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17 de setembro de 1958

Eva Lenhard (sv)

Em 17 de setembro de 1958, por sugestão do então ministro da Economia, Ludwig Erhard, os bancos alemães introduziram o cheque especial.

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Ludwig Erhard, pai do 'cheque especial' alemãoFoto: AP

Toda vez a mesma coisa: quando o final do mês se aproxima, a conta vai de mal a pior. Mas nada é problema, quando se pode ultrapassar o crédito corrente oferecido ao cliente pelos bancos (conhecido no Brasil como "cheque especial").

O crédito corrente é a forma de empréstimo a pessoas físicas mais utilizada na Alemanha. O banco oferece ao cliente a possibilidade de fazer saques acima do seu saldo real disponível.

O depósito de salários diretamente em conta corrente foi um dos fatores que favoreceram o uso dessa forma de crédito. Segundo Dirk Stein, da Cooperativa dos Bancos alemães, "em meados dos anos 50, tornou-se comum o pagamento de salários sem dinheiro vivo, ou seja, através de depósito em conta, facilitando a introdução do crédito pessoal, que surgiria mais tarde".

Crédito a pessoas físicas: uma novidade

Em 1958, o então ministro alemão da Economia, Ludwig Ehrhard, enviou um telegrama ao Congresso dos Bancos do país, pedindo que as instituições financeiras passassem a conceder créditos também às pessoas físicas. Esse foi o ponto de partida para a decisão dos bancos, de criar o sistema de "crédito pessoal em conta corrente".

Para o cliente comum, tratava-se de uma nova possibilidade, pois um sistema semelhante de empréstimo não existia até então na Alemanha. O que já era um procedimento usado para contas de pessoas jurídicas, passou a ser utilizado também pelo cidadão comum do país.

A possibilidade de ultrapassar os limites do saldo em conta corrente é considerada uma forma especial de empréstimo. Via de regra, os bancos alemães oferecem um crédito relativo a três vezes o salário mensal do cliente, utilizando a média dos últimos seis meses para "atualizar" esses valores.

Maior margem para dívidas

Na opinião de Ernst Ungerer, vice-presidente da Central de Proteção ao Consumidor em Berlim, "ultrapassar os limites do saldo em conta corrente é muitas vezes o primeiro passo para o endividamento constante, que pode ser induzido pelos créditos oferecidos pelos bancos.

"A desvantagem aqui é exatamente a falta de regras que estabeleçam datas exatas para a devolução ao banco das quantias emprestadas. Em nossas filiais de informação ao consumidor, constatamos sempre que os créditos oferecidos pelos bancos são usados até o último limite e a partir daí são utilizadas outras formas de empréstimo, desencadeando uma verdadeira avalanche de dívidas".

Quanto mais dinheiro na conta, maior o consumo

Dinheiro disponível é sempre um estímulo ao consumo. Estatísticas comprovam a ligação entre a concessão desses créditos oferecidos pelos bancos e o crescimento do número de pessoas físicas endividadas na Alemanha.

Segundo o relatório de 1992 da Federação dos Bancos do país, entre 1968 e 1980, um total de 130 milhões de marcos foi usado pelos clientes de bancos do país através de saques que iam além dos limites dos saldos em conta corrente. No início de 1992, esse valor já ultrapassava 324 milhões de marcos. O endividamento cresceu de 355 para 4 000 marcos por pessoa entre 1968 e 1992.

Representantes dos bancos afirmam que a situação dos clientes que fazem uso dos créditos oferecidos é controlada de maneira suficiente. O principal quesito analisado é a entrada regular de dinheiro na conta de quem ultrapassa os limites do próprio saldo.

Mesmo estanto no vermelho

Além disso, quando um cliente faz uso constante desses créditos, o banco consulta a Sociedade de Proteção ao Crédito (na Alemanha, a entidade similar à SPC brasileira tem a sigla "Schufa"), para saber se esse cliente já deixou de pagar as suas dívidas perante outras instituições financeiras.

Organizações de proteção ao consumidor criticam, no entanto, a política dos bancos. "Nós já percebemos que os bancos oferecem os créditos aos clientes de maneira massiva. Depois, quando a pessoa tem dificuldades de pagar a dívida, se o salário é reduzido, por exemplo, os bancos reduzem ou até cortam os limites do crédito", explica Ungerer. Em outras palavras, o empréstimo tem de ser pago de imediato, exatamente quando a pessoa entra em grandes dificuldades financeiras.

Os créditos oferecidos em conta corrente tornaram-se extremamente populares na Alemanha. Sacar dinheiro dos caixas automáticos mesmo estando "no vermelho" é um procedimento corriqueiro para a maioria da população. Apesar dosjuros, os clientes não querem deixar de contar com a possibilidade de usar o dinheiro, mesmo não dispondo dele "por conta própria".