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Índios usam internet para defender seus direitos

Geraldo Hoffmann19 de abril de 2006

Projeto inovador desenvolvido por ONG brasileira, com ajuda do Ministério da Cultura e assessoria alemã, garante inserção digital de sete povos indígenas do Nordeste.

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Índios Online viabiliza inserção digital de minorias étnicasFoto: www.indiosonline.org.br

Houve um tempo em que, no Brasil, "todo dia era dia de índio", diz uma música de Jorge Benjor. Pelos menos virtualmente esse tempo parece estar voltando. Os índios começam a povoar a "aldeia global" formada pela internet.

Um exemplo disso é o portal Índios Online (www.indiosonline.org.br). Trata-se de uma rede de diálogo intercultural, formada pelos povos Kiriri, Tupinambá, Pataxó-Hãhãhãe e Tumbalalá da Bahia, os Xucuru-Kariri e Kariri-Xocó de Alagoas, e os Pankararu de Pernambuco.

A intenção do projeto, desenvolvido pela ONG Thydewa, de Salvador (BA), com o apoio do Ministério da Cultura, da Associação Nacional de Apoio ao Índio (Anai) e assessoria de um etnólogo alemão, é facilitar a inserção digital indígena e apresentar aos internautas "os índios na visão dos índios", dizem os coordenadores.

Segundo o diretor da Thydewa, Sebastián Gerlic, além de ser útil ao resgate da cultura e da cidadania indígenas, o portal também está dando resultados práticos. "Os índios valeram-se da tecnologia para cobrar salários atrasados, receber merenda escolar, tirar o lixo de suas aldeias e ser cidadãos mais ativos", conta em entrevista à DW-WORLD (veja link abaixo).

Fascínio pelo chat

O portal tem uma seção de notícias, uma apresentação das atividades desenvolvidas pelos povos, um fórum de debates, além de oferecer cursos de cidadania e disponibilizar um chatroom. "É nessa sala virtual que os índios se encontram com maior freqüência. O contato imediato é uma magia para eles", revela Gerlic.

O chat indígena já se tornou conhecido além das fronteiras do projeto. Segundo Edilaise Santos Vieira, do povo Taxá, "esse espaço uniu nações. Hoje eu sei o que está acontecendo com meus parentes em Pernambuco e no sul da Bahia. Conseguimos em cada bate-papo, em cada matéria escrita, lida e comentada, um laço de amizade e solidariedade entre os parentes".

Ela garante que, para a juventude indígena, esse foi "o projeto que veio para nos inserir no mundo digital e não mais sermos tachados como burros ou atrasados pela juventude dos não-índios".

Mobilização internacional

Segundo Ivonne Bangert, da Sociedade alemã para os Povos Ameaçados, os indígenas descobriram rapidamente as vantagens da internet para romper o isolamento em que muitos deles vivem. "Por conta própria ou com a ajuda de ONGs, eles aprenderam a usar a internet como ferramenta para chamar a atenção internacional para a luta por seus direitos", disse à DW-WORLD.

Na opinião do etnólogo alemão Nico Czaja, que prestou assessoria técnica ao portal Índios Online e agora atua no Projeto Integrado de Proteção às Populações Indígenas na Amazônia Legal (PPTAL), a internet melhorou muito a comunicação entre os grupos envolvidos e a opinião pública brasileira. "É também uma ajuda na luta contra a repressão, discriminação e violação dos direitos humanos desses povos", acrescenta.

"Índios Online é um projeto inovador, que possibilita o acesso de minorias éticas aos modernos meios de comunicação. E tem futuro", garante Czaja. Esta é também a convicção do jovem Alexandre dos Santos, do povo Pankararu. "Temos a esperança de que, num futuro bem próximo, todos os povos indígenas do Brasil estejam fortalecidos com o recurso da internet", disse à DW-WORLD.

Além do site Índios Online e de outros projetos nacionais e internacionais desenvolvidos junto aos índios, também as estatística apontam um cenário de renascimento do povos indígenas no Brasil.

Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), a população indígena brasileira cresce em média 3,5% ao ano. Atualmente existem no Brasil entre 450 mil e 460 mil índios, quatro vezes mais do que em 1950, quando se chegou ao mínimo da população indígena brasileira, informou a Funai.