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1980: Banido o dissidente soviético Andrei Sakharov

Miodrag Soric (gh)

Em 22 de janeiro de 1980, o cientista e dissidente político soviético Andrei Sakharov era banido para Gorki, na então União Soviética. Seus contatos com o Ocidente o haviam tornado um incômodo para o governo soviético.

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Andrei Sakharov com Jelena Bonner
O físico e crítico do regime soviético Andrei Sakharov com Jelena Bonner em Gorki em fevereiro de 1980Foto: picture-alliance/dpa

"Naturalmente estou muito emocionado. Este passo tornou-se possível graças à grandiosa proteção internacional. Todos esses anos, fui defendido pelos colegas cientistas, por políticos e amigos, meus filhos e minha mulher." Essas foram as primeiras palavras de Andrei Sakharov ao desembarcar na estação ferroviária de Moscou em 1986.

Mais de cem jornalistas esperavam o famoso dissidente soviético no seu retorno após quase sete anos de desterro em Gorki (hoje Nizhni Novgorod). A libertação do físico nuclear ocorrera por ordem do então chefe do Partido Socialista Unificado (PSU), Mikhail Gorbatchov, que lhe havia comunicado a decisão por telefone.

Gorbatchov queria demonstrar ao mundo que seguia uma política diferente da de seus antecessores, que haviam mandado Sakharov para o isolamento em Gorki, a 22 de janeiro de 1980.

Tiro saiu pela culatra

Gorki, situada a 400 quilômetros de Moscou, era uma cidade proibida para estrangeiros. Ao prender Sakharov, o promotor público lhe disse que seria desterrado para que não tivesse mais contato com correspondentes estrangeiros e seu nome sumisse da imprensa internacional. Devido à sua fama, os líderes comunistas não ousavam simplesmente confiná-lo – como faziam com outros dissidentes.

O plano da KGB (serviço secreto soviético), que organizou e vigiou o desterro para calar o cientista, não deu certo. Políticos ocidentais e intelectuais de todo o mundo exigiam a libertação de Sakharov. Um deles, o dissidente Lev Kopelev, lembra que, ao receber o telefonema de Gorbatchov, Sakharov imediatamente pediu a libertação de outros presos políticos.

A partir de 1988, Sakharov integrou a direção da Academia das Ciências e, em 1989, assumiu o mandato parlamentar na ala dos "reformistas radicais" do Congresso dos Deputados do Povo. Em 14 de dezembro do mesmo ano, faleceu, aos 68 anos de idade, vítima de uma parada cardíaca.

Luta longa por justiça e democracia

Sakharov foi símbolo da coragem civil e da consciência russa. Destemido, lutou pela justiça e pela democracia com cartas abertas, greves de fome e entrevistas à imprensa. Protestou contra o tratamento forçado de presos políticos em clínicas psiquiátricas e ergueu a voz contra a invasão das tropas soviéticas no Afeganistão.

Em 1968, pouco antes de as tropas do Pacto de Varsóvia reprimirem a chamada Primavera de Praga, Sakharov publicou suas Reflexões sobre Progresso, Coexistência Pacífica e Liberdade de Pensamento. Pouco depois, perdeu o emprego de físico.

Por haver atuado no programa nuclear secreto, as autoridades soviéticas o impediram de viajar ao Ocidente. Embora nunca tivesse se filiado ao PSU, a direção do partido o distinguiu com altas condecorações e lhe concedeu inúmeros privilégios nos anos 50 e 60.

Sakharov, no entanto, nunca foi subornável. Lutou contra a tecnologia militar atômica e se engajou na defesa do meio ambiente. Em 1970, criou em Moscou o Comitê "Inoficial" dos Direitos Humanos, baseado nos princípios das Nações Unidas.

Em 1975, Sakharov recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

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