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"É a economia, seu idiota!"

8 de outubro de 2018

Pouco abordados até aqui, graves problemas econômicos do Brasil podem se tornar decisivos no segundo turno e são uma chance para Haddad. Mas ele teria que se despedir da receita adotada pelo PT, afirma Alexander Busch.

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Fernando Haddad (PT)
Fernando Haddad (PT) concorre no segundo turno para presidenteFoto: imago/Agencia EFE/M. Chello

Continua em aberto qual dos dois candidatos presidenciais vencerá o segundo turno, dentro de três semanas – apesar da atual guinada direitista no Brasil e da grande dianteira nas urnas obtida pelo militar da reserva Jair Bolsonaro em relação a Fernando Haddad, o representante do PT.

Em minha opinião, é no campo da economia que a eleição vai se decidir, nas próximas semanas. Até agora, questões econômicas foram pouco ou nada abordadas na campanha eleitoral. Bolsonaro se define como reformador neoliberal esclarecido, apresentando o banqueiro de investimentos Paulo Guedes como seu guru da economia e futuro ministro.

Guedes funcionou, até o momento, sobretudo como a desculpa perfeita para que empresários e investidores se colocassem ao lado de Bolsonaro, apesar dos ataques deste contra mulheres, gays, afrobrasileiros e sua glorificação da tortura e da repressão.

Nas próximas três semanas, Bolsonaro terá que mostrar o que realmente pretende na economia. Em seus 28 anos como deputado, ele votou principalmente pelos interesses corporativos de militares, funcionários públicos e empresas estatais, ou seja: por um mercado interno protegido e contra a abertura dos mercados.

Nas eleições para o Congresso e os governos estaduais, realizadas simultaneamente, os candidatos de direita tiveram um desempenho surpreendente. Entre eles estavam numerosos militares e policiais, mas também os oportunistas de sempre, que só nos últimos dias pegaram carona com Bolsonaro, aproveitando-se de sua popularidade crescente.

Nenhuma dessas novas personagens políticas na trilha bolsonarista é neoliberal. Assim como ele tem feito em sua carreira política até o momento, esses candidatos defendem sobretudo uma visão econômica em grande parte pouco distinguível da petista.

Afinal, também o PT deu seguimento a uma política econômica e financeira que, em vários aspectos, mostrou ser igual à da ditadura militar, com seu dirigismo, substituição de importações, endividamento elevado, fomento de campeões nacionais e tentativa frustrada de controle estatal sobre os juros e a inflação. O mesmo não valeu, porém, para a política social, onde os conceitos dos militares e do PT divergiam fundamentalmente.

Haddad pretende empregar exatamente essas velhas receitas e prosseguir de onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parou, em 2010. Ele promete até mesmo reverter as poucas reformas econômicas dos últimos dois anos. Apresentando-se como substituto de Lula, rechaça tanto os graves casos de corrupção que afetam o partido de Lula quanto a catastrófica política econômica da sucessora deste, Dilma Rousseff. No momento o PT tem tornado as coisas muito fáceis para Bolsonaro.

E, no entanto, Haddad teria uma chance contra o ex-militar. Ele teria que formular um mea culpa verossímil sobre o papel do PT nos escândalos de corrupção e na política econômica fracassada. Ele teria que apresentar uma equipe convincente para sua política monetária, financeira e econômica – ou, seja, dar uma guinada de 180 graus, como fez Lula em 2002, com a Carta ao povo brasileiro que lhe assegurou a vitória eleitoral. Mas, neste momento, não parece que Haddad tenha nem a coragem nem a convicção para tal mudança de curso.

Talvez ele se deixe inspirar pelo slogan de campanha de Bill Clinton, em 1992: "It's the economy, stupid" ["É a economia, seu idiota!", significando que a situação da economia de um país é decisiva para o futuro de um presidente ou candidato]. Com essa alusão à própria competência econômica, em poucos meses o candidato democrata conseguiu derrubar o presidente Georg H. W. Bush – extremamente popular após a primeira invasão do Iraque – e vencer a eleição.

Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

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