1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
ReligiãoUcrânia

A controversa oposição de Kiev à Igreja Ortodoxa Ucraniana

Miodrag Soric de Munique
5 de julho de 2023

Em visita à Alemanha, bispo ucraniano critica governo de seu país por se mostrar hostil em relação à sua igreja e acusá-la de colaborar com Patriarcado de Moscou

https://p.dw.com/p/4TT8h
Bispo Sylvestr
Bispo Sylvestr: em visita à Alemanha, religioso fez críticas ao governo ucranianoFoto: Miodrag Soric/DW

"A Igreja Ortodoxa Ucraniana (IOU) está passando pelo momento mais difícil de sua história", disse o bispo Sylvestr (Stoichev) da IOU durante uma visita a Munique. Ele fala para centenas de cristãos ortodoxos sérvios na Congregação de São João Vladimir. Não é apenas a guerra de agressão russa que está dificultando a vida dos fiéis ortodoxos na Ucrânia. Além disso, o governo ucraniano é politicamente hostil à IOU, que acusa de colaborar com o Patriarcado de Moscou. "Essas alegações não têm nada a ver com a realidade", disse o bispo Sylestr à DW.

Laços rompidos com a igreja russa

Após o início da invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, a Igreja Ortodoxa Ucraniana cortou relações com Moscou justamente porque o patriarca Cirilo, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, não condenou o ataque ao país vizinho. Em vez disso, o líder da igreja em Moscou também está tentando publicamente se aproximar do presidente Vladimir Putin. Ele até inventou razões para justificar a guerra brutal que ceifou centenas de milhares de vidas.

"Não oramos por Cirilo em nossos cultos, nem o mencionamos", disse o bispo Sylvetr. Nos serviços, eles homenageiam as vítimas ucranianas. "Eu e todo o clero da Igreja Ortodoxa Ucraniana estamos rezando pela vitória da Ucrânia", diz ele.

Muitos padres da Igreja Ortodoxa Ucraniana servem como capelães militares nas linhas de frente. Praticamente não há comunicação entre a Igreja Ortodoxa Ucraniana e o Patriarcado de Moscou, segundo o bispo Sylestr. Por uma decisão de 27 de maio de 2022, sua igreja foi oficialmente separada de Moscou.

Outra prova da independência de Moscou: a IOU começou – para grande desgosto da Igreja Ortodoxa Russa – nas últimas semanas e meses a fundar suas próprias paróquias no exterior; na Alemanha, por exemplo, em Berlim, Colônia, Dresden, Hamburgo, Leipzig e Freiburg. Mais de um milhão de refugiados ucranianos vivem atualmente na Alemanha. Dificilmente se pode esperar que eles compareçam aos cultos nas congregações russas onde orações são feitas para o patriarca Cirilo.

Visão aérea de Kiev com o chamado Mosteiro das Cavernas ao centro
O famoso Mosteiro das Cavernas de Kiev está no centro de uma briga entre governo e Igreja Ortodoxa UcranianaFoto: Artjazz/Shotshop/picture alliance

Liderança ucraniana é crítica à igreja

Não importa o quanto a liderança da Igreja Ortodoxa Ucraniana tente provar sua independência de Moscou, a desconfiança do governo ucraniano permanece. De acordo com a vontade do governo ucraniano, 200 monges e 400 seminaristas – ou seja, futuros padres – devem deixar o famoso Mosteiro das Cavernas de Kiev. Uma decisão contra a qual a Igreja Ortodoxa Ucraniana está tomando medidas legais.

O conhecido teólogo católico e especialista Thomas Bremer, que lecionou por décadas na Universidade de Münster, afirma que a IOU está sendo tratada de forma abertarmente hostil. "De acordo com nossas ideias ocidentais, a liberdade religiosa significa que o Estado não precisa interferir nos assuntos internos das igrejas", explicou ele em entrevista à DW. A maneira como o Estado ucraniano está agindo contra a igreja está "à beira de violar os princípios da liberdade religiosa", diz Bremer. Ele afirma que se a Ucrânia quer se aproximar da Europa – algo que os europeus também apoiam – então isso significa que Kiev tem que reconhecer os princípios relacionados aos direitos humanos e à liberdade de religião.

O bispo sérvio-ortodoxo Grigorije (Duric) tem opinião similar. Ele é o chefe de cerca de um milhão de cristãos ortodoxos sérvios na Alemanha. Foi ele quem convidou o bispo Sylvestr para o serviço conjunto na capital da Baviera. Após o culto, muitos crentes tentam falar com o convidado da Ucrânia: e o bispo Sylvestr chama claramente os russos como os agressores no conflito comesm seu país.