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HistóriaChina

1900: Sufocada em Pequim rebelião contra europeus

Barbara Fischer Publicado 14 de agosto de 2014Última atualização 14 de agosto de 2020

Em 14 de agosto de 1900, a chamada Rebelião dos Boxers foi sufocada em Pequim com a ajuda de tropas ocidentais e japonesas.

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Pintura retrata combates em Pequim em 1900
Pintura retrata combates em Pequim em 1900Foto: Getty Images

Trata-se de uma das notas de pé de página mais dramáticas e ao mesmo tempo mais bizarras da história colonial alemã. Em 1900, membros de uma organização clandestina chinesa, treinados em kung fu, cercaram o bairro em que ficavam as embaixadas em Pequim. A chamada Rebelião dos Boxers, porém, não se restringiu à capital chinesa.

O jornal Berliner Morgenpost noticiava em sua edição de 16 junho de 1900 que "a Rebelião dos Boxers tornou-se nos últimos dias gradativamente uma revolta geral da China contra as potências estrangeiras, ela se espalhou com incrível rapidez por todas as partes desse império não tão celestial. Mas, principalmente para os estrangeiros em Pequim, o perigo se tornou tão terrível que acontecimentos horríveis poderão acontecer nas próximas horas".

Quatro dias depois, a situação era crítica para as delegações diplomáticas em Pequim: em 20 de junho de 1900, os rebeldes fuzilaram o embaixador alemão, Klemens von Ketteler. Os tiros marcaram o início do cerco ao bairro dos diplomatas, onde 4 mil estrangeiros e chineses ficaram retidos. Os representantes do exterior enfrentaram 56 dias de terror e medo.

Resistência à influência europeia

O movimento, conhecido como Revolta dos Boxers, teve dois motivos: a longa intromissão europeia na economia chinesa e a decadência da corrupta dinastia Ching, que dominou o país por 250 anos. A partir do século 19, a influência do Ocidente começou a colocar em xeque o império chinês. Os ingleses, por exemplo, inundaram a China por 200 anos com ópio trazido de suas colônias na Índia.

A tentativa chinesa de impedir as importações da droga resultou na Guerra do Ópio (1839–1842), vencida pela Inglaterra. Além do monopólio do comércio do produto, os britânicos – aliados aos franceses – conquistaram nos anos seguintes a abertura de cinco portos chineses ao Ocidente e a posse de Hong Kong.

Por volta de 1850, o domínio estrangeiro na China já era avassalador. Em 1858, Alemanha, França, Rússia e Estados Unidos obtiveram a abertura de mais 11 portos chineses. No final do século 19, o país não tinha mais forças para resistir às pressões das potências coloniais. Em 1885, a China cedeu o Vietnã à França e, nove anos mais tarde, perdeu o arquipélago de Taiwan para o Japão.

Pretensão alemã

Mas o regime de Tzu-Hsi, viúva do imperador, estimulou o surgimento de um movimento de resistência popular. Foi aí que se formou a organização clandestina Yi-he quan – "punho da justiça e da unidade". O movimento dos boxers surgiu justamente em Shandong, uma província costeira colonizada pelos alemães, que ali pretendiam fundar uma colônia-modelo, uma "Hong Kong alemã" nos moldes da britânica.

Os novos senhores imperiais, que comparavam as montanhas dos arredores à Floresta Negra, porém, haviam escolhido uma das regiões tradicionalmente mais agitadas da China para a sua maior aventura colonial. Por isso, não foi por acaso que o emissário alemão reagiu impulsivamente aos boxers de "sua região", que sitiaram as embaixadas em Pequim. Sua conduta inflexível, no entanto, custou-lhe a vida.

Irritado, o imperador Guilherme 2º exigiu vingança e enviou reforços para as tropas alemãs estacionadas e envolvidas em conflitos na China. Junto com os aliados ingleses e franceses, ele pretendia impor um modelo de domínio colonial.

A Rebelião dos Boxers intensificava-se cada vez mais e fazia cada vez mais vítimas fatais. Os chineses mortos já eram milhares; os estrangeiros somavam 300. Em 14 de agosto de 1900, a rebelião é sufocada em Pequim pelas tropas ocidentais e japonesas.

Para os alemães, o drama teve um fim grotesco. O imperador Guilherme ordenara aos integrantes da força expedicionária que se "comportassem como os hunos" (povo bárbaro da Ásia Central, que invadiu a Europa, sob a chefia de Átila, no século 5º). "Não haverá perdão. Não serão feitos prisioneiros", disse.

Condições humilhantes

Quando os soldados alemães chegaram à China, as delegações estrangeiras haviam sido libertadas há tempo. Em consequência da derrota, a China foi novamente obrigada a ceder: os Estados Unidos impuseram a política da "porta aberta", pela qual o Ocidente se comprometeu a respeitar a integridade territorial, em troca da total abertura comercial do país.

Cumprindo uma das determinações humilhantes do acordo de paz, um príncipe chinês viajou a Berlim para se desculpar oficialmente pelo assassinato do embaixador alemão. A economia chinesa foi castigada por pesadas reparações de guerra. O decadente império chinês não conseguiu mais se recuperar desse golpe. Treze anos depois, o último imperador da China foi derrubado e o país afundou na anarquia.