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EconomiaÁfrica do Sul

África do Sul: Os benefícios de estreitar laços com o Irão

Thuso Khumalo | cvt
31 de outubro de 2023

O Presidente iraniano está de visita à África do Sul, país que considera parceiro estratégico. Ebrahim Raisi já visitou o Quénia, o Uganda e o Zimbabué para diversificar as relações com os seus aliados não ocidentais.

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Ebrahim Raisi, Presidente do Irão
Ebrahim Raisi referiu-se a África como um "continente de oportunidades", salientando o seu potencial como mercado para os produtos iranianosFoto: Iran's Presidency/Mohammad Javad Ostad/WANA/REUTERS

O Presidente iraniano Ebrahim Raisi está de visita à África do Sul esta terça-feira (31.10). Teerão procura aprofundar as suas parcerias em todo o continente africano, ao passo que enfrenta pesadas sanções económicas dos Estados Unidos da Américs (EUA).

Desde que assumiu o cargo em 2021, Raisi tem seguido uma estratégia deliberada de reforçar a abordagem não ocidental na política externa do Irão.

O chefe de Estado iraniano visitou o Quénia, o Uganda e o Zimbabué - que também está sob sanções dos EUA - em julho, marcando a primeira visita de um líder iraniano ao continente africano em mais de uma década.

No Quénia, referiu-se a África como um "continente de oportunidades", salientando o seu potencial como mercado para os produtos iranianos.

"Nenhum de nós está satisfeito com o atual volume de comércio e com o atual intercâmbio económico entre os países", afirmou.

A visita oficial a Pretória acontece apenas uma semana depois de a ministra dos Negócios Estrangeiros sul-africana, Naledi Pandor, ter estado em Teerão.

O Presidente iraniano esteve na África do Sul, em agosto deste ano, para a Comissão Conjunta de Cooperação (CCC) África do Sul-Irão realizada antes da cimeira dos BRICS – formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

O bloco irá acolher o Irão e cinco outros países no grupo em janeiro de 2024 e muitos analistas dizem que a África do Sul foi fundamental para a concretização das adesões.

Cimeira dos BRICS na África do Sul
Durante a cimeira dos BRICS, em Joanesburgo, o bloco decidiu acolher mais seis países em janeiro de 2024 Foto: Gianluigi Guercia/AFP/Getty Images

Relações históricas e fraternas

Os laços entre os a África do Sul e o Irão remontam à época do 'apartheid', quando o Irão apoiou os movimentos de libertação da África do Sul.

O Irão foi também um dos primeiros países a levantar as sanções contra a África do Sul depois de o país ter abolido o regime de segregação racial em 1994.

A CCC foi criada em 1995. No âmbito da comissão, as duas nações assinaram vários acordos bilaterais em quase todos os domínios fundamentais.

Durante a reunião da CCC, realizada em agosto deste ano, em Pretória, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, afirmou que o Irão pretendia reforçar as suas relações com a África do Sul para benefício mútuo.

"A República Islâmica do Irão está totalmente pronta para reforçar as relações bilaterais com a África do Sul, sem quaisquer restrições, em todas as áreas de interesse mútuo - como a cooperação científica, o reforço das novas tecnologias, o intercâmbio de novas tecnologias, bem como a cultura, o turismo, a economia, o comércio e o sector das novas energias", disse Amir-Abdollahian.

Em 2022, as exportações iranianas para África atingiram cerca de 1,20 mil milhão de euros - muito acima dos 544 milhões de euros em 2020 - de acordo com o Instituto do Médio Oriente, em Washington D.C..

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E só este ano, o comércio do Irão com os países africanos deverá aumentar para mais de 1.880 milhões de euros, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão.

Naledi Pandor, ministra dos Negócios Estrangeiros da África do Sul
Naledi Pandor: "A nossa intenção tem sido encorajar um mundo em paz consigo próprio"Foto: Eduardo/Munoz/imago images/UPI Photo

O crescimento em algumas áreas específicas tem sido ainda maior, tendo as exportações de serviços técnicos e de engenharia do Irão para África aumentado em 700% em 2022.

O Irão também tem em vista o aumento do comércio com o resto do continente africano, de acordo com Sayed Hoseini, diretor do Centro Islâmico para África, que diz que a África do Sul quer tirar partido da posição geográfica do Irão para o seu comércio com os outros países dos BRICS.

"O Irão está situado num ponto muito estratégico no Médio Oriente e no Sul da Ásia. Naquela área, o Irão pode facilitar a ligação da Índia e da Rússia ao corredor norte-sul", explica Hoseini, acrescentando que o país pode ainda "ligar a China ao Golfo Pérsico e, a partir do Golfo Pérsico, à África do Sul e ao resto do mundo".

O Irão continua a fazer parte da lista de sanções dos EUA e a sua proximidade com a África do Sul tem sido recebida com surpresa, de acordo com vários analistas.

A ministra dos Negócios Estrangeiros sul-africana diz, no entanto, que o seu país partilha posições comuns sobre questões globais com o Irão.

"A nossa intenção, tanto da África do Sul como da República Islâmica do Irão, tem sido encorajar um mundo em paz consigo próprio", afirmou Naledi Pandor durante uma reunião recente com os seus parceiros iranianos.

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