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HistóriaPolônia

1982: Proibição do sindicato Solidariedade

Gerhard Haase Publicado 8 de outubro de 2012Última atualização 8 de outubro de 2022

No dia 8 de outubro de 1982, o sindicato independente Solidarnosc foi oficialmente proibido na Polônia. Atrás desta atitude, escondia-se o desespero de um sistema político à beira do naufrágio.

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Polen Solidarnosc Demonstration
Foto: Getty Images/AFP/G. Duval

Os operários do estaleiro estatal já haviam entrado em greve há dez dias. De início, os trabalhadores pretendiam apenas conseguir um aumento de salário com os protestos. A situação econômica na Polônia era crítica no verão europeu do ano de 1980: as prateleiras dos supermercados estavam vazias, filas imensas formavam-se em frente aos estabelecimentos que ainda tinham algo a oferecer. O quadro era, enfim, de emergência.

De repente, no entanto, um jovem de bigodes espessos destacou-se entre os grevistas. Seis anos depois de trabalhar como montador no Estaleiro Lênin, de participar da comissão de fábrica, envolvida nos movimentos operários em 1970, e de ser demitido após uma nova greve, seu nome passou a ser conhecido em todo o mundo: Lech Walesa.

Rapidamente, os trabalhadores do estaleiro polonês adquiriram confiança nesse homem, tratado por eles como "Leszek". Acima de tudo, a greve operária ganhou um caráter político com a participação de Walesa. Além de um melhor abastecimento da população com alimentos, a lista de exigências dos trabalhadores incluía a liberdade de imprensa e opinião, o direito de greve e a legalização dos sindicatos livres e independentes.

Nesse décimo dia de greve no estaleiro polonês, aconteceu o inconcebível. Após longos e difíceis dias de espera, Varsóvia resolveu finalmente enviar uma comissão governamental, liderada pelo vice-primeiro-ministro Miecyslaw Jagielsky, para dar curso às negociações com os grevistas. Entre os operários, o clima era de otimismo: "Se eles negociam, não vão atirar", afirmavam vários deles, relembrando o final sangrento das manifestações de dez anos antes.

Negociações difíceis

Na noite de 23 de agosto de 1980, quando Lech Walesa caminhava em direção a um subúrbio de Gdansk, em companhia de dois colegas, com o objetivo de encontrar-se com Jagielsky, a sua confiança era inabalável: "Esperei dez anos por esta situação. Em 1970, eu já participava dos movimentos. O sangue das vítimas derramou-se sobre mim. Antigamente, eu ainda não pertencia ao comando, pois tinha apenas 27 anos. Naquela época, não tinha experiência alguma e não fui capaz de agir tão bem, o que eu assumo. Agora, eu sou capaz de conduzir tudo de uma maneira um pouco melhor".

Sucedeu-se uma série de difíceis negociações entre os grevistas e a comissão governamental. Jagielsky alimentara, de início, esperanças de desmantelar a greve sem cumprir as exigências dos operários. No final das negociações, ele teve de ceder aos interesses dos grevistas.

Na noite do dia 29 de agosto, Jagielsky acabou, até mesmo, por envolver-se nas questões relativas à existência de um sindicato livre. "Eu sugiro registrar esse ponto. Vou assinar, ir até Varsóvia, onde a reunião plenária do Comitê Central tem início às três horas da tarde. Vou discursar sobre o assunto e voltar até aqui. Peço então que assinemos o acordo solenemente", declarou o representante do governo.

No dia seguinte, Jagielsky estava de volta, após a aprovação dos quesitos por parte do Partido Comunista. Lech Walesa declarou então a greve por encerrada, o que marcou o nascimento do sindicato independente Solidariedade (Solidarnosc). Alguns anos mais tarde, no entanto, o governo comunista revogaria as suas concessões, afirmando que a liberalização forçada tinha abalado a sua autoridade e que as melhorias materiais concedidas teriam desequilibrado o orçamento público.

No dia 13 de dezembro de 1981, o general Wojciech Jaruzelski assumiu o poder, declarando o estado de sítio no país. Milhares de pessoas foram presas ou detidas, entre elas, o líder sindicalista Lech Walesa. Dez meses mais tarde, em 8 de outubro de 1982, veio a cartada decisiva: o governo proibiu oficialmente o sindicato Solidariedade. Atrás desta atitude, escondia-se o desespero de um sistema político à beira do naufrágio.