1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
HistóriaRússia

1974: Soljenitsin é preso e expatriado

Catrin Möderler12 de fevereiro de 2014

No dia 12 de fevereiro de 1974, a União Soviética cassou a cidadania de Alexander Soljenitsin e extraditou o Nobel de Literatura.

https://p.dw.com/p/1GjL
Alexander Solschenizyn
Alexander Soljenitsin em julho de 1994 na RússiaFoto: imago/ITAR-TASS

Alexander Soljenitsin tinha apenas seis anos de idade quando foi aprovada uma lei que marcaria definitivamente sua vida. O novo Código Penal soviético, publicado em 1924, definiu, entre outros delitos, o crime contrarrevolucionário e regulamentou a noção de "pessoa socialmente perigosa". Para combater esse tipo de crime, a partir de 1929, a União Soviética criou um imenso sistema de repressão, que se tornou conhecido como "o arquipélago Gulag" e cuja vítima mais famosa foi Soljenitsin.

Nascido em 1918, em Kislovodsk, no Cáucaso, e formado em Física, Alexander Soljenitsin ganhou fama mundial no final dos anos 1960 e início dos 70, por denunciar o terror soviético do período do stalinismo (1924–1953). Ele experimentou esse terror na própria pele ainda durante a Segunda Guerra Mundial.

Na condição de capitão do exército, foi preso em 1945, depois que o serviço secreto interceptou duas cartas que escrevera a um primo, criticando Josef Stalin (1879–1953). Por isso, passou oito anos preso na Sibéria e três anos "isolado" no Cazaquistão, sendo libertado em 1956, durante a moderada abertura política de Nikita Kruchov (1953–1964).

Proibido de viajar para receber Nobel

Reabilitado em 1957, publicou seu primeiro livro sobre os campos de concentração stalinistas, com autorização expressa de Kruchov: Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch (1962). Em 1967, provocou as lideranças soviéticas com uma carta pedindo o fim da censura. Devido à divulgação clandestina de obras proibidas, como O Primeiro Círculo do Inferno, foi expulso da União dos Escritores Soviéticos em 1969. No ano seguinte, conquistou o Nobel de Literatura, mas foi proibido de viajar a Estocolmo para receber o prêmio.

Admirado no exterior e odiado pela cúpula comunista, foi expulso da URSS por haver descrito a vida nos campos de prisioneiros da Sibéria, em O Arquipélago Gulag (1973). Preso por "traição à pátria", a 12 de fevereiro de 1974, e expatriado para a Alemanha, encontrou seu primeiro asilo na casa do poeta alemão Heinrich Böll, mudando-se em seguida para a Suíça e, em 1976, para os Estados Unidos. Viveu no Estado de Vermont, próximo ao Canadá, até 1994, quando retornou a Moscou.

'Não' à instrumentalização política

Soljenitsin é um caso exemplar de escritor que foi usado pela mídia internacional para fins políticos. No auge da Guerra Fria, a imprensa ocidental fazia estardalhaço de suas opiniões. A carta que enviou a Leonid Brejnev, em 1974, pedindo mais liberdade para o povo soviético, virou manchete mesmo nos jornais brasileiros. O que a mídia fingia não perceber é que ele nunca fora pró-Ocidente. Pelo contrário, sempre criticou severamente a "ocidentalização" da Rússia.

Ao contrário do que se poderia esperar, nem mesmo a direita norte-americana conseguiu capitalizar o exílio de Soljenitsin para a propaganda anticomunista. O escritor simplesmente não tinha interesse em percorrer os Estados Unidos para debater suas ideias. Além disso, seus comentários sobre a "decadência moral" do Ocidente logo o tornaram inconveniente. Nos 18 anos em Vermont, viveu no ostracismo. Quase não saía de casa, nem recebia visitas.

Reabilitação civil na Rússia

Com a derrocada da União Soviética, em 1990, Soljenitsin reconquistou seus direitos civis e passou alguns meses na Rússia, preparando seu retorno do exílio. Voltou definitivamente à terra natal em 1994, com a intenção de lutar pela "recuperação espiritual" do país, o fortalecimento do nacionalismo russo e da Igreja Ortodoxa.

Soljenitsin nunca se filiou a nenhum partido ou movimento social. Na Rússia pós-comunista, ele representou uma espécie de "dono maior" do ideário nacionalista, que tanto seduziu os reformistas mais radicais quanto os monarquistas e neofascistas entrincheirados na oposição. Na Rússia, continuou sendo um crítico do governo: "Somente uma democracia a partir das bases pode nos ajudar a renovar nossa sociedade", dizia. Ele morreu em Moscou em 3 de agosto de 2008.