a aposta do regime de apartheid no carvão, de modo a garantir a autossuficiência energética do país, Gerding esclarece: “A eletricidade à base de carvão origina elevadas emissões de CO2 e é muito prejudicial para o ambiente. Agora temos a oportunidade de ajudar a África do Sul a diminuir a dependência do carvão e de outras energias fósseis”.

Por isso, o KfW foi encarregado pelo Governo alemão de apoiar a construção de uma central de energia solar em Upington, na província de Northern Cape, através de um crédito bonificado no valor de 75 milhões de euros. A partir de 2017, a central deverá gerar 100 megawatts de energia amiga do ambiente. Nesta central, a luz solar é espelhada e focalizada numa torre. Esta torre contém um líquido que, aquecido pelos raios, é transformado em gás, de modo a poder propulsionar as turbinas.

Titel: Förderschacht in einem Kohlebergwerk in Südafrika Schlagworte: Durban, Südafrika, Klima Wer hat das Bild gemacht?: Leonie March Wann wurde das Bild gemacht?: Februar 2011 Wo wurde das Bild aufgenommen?: Zululand Anthracite Colliery, Südafrika Bildbeschreibung: Bei welcher Gelegenheit / in welcher Situation wurde das Bild aufgenommen? Wer oder was ist auf dem Bild zu sehen? Steinkohlemine Zululand Anthracite Colliery in Südafrika. Südafrikas Energieerzeugung beruht auf Kohle
O carvão é abundante e barato na África do SulFoto: Leonie March

Uma moderna central energia solar

A central de energia solar com torre, que deverá ser gerida pela companhia estatal Escom, será a maior do seu género no mundo. Este é apenas um dos projetos através dos quais a África do Sul pretende cumprir a promessa feita pelo Presidente, Jacob Zuma, na Cimeira do Clima de Copenhaga: a redução em um terço das emissões tóxicas até 2020. Um propósito reafirmado pela ministra sul-africana do Ambiente, Elizabeth Dipuo Peters: “Não estamos a falar à toa. Nós cumprimos as nossas promessas”.

Caso o Governo de Pretória concretize os seus planos, em breve a África do Sul terá o maior número de turbinas eólicas e painéis solares de toda a África a sul do Saara. Rob Davies, o ministro do Comércio e da Indústria, especifica que até 2030: “teremos cerca de 18 gigawatts em energias renováveis. É um objetivo grande e ambicioso”. E significaria que, a partir dessa data, cerca de 10% da energia na África do Sul seria renovável. Para alcançar o objetivo, o Estado pretende ganhar investidores privados. Por isso, o Governo sul-africano anunciou na Conferência do Clima em Durban, o nome das empresas privadas às quais foram adjudicadas as primeiras construções de projetos solares e eólicos. Estas firmas vão receber créditos bonificados e subsídios para a produção de energia elétrica. Em 2012 serão adjudicadas mais obras.

epa03024180 A handout image provided by the environment protection organization 'Greenpeace' on 04 December 2011 shows a young boy adding his name to the 'Use Me More Wind Chime Project', in Durban, South Africa, 04 December 2011. Greenpeace is present in protests accompanying the 17th Conference of Parties of the United Nations Framework Convention on Climate Change (COP17) which runs until 09 December. EPA/SHAYNE ROBINSON/GREENPEACE/HANDOUT HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES +++(c) dpa - Bildfunk+++
A cimeira é acompanhada por manifestações populares de todos os tiposFoto: picture-alliance/dpa

O apoio dos parceiros internacionais não basta

Os parceiros estrangeiros, entre os quais a Alemanha, Dinamarca, Grã-Bretanha, Noruega e o Banco de Investimentos Europeu, ajudam o Governo a pôr em prática a sua Iniciativa Sul-Africana de Energias Renováveis (SARI). Ao todo pretendem colocar à disposição 1,9 mil milhões de dólares norte-americanos. O ministro norueguês da Energia, Erik Solheim, lembra que a África do Sul é a única nação da África subsariana com emissões significativas de gases de efeito de estufa per capita: “É, por isso, muito importante, que a África do Sul mostre que também existe um caminho alternativo. É importante que desenvolva energias renováveis. Isto vai mostrar o caminho a muitos outros e também vai diminuir as emissões.”

Para além das energias renováveis, o Governo de Pretória aposta ainda na redução do consumo. Trata-se do primeiro país do continente que, a partir de 2016, só autorizará lâmpadas economizadoras de energia. Mas mesmo que todos estes planos sejam postos em prática, as emissões vão recuar pouco nas próximas décadas, porque a África do Sul quer continuar a ser autossuficiente na produção de energia, sem depender muito de importações de países vizinhos como Moçambique.

Wann: 8.12.2011 Wo: Durban, Südafrika Was: Ayanda Nakedi, General Manager des staatlichen Energieversorgers Eskom, auf einer Podiumsdiskussion am Stand der deutschen Delegation auf der Klimakonferenz in Durban
A directora-geral da companhia estatal sul-africana de energia, Eskom, Ayanda NakediFoto: DW

A África do Sul não desiste do carvão tão cedo

O diretor-geral da companhia estatal Escom, Ayanda Nakedi, diz que, em primeira linha, está a ser acrescentada a capacidade adicional de que o país precisa para responder à procura crescente: “Quando falamos das mudanças climáticas, é importante não esquecer que devemos assegurar o fornecimento. Não vamos deixar acabar com a energia a carvão. Mas nas duas maiores centrais a carvão, Medupi e Kosile, que estamos a construir, vamos usar a mais moderna tecnologia para minimizar os danos do ambiente. Não podemos simplesmente, deitar fora o carvão porque é um recurso, que está à nossa disposição aqui mesmo.”

De modo que, apesar do apoio internacional para energias limpas, a África do Sul vai continuar a vonstruir centrais a carvão. Só em Medupi e Kosile deverão ser gerados 4,8 gigawatts por central, ou seja, mais do que o volume previsto para todos os novos projetos de energias renováveis adjudicados este ano. Ao que tudo indica a África do Sul só quer reduzir muito lentamente a sua dependência do carvão.

Autor: Johannes Beck (Durban)
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha