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Como era a RDA?

Gabriela Schaaf (av)16 de janeiro de 2009

A queda do Muro de Berlim, as transformações e o que aconteceu depois: temas para o escritor Ingo Schulze. Numa entrevista a DW-WORLD.DE, ele fala sobre sua imagem da Alemanha Oriental e o "desaparecimento do Oeste".

https://p.dw.com/p/GRuz
Ingo SchulzeFoto: PA / dpa

DW-WORLD.DE: Sr. Schulze, sua imagem pessoal da República Democrática Alemã (RDA, a antiga Alemanha Oriental), como seria?

Ingo Schulze: Como seria? Haveria muitos livros. Haveria muitos prédios antigos e relativamente muito tempo e muitos encontros nas casas. Acho que esses espaços privados, domicílios, cozinhas, mas também os passeios, isso foi algo muito marcante. Que as pessoas, quando quisessem se visitar, precisassem combinar longamente o encontro. Ou simplesmente passar e tocar a campainha na esperança de que alguém estivesse em casa. Mas todas essas generalizações tendem naturalmente ao clichê.

Nos cadernos de cultura dos jornais alemães, recordar a RDA é novamente um grande tema. O jornal Die Zeit escreveu: "Os alemães não conseguem recordar. Mente-se, cala-se ou se briga." É verdade?

A cada nova experiência, olha-se também para o passado de uma nova maneira. E evidentemente existem vivências contraditórias, que não se encaixam. Não há somente uma verdade. E por isso acho muito bom que exista a arte: numa história, num poema ou numa peça de teatro, verdades podem ser justapostas. Afinal, é também por isso que escrevo, porque não quero mais oferecer generalizações.

A RDA é realmente um país desaparecido. O que lhe faz ainda recordar o passado, quando o senhor, por exemplo, passeia por Dresden, a cidade de sua infância?

Buchcover: Ingo Schulze - Adam und Evelyn
Capa do livro 'Adam und Evelyn'

Há dois anos fui a Dresden sem informar os meus amigos, só para poder andar uma vez sozinho pela cidade. Foi uma desilusão. Nunca fiz doações para a [reconstrução da] igreja Frauenkirche, mas gostava de sua forma, e então me encontro diante dela pensando: "Oh Deus, é isso o centro de Dresden?" Mas, ainda muito pior, é o que foi construído ao redor, essa Disneylândia para turistas, de cimento e com uma fachada de gesso.

De repente, percebi: isso que nunca amei, essa mistura de barroco de Dresden e stalinismo, ainda era, de alguma maneira, arquitetura. Ali ainda se podia ler os sinais de um tempo, não era uma coisa qualquer. Agora querem construir no centro de Dresden uma terra de contos de fadas, mas no fundo trata-se apenas de turismo e comércio. O que nunca considerei como arquitetura é subitamente revalorizado e adquire quase um semblante humano.

O senhor criticou que a arquitetura tem devastado muita coisa, ou melhor, que os projetos se conectam com tempos antigos, saltando o período do nacional-socialismo e da RDA. Para recordar a RDA, deve-se reconstruir as estátuas de Lênin?

Alegra-me muito que as velhas estátuas de Lênin hajam desaparecido. Mas, por exemplo, em Berlim, pôr abaixo o Palácio da República é um absurdo. Em Berlim sinto um verdadeiro ódio pelo moderno. Tem-se a impressão de que se deve ousar um salto do Império Germânico para a grande República Federal, e isso se estende também a âmbitos menores.

Eu não quero cultuar os prédios caindo aos pedaços e os buracos de bala nas fachadas. Que muita coisa seja demolida, daria ainda para suportar. Mas, o que acontece por detrás dos panos, isso eu acho perigoso: que cada vez mais desapareçam espaços públicos e surjam espaços comerciais. Um exemplo é a praça Potsdamer Platz, em Berlim. Ali são quase todos turistas, nenhum berlinense passa por ali. Aquilo não é um lugar público, ele foi, por assim dizer, entregue às empresas. E o mesmo acontece com tantas outras coisas.

Democracia é a existência de um espaço público. Na RDA, isso era sempre uma coisa oficiosa, mas agora, que realmente existe a possibilidade de se criar um espaço público, nesse momento o comércio ataca e degrada as pessoas a consumidores.

O senhor disse uma vez que o desaparecimento do Leste era um problema que lhe concerne menos do que o desaparecimento do Oeste. O que quis dizer com isso?

Com isso me refiro apenas à "economização" de todos os aspectos da vida. Não posso falar, por experiência própria, de como era no Oeste nos anos 70 ou 80 – mas, pelo que ouvi dizer, naquela época havia um padrão completamente diverso, uma outra noção de justiça social.

Desde 1990, desde quando conheço o Oeste, cada vez mais a economia engole tudo e a política bate em retirada. Por exemplo, por que não se pode fazer do serviço ferroviário uma coisa útil às cidadãs e aos cidadãos deste país? Poderia-se reduzir o preço dos bilhetes e construir uma alternativa ecológica. Por que é que agora a ferrovia tem também que gerar lucros? Há tantas coisas que não acho boas nessa tendência, e isso também me deixa furioso.

Ingo Schulze, nascido em 1962 em Dresden, é escritor e vive em Berlim. Seu romance Histórias Simples da Alemanha Oriental (1998) foi considerado por muitos críticos o longamente esperado romance da reunificação. Seu novo livro, Adam und Evelyn, uma tragicomédia situada em 1989, ano da queda do Muro, foi indicado para o Prêmio Alemão do Livro 2008.