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1949: Tumultos anticomunistas após concerto de cantor negro

Publicado 4 de setembro de 2014Última atualização 4 de setembro de 2017

No dia 4 de setembro de 1949, protestos encerraram a apresentação do ator e cantor negro Paul Robeson em Peekskill, Nova York. Multidão racista e anticomunista apedreja espectadores.

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Paul Robeson Schauspieler Sänger und Sozialkritiker USA
Foto: Getty Images/Keystone

O ator e cantor negro Paul Robeson transformou a canção Old Man River do musical Showboat num hino da esquerda contra a injustiça e a opressão. O mais famoso artista afro-americano dos Estados Unidos também foi um ativista político.

Na Conferência Mundial da Paz de 1948 em Paris, Robeson declarou que os negros norte-americanos não deveriam ir à guerra por um governo que os oprimira durante várias gerações. A reação da opinião pública dos EUA foi imediata, como lembra Ben Hersh, de Peekskill, uma pequena cidade no norte do Estado de Nova York:

"Na época, reinava um clima anticomunista em toda esta região, sobretudo entre os veteranos de guerra. O lema dos grupos de oposição em Peekskill era "Acorda América, Peekskill acordou!". Muitos moradores colaram cartazes com esse slogan nas janelas e nos para-brisas de seus automóveis."

Espetáculo adiado

No final de agosto de 1949, uma multidão incitada pela imprensa local impediu a realização de um concerto ao ar livre de Paul Robeson em Peekskill. Um novo espetáculo foi marcado para 4 de setembro, dessa vez sob rigorosas medidas de segurança. Paul Robeson Junior lembra que não foram só os sindicalistas a formar um anel de proteção ao redor da arena do espetáculo:

"As forças de segurança eram compostas também por ex-combatentes do Exército. Tudo fora organizado como numa operação militar, mas sem armas. Nem todos os grupos de veteranos pensavam como os direitistas e a plebe exaltada. De forma alguma."

O cantor e ativista Pete Seeger diz que o clima dominante em Peekskill, naquela noite de setembro, era de caça aos comunistas. Essa atmosfera tinha sido incitada na véspera do concerto de Paul Robeson por um editorial do jornal Evening Star, bem como por um discurso do então secretário da Defesa Louis Johnson. Pete Seeger relata:

"Ninguém sabe exatamente como os ataques foram organizados. A Legião Americana e algumas outras organizações de veteranos estavam envolvidas, mas foi sobretudo o Ku Klux Klan que mobilizou atiradores de pedras. Eles haviam infiltrado seus membros até na polícia. Eu estive no concerto, com toda a minha família. Cantei três canções antes de Paul Robeson pisar no palco. Todos os vidros do nosso carro foram quebrados. Tenho certeza que tinha gente querendo matar Robeson. Antes do início do concerto, descobriram um franco-atirador numa árvore."

Tumulto após o concerto

Paul Robeson conseguiu apresentar-se diante de 25 mil pessoas, em 4 de setembro de 1949. Mas, após o espetáculo, a polícia permitiu que uma multidão branca atirasse pedras nos espectadores que voltavam para casa. Inúmeros carros foram danificados e centenas de pessoas saíram feridas nos tumultos. À saída do show, como que através um túnel, os espectadores tiveram que abrir seu caminho pela multidão, cheia de ódio, que flanqueava as ruas.

Os gritos de "Volta pra Rússia!" ou "Te manda, negro!" se somaram aos ataques violentos contra o público. A espectadora Ellen Perlo relembra: "Em ambos os lados das ruas, encontravam-se as mesmas pessoas que já nos haviam recebido com insultos. Só que agora, em vez de insultos, veio uma chuva de pedras. Nós tremíamos, sem acreditar que uma coisa dessas fosse possível."

Uma comissão de inquérito instituída pelo governador de Nova York transformou os agressores e a polícia em vítimas. Somente anos depois é que as autoridades admitiram ter observado passivamente os violentos distúrbios de Peekskill.