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Tudo em família

5 de junho de 2011

"É como uma grande festa de família à custa de outros", afirma Guido Tognoni, que ocupou diversos cargos na Fifa. Ninguém deve esperar grandes mudanças na próxima gestão Blatter, completa.

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Joseph Blatter: poderes quase ilimitados do presidente da FifaFoto: picture-alliance/dpa

Ele sabe do que está falando: o suíço Guido Tognoni conhece a Fifa muito bem. Como porta-voz e diretor de marketing esteve durante anos por dentro da organização. Tognoni chegou a atuar como braço direito do então secretário-geral Joseph Blatter, mas teve de deixar a Fifa pela primeira vez em 1995, após cair em desgraça com Blatter.

Em 2001, retornou como diretor de marketing, mas só ficou no cargo até 2003. Hoje é um dos mais severos críticos da Fifa e defende uma reforma completa no comando da organização.

Deutsche Welle: Você trabalhou por quase 20 anos para a Fifa e a Uefa e conhece bem a Fifa. A Federação Internacional de Futebol nunca foi tão criticada como agora e, mesmo assim, Joseph Blatter foi reeleito por esmagadora maioria. A Fifa sofre de perda da realidade?

Guido Tognoni: Sim, é o que parece. Basta observar uma reunião da Fifa: os delegados e os altos funcionários ouvem apenas a si mesmos. Celebram a si mesmos, agradecem uns aos outros, batem-se nos ombros, comem e bebem juntos. Desenvolve-se um verdadeiro sentimento de camaradagem e eles se sentem bem com isso. É preciso observar também quem representa a Fifa. São talvez oito grandes e outras 200 pequenas associações, que ficam felizes quando podem voar para Zurique e ser bem tratadas. Não se pode, portanto, esperar que disso surja um ambiente crítico.

A pressão externa criou uma união interna?

É o que repetidamente se constata. Blatter tem uma habilidade excepcional de criar uma atmosfera familiar, para que as pessoas se aproximem dele e também umas das outras. É como uma grande festa de família à custa de outros.

Mesmo assim, soa bizarro para o observador de fora o fato de haver críticas, acusações de corrupção, intrigas e, no congresso, todos se dão bem.

Sim, isso é fenomenal. Uma única associação se opôs a esse silêncio. Foram os ingleses. Na verdade, eles pediram algo bastante normal: por que não adiar as eleições? Mas foram duramente criticados por isso. Por isso, têm-se a impressão de que a realidade não é mais percebida corretamente na Fifa.

Antes da eleição, o adversário de Blatter foi tirado do caminho pela comissão de ética. Críticos disseram que o próprio Blatter poderia estar por trás disso...

Na Fifa, não se pode descartar nada. Bin Hammam tomou uma decisão solitária. Ele não disse nada até mesmo para mim, que sou muito próximo dele. Disse que queria simplesmente acalmar a situação. Mas é claro que Blatter tem braços muito longos. Não quero necessariamente afirmar que ele está por trás disso. Mas quando você sabe o quanto ele se esforçou para ganhar [a eleição] e para deixar o adversário de fora, é preciso dizer que ele fez uso do seu poder.

Pouco antes da eleição, surgiram acusações contra Joseph Blatter, de que ele teria distribuído "presentes" no valor de cerca de 700 mil euros durante a campanha eleitoral. O que acontecerá agora com essa acusação?

Aí é possível observar os recursos quase ilimitados do presidente da Fifa. Ele pode enviar um milhão para lá ou para cá. E quando se levanta a questão "para que é o dinheiro?", ele diz: "É para um projeto de desenvolvimento ou um presente de aniversário para a Concacaf". Com isso quero mostrar os recursos quase inimagináveis que um presidente da Fifa tem para garantir a própria posição.

Afinal, a Fifa pode mudar sob o comando de Joseph Blatter?


Quatro anos sob o comando de Sepp Blatter não serão revolucionários. Se ele finalmente puser em prática algumas das coisas que prometeu, então podemos dar a ele uma chance. Mas eu não vejo uma grande mudança se aproximando.

Autor: Joscha Weber (lf)
Revisão: Alexandre Schossler

Guido Tognoni
O suíço Guido Tognoni em 2002, pouco antes de deixar a Fifa pela segunda vezFoto: APImages