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A extravagância dos artistas da Florença do século 16

Ruben Kalus (ca)25 de fevereiro de 2016

Pescoços longos, ventres rechonchudos, cores berrantes: para se destacar de mestres do Renascimento como Da Vinci, maneiristas desenvolveram estilo inusitado e, às vezes, bizarro. Mostra em Frankfurt aborda tema.

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"Vênus e Cupido" (1533): pintura de Jacopo Pontormo pode ser vista em FrankfurtFoto: Antonio Quattrone

No mundo da arte, quem quiser se sobressair tem de desenvolver um estilo próprio. Foi dessa forma que os maneiristas entraram para a história da arte. "Elegante, refinado, artificial", descreve o historiador da arte Bastian Eclercy a nova geração de artistas florentinos no início do século 16.

Esses artistas queriam se destacar de grandes mestres do Renascimento como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael Sanzio. Cores berrantes, membros desproporcionais, formas e perspectivas inusitadas caracterizam as obras do Maneirismo de Florença. "Um estilo caprichoso e extravagante, por vezes bizarro", diz Eclercy.

Bastian Eclercy também é o curador da mostra Maniera. Pontormo, Bronzino und das Florenz der Medici (Maneirismo. Pontormo, Bronzino e a Florença dos Médici), inaugurada nesta semana e que poderá ser vista até o próximo dia 5 de junho no Museu Städel, em Frankfurt.

Ausstellung Maniera. Pontormo, Bronzino Bildnis einer Dame in Rot
"Retrato de uma dama em vermelho" (cerca de 1533), de Agnolo BronzinoFoto: Städel Museum – ARTOTHEK

Na exposição em Frankfurt pode ser visto um grande número de desenhos, pinturas, e esculturas da época. O ponto de partida, como também a peça central da mostra, é o Retrato de uma dama em vermelho, de Agnolo Bronzino.

Não se trata somente de uma das pinturas mais valiosas em posse do Museu Städel, mas também de umas das obras-chave do retrato pictórico em Florença. Sublimidade e frieza emanam do retrato da dama de vestido vermelho com seu cão de estimação no colo.

Ela se mantém distante ao olhar para o observador – um efeito que Bronzino, pintor da corte dos Médici, gostava de pôr em cena.

Empréstimos de todo o mundo

Pintores como Rosso Fiorentino também foram mais ousados com os motivos clássicos do que, por exemplo, Rafael. Isso também se evidencia na exposição. Enquanto Madona Esterházy (por volta de 1507-1508), de Rafael, é marcada por cores suaves e uma estrutura simples e regular, a Virgem com Menino e São João Batista Criança (por volta de 1515) é mais dinâmico e atrevido: os traços dos rostos dos dois garotos têm algo de caricatura e, através do vestido vermelho da Madona, podem-se ver os seios e o umbigo.

Ausstellung Maniera
"Virgem com Menino e São João Batista Criança" (por volta de 1515), de Rossi FiorentinoFoto: Städel Museum

Para refletir melhor a diversidade de estilos e a obstinação dos artistas florentinos da forma mais ampla possível, o Städel expõe 120 peças de museus de todo o mundo, entre eles, do Louvre parisiense, do Metropolitan nova-iorquino e da Galeria Nacional (Staatsgallerie) de Stuttgart.

Muitos quadros importantes vêm, naturalmente, de Florença, o centro do Maneirismo. Emprestado pela Galleria Palatina, O martírio dos dez mil, de Jacopo Pontormo, retrata o sofrimento humano com intensa corporeidade. O retrato do duque Alessandro de Médici, de Giorgio Vasari, mostra o governante florentino em armadura e pertence à mundialmente famosa Galeria Uffizi.

Ausstellung Maniera. Pontormo, Bronzino Raffael
O retrato do duque Alessandro de MédiciFoto: Ministerium für Kulturgüter und Tourismus

Os objetos apresentados nas oito seções da exposição também acompanham a história da cidade de Florença. Fica clara a influência dos Médici, poderosa família de banqueiros florentinos, na arte. A mostra também aborda as turbulências políticas da época, como a conquista de Roma pelo rei espanhol Carlos 5° e a expulsão temporária dos Médici de Florença.

Além de pinturas, desenhos e esculturas, o curador Eclercy levou exemplos da arquitetura maneirista para Frankfurt. Para isso, o Museu Städel reconstruiu em escala 1:3 o vestíbulo da Biblioteca Laurenciana de Michealangelo – encomendada na época pelo papa Clemente 7° e considerada obra-chave da arquitetura maneirista.

Origem do termo Maneirismo

Giorgio Vasari não era somente um artista talentoso e pintor da corte dos Médici, mas foi também de grande importância para a historiografia da arte. Todo um capítulo da exposição é dedicado a ele. A segunda edição de sua obra-prima literária Vite (Vidas), de 1568, é considerada até hoje o primeiro tratado sistemático da história da arte. Ele contém a primeira abordagem teórica do Maneirismo.

O nome do estilo que antecedeu ao barroco também foi obra de Vasari: em italiano Maniera (maneira) de mano (mão) significa também "forma" ou "estilo", descreve uma assinatura individual que caracteriza a arte dos maneiristas. Séculos mais tarde, o historiador de arte inglês John Shearman rebatizou ironicamente esse período da história da arte como The stylish style, algo como "o estilo estiloso".

A exposição Maneirismo. Pontormo, Bronzino e a Florença dos Médicipode ser vista de 24 de fevereiro a 5 de junho no Museu Städel, em Frankfurt.