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A cem dias dos Jogos, desinteresse entre os brasileiros

Roberta Jansen, do Rio27 de abril de 2016

Pesquisa aponta que apenas 1% da população acredita numa real mobilização popular para o evento. Atletas e organizadores apostam que chegada da tocha e proximidade do início das Olimpíadas podem aumentar entusiasmo.

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Homem assiste à cobertura de protestos na televisão: crise desviou interesse dos brasileiros pelos Jogos
Homem assiste à cobertura de protestos na televisão: crise desviou interesse dos brasileiros pelos JogosFoto: DW/T. Käufer

O início da turnê da tocha olímpica pelo Brasil, na próxima terça-feira (dia 03/05), enche de expectativas organizadores e atletas. A visão do fogo olímpico, aceso em Atenas, na Grécia, na última quinta-feira, deve reacender, acreditam eles, o entusiasmo da população – atualmente muito mais focada no possível impeachment da presidente Dilma Rousseff do que no evento esportivo.

Pesquisa feita pela universidade Unicarioca e divulgada no início deste ano mostrou que uma parcela significativa da população não estaria muito interessada no evento. De acordo com o levantamento, feito com 1.144 pessoas, 21% dos cariocas afirmaram que não pretendiam assistir aos Jogos nem pela televisão. Outros 19% disseram que ainda não sabiam o que iriam fazer entre os dias 5 e 21 de agosto. E apenas 1% da população afirmou acreditar numa mobilização popular, com decoração de ruas e eventos coletivos para assistir às competições.

“Detectamos certo desinteresse da população e acreditamos que, com o aprofundamento da crise e, mais recentemente, a queda da ciclovia, essa sensação deve se aprofundar”, afirma o coordenador do Laboratório de Práticas de Pesquisas da Unicarioca, Jalme da Silva Pereira, especialista em marketing e psicologia social.

Uma nova pesquisa será feita em maio, no entanto, e já deve captar também os primeiros efeitos da passagem da tocha olímpica pelo território nacional.

Desfile da tocha

Mais de 20% dos cariocas afirmam que não pretendem assistir aos Jogos nem pela televisão
Mais de 20% dos cariocas afirmam que não pretendem assistir aos Jogos nem pela televisãoFoto: picture-alliance/dpa/M.Sayao

O tour da tocha começa por Brasília e atravessará 335 cidades do país. Quinze mil pessoas participarão do trajeto de 22 mil quilômetros por ruas e estradas brasileiras. O evento termina daqui a cem dias, no Rio de Janeiro, em 5 de agosto, data da cerimônia de abertura da primeira olimpíada realizada na América do Sul. O desfile da tocha, símbolo máximo dos jogos, deve aproximar a população da competição, segundo escreveu o presidente da Autoridade Pública Olímpica, Marcelo Pedroso, em artigo publicado na semana passada na imprensa brasileira.

O presidente da Empresa Olímpica Municipal, Joaquim Monteiro, concorda com o colega. Para ele, nem mesmo a crise política atravessada pelo país será capaz de tirar o brilho da festa. “A crise política é uma realidade, mas nosso país vem mostrando que tem instituições maduras para lidar com ela”, afirma, em entrevista por e-mail. “Ter uma Olimpíada em sua casa inspira o melhor de cada um dos envolvidos no processo de fazer os Jogos acontecerem."

Os atletas que participarão dos Jogos também se dizem animados e acreditam que o humor da população deve mudar com a proximidade das Olimpíadas.

"Na minha opinião, a crise política no Brasil não ofuscará o brilho das Olimpíadas e das Paralimpíadas. Acredito que o esporte tem a capacidade de passar uma visão diferente e de mostrar um outro lado, um lado bom e positivo [do país], que não está atrelado a nenhum vínculo político", afirma o atleta paralímpico Lucas Prado, velocista que perdeu 100% da visão. "Acredito que, quando as Olimpíadas começarem, a população vai desviar um pouquinho o foco de tudo que está acontecendo", acrescentou o corredor, que já ganhou cinco medalhas em Jogos Paralímpicos (duas de prata em Londres, em 2012, e três de outro em Pequim, em 2008).

Venda de ingressos

As atletas olímpicas Duda Miccuci e Luisa Borges veem os Jogos de forma mais otimista
As atletas olímpicas Duda Miccuci e Luisa Borges veem os Jogos de forma mais otimistaFoto: DW/R. Jansen

O velocista paralímpico Alan Fonteles, que tem as duas pernas amputadas, concorda com o colega: “Não acredito que a crise tire o brilho dos Jogos Olímpicos. Infelizmente, aconteceu esse acidente horrível na ciclovia. Mas os Jogos vão acontecer e todos vão estar lá torcendo", comenta ele, que é campeão paralímpico e mundial de atletismo.

Sim, é fato que o brasileiro não é muito dado a se programar com antecedência. Mesmo para eventos de grande porte. Do total de 7,4 milhões de ingressos para os Jogos, menos da metade foi comprado (3,5 milhões). Porém, até agora, apenas 5,7 milhões foram disponibilizados ao público.

Os demais ingressos serão liberados aos poucos até as vésperas dos Jogos. Os organizadores acreditam que o pico de vendas acontecerá em maio, com o início do tour da tocha, e em junho, quando os ingressos estarão disponíveis também nas bilheterias – e não só na internet como agora.

As atletas olímpicas Duda Miccuci e Luisa Borges, atuais campeãs sul-americanas de nado sincronizado, acreditam que já dá para sentir nas ruas a empolgação da torcida. “Acho que a população está animada com os Jogos por serem os primeiros realizados na América do Sul”, dizem. “Pelas ruas do Rio já dá para sentir que as pessoas estão bem empolgadas e torcendo pela gente.”