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1964: Estreia do musical "Um violinista no telhado"

Doris BulauPublicado 22 de setembro de 2013Última atualização 22 de setembro de 2020

O leiteiro Tevje e sua canção "Se algum dia eu ficasse rico" tornaram-se conhecidos a partir da estreia do musical "Um violinista no telhado" (Anatevka) na Broadway, no dia 22 de setembro de 1964.

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Foto histórica de rosto de homem de bigode,  cavanhaque e óculos
O escritor russo Sholom Aleichem viveu de 1859 a 1916Foto: picture-alliance/HIP

Não era previsível que um musical em ídiche (língua falada pelos judeus da Europa Central e Oriental, que mistura elementos do alemão, hebraico e línguas eslavas) pudesse se tornar um sucesso de público em Nova York. No entanto, o Teatro Imperial da Broadway foi o palco de uma das mais aplaudidas encenações dessa história que se passa na Rússia czarista.

Unindo uma temática ambiciosa ao entretenimento rápido, típico dos musicais, o espetáculo narra a saga da família do leiteiro judeu Tevje, que vive em Anatevka, na Ucrânia. O título original da adaptação americana, baseada num conto do escritor Scholem Aleichem, é Fiddler on the roof (Um violinista no telhado).

"Parece loucura, não é? Mas no nosso lugarejo Anatevka é assim. Cada um de nós é um violinista no telhado. Ficamos aqui, porque Anatevka é a nossa terra natal. E o que traz equilíbrio à nossa mente pode ser resumido numa palavra: tradição", esclarece o protagonista da peça.

Entretanto, é exatamente para manter a tradição que surgem problemas na vida do leiteiro Tevje. Como homem religioso, ele acredita que suas cinco filhas deverão pouco a pouco seguir o caminho em direção ao "porto seguro" do casamento. Homem de poucas posses, Tevje tenta, com a ajuda de sua mulher, Golde, casar a filha mais velha com o açougueiro Lazar Wolf, que é rico, porém idoso.

Casamento de conveniência

O casal, que anseia um mínimo de brilho para suas simples existências através do casamento de conveniência, é frustrado pela personalidade teimosa da filha Zeitel, que se apaixona pelo pobre alfaiate Mottel. Tevje, o pai, compadecido com a situação, tenta então convencer sua mulher de que Zeitel realmente só será feliz em companhia de Mottel.

Em seguida, a segunda filha do casal se apaixona pelo estudante revolucionário Perchik, tomando a decisão de segui-lo até a Sibéria, para onde ele havia sido banido em decorrência de suas atividades políticas contra o regime czarista. Depois de meditar e rezar bastante, Tevje conforma-se: "Sei que não é vergonha nenhuma ser pobre, mas também não é nenhuma honra. O que há de tão terrível em ter uma pequena fortuna? Se eu fosse rico, não precisaria mais trabalhar."

Enriquecer continua, no entanto, sendo uma mera ilusão na vida do leiteiro. Como se não bastasse, a terceira filha, Chava, ultrapassa os limites da tolerância de Tevje, ao casar-se com o cristão Fedja. Irritado ao máximo com a "traição", o judeu ortodoxo rejeita qualquer possibilidade de reconciliação.

Sob pressão política do czar, os judeus são obrigados então a deixar a vila de Anatevka em busca de um novo lugar para viver, o que é relatado no melancólico final do espetáculo. Desiludido, Tevje emigra para os Estados Unidos em companhia de Golde e das duas filhas mais novas.

"O que é deixado para trás: nada muito além de Anatevka, a feliz e trágica Anatevka. Ali o Shabat era tão lindo. Será que vamos um dia rever essa calma e obstinada Anatevka?", pergunta o entristecido Tevje.

Foi exatamente o destino dos emigrantes em fuga da Rússia czarista em direção ao Novo Mundo, expressado através da existência pesada e melancólica do leiteiro Tevje, que levou ao sucesso absoluto do musical na sua estreia na Broadway.

O espetáculo refletia ao mesmo tempo o destino dos judeus de Stedl, na Rússia pré-revolucionária, que fugiram para os Estados Unidos, principalmente para Nova York, em consequência das perseguições religiosas. Eles passaram a viver ali, entre a tradição e as regras do Novo Mundo, continuando a crer nos antigos costumes, como eternos "violinistas no telhado".