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A imagem dos alemães no mundo

Wolfgang Dick (smc)18 de abril de 2013

A forma de a Alemanha lidar com a situação financeira internacional e a crise do euro alterou em muitos países a imagem dos alemães. Entretanto, o perfil atual também surpreende.

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Foto: picture alliance/Sven Simon

Muito dominantes, professorais e impacientes. Sabichões, indiferentes e egocêntricos. Atualmente, "os alemães" são vistos assim, não só nos países do sul da Europa, como Grécia, Itália e Espanha. São impressões negativas que valem quase em todo o mundo. Mesmo nos países onde a Alemanha têm tradicionalmente uma boa reputação. Isso foi confirmado por correspondentes alemães no livro So sieht uns die Welt (O mundo nos vê assim), lançado pela editora Westend.

Eles expuseram suas experiências com a imagem dos alemães em mais de 15 países. Naturalmente não se trata de uma análise representativa, mas o livro é baseado em inúmeras conversas e encontros que os jornalistas tiveram em vários países, tanto com cidadãos comuns como com os representantes da elite.

"Somos respeitados, mas não amados", diz Hanni Hüsch, que nos últimos anos trabalhou para a emissora alemã ARD como correspondente nos Estados Unidos. Ela reafirma o que muitos dos seus colegas também já constataram. O surpreendente, porém, é que as qualidades ruins atribuídas aos alemães não têm um efeito especialmente negativo. A admiração pelas características positivas predomina.

Só meia verdade

Apesar de todas as críticas, os alemães são considerados em todo o mundo diligentes, disciplinados, muito bem organizados e altamente eficientes. Isso afirmam até mesmo os italianos e os gregos, que nas manifestações em Atenas, exibiram bonecas com a cara da chanceler federal Angela Merkel em uniforme nazista, demonstrando assim claramente a sua insatisfação contra as exigências do governo alemão para o resgate do euro.

"Os gregos respeitam os desempenhos e as virtudes dos alemães, que lhes permitem superar bem a crise", comenta o jornalista grego Jannis Papadimitriou. Ele fala também de uma nova tendência, com tons conciliadores. "No meio tempo, ficou claro que a Alemanha não quer abandonar os gregos."

A verdadeira surpresa, constatada pelos correspondentes em toda a parte quase unanimemente, é que existe um interesse novo e crescente pela Alemanha e seus habitantes. Durante muito tempo, a República Federal da Alemanha desempenhou um papel discreto e cauteloso no palco internacional, mesmo após a reunificação, que conferiu ao país maior grandeza e importância.

Bäckereisterben in Deutschland
Diligência alemã: reconhecida e apreciadaFoto: picture-alliance/dpa

Em muitos conflitos, os alemães se distanciaram diplomaticamente ou ofereceram pouca ajuda e apoio. Desde que os políticos alemães, em relação à crise financeira e do euro, foram forçados a tomar posições claras e a defender, o perfil ficou logo evidente. Entretanto, este não assusta, mas deixa a Alemanha e os alemães mais atraentes, dizem os correspondentes sobre suas impressões em diversos países.

Amor brasileiro frustrado

Muita gente na Alemanha não tem a mínima noção do grau de admiração que goza, em várias partes do planeta. Assim, tão maior é a decepção nos países em questão, quando esses sentimentos não são retribuídos pelos alemães na mesma proporção.

Um exemplo são os chineses: "Na China, as pessoas acham a Alemanha fantástica, por ser um país que gerou tantos filósofos, músicos e cientistas", afirma Erning Zhu, da redação chinesa da Deutsche Welle. Porém "os alemães, infelizmente, não são tão interessados e, em geral, menos internacionalmente orientados".

Bildergalerie Non Verbale Kommunikation China Deutschland
Chineses gostariam de maior reciprocidadeFoto: picture alliance / dpa

É também pena que eles prezem tão pouco outras tradições, como a solidariedade entre seres humanos, denominada guanxi na China. "Os alemães se baseiam demais em regulamentos legais, e são pouco capazes de resolver problemas informalmente, no nível pessoal."

Também muitos brasileiros se mostram desapontados. Nos últimos anos, o país mostrou-se capaz de um incrível desenvolvimento positivo. No entanto, a chefe de governo da Alemanha só visitou o Brasil uma única vez. Nesse espaço de tempo – os brasileiros registraram muito bem – ela esteve seis vezes na China.

Turcos desistiram

Na Turquia, a imagem dos alemães é bastante diferenciada, já que tantas pessoas têm familiares que viveram e trabalharam na Alemanha. Há grandes laços de amizade e sentimentos fortes para com muitos cidadãos alemães. A relação com os políticos do país, no entanto, é considerada "envenenada". Os assassinatos de turcos por radicais neonazistas nos últimos anos e a forma como os responsáveis políticos lidaram com o fato, contribuíram para o mal-estar mútuo.

Mais grave ainda é o fato de Berlim ter negado à Turquia a filiação plena à União Europeia. "Muitas suscetibilidades foram feridas", relata o correspondente Jürgen Gottschlich. "Atualmente, a Turquia volta as costas para os alemães e amplia a importância de Istambul como ponto de conexão econômico entre a Ásia e o mundo árabe."

Falta coragem

Na Rússia, Polônia, Israel e Estados Unidos, poucos dos ressentimentos em relação aos alemães perduraram, devido a sua história e os crimes sob o regime nacional-socialista. A tranquilidade com que os alemães são aceitos como democratas estabelecidos e como nova geração surpreendeu vários correspondentes, mesmo depois de mais de 60 anos do fim da guerra.

Em Israel, a Alemanha é citada como melhor amiga e aliada. Na Polônia, que também tanto sofreu nas mãos dos alemães, o ministro do Exterior até mesmo exorta Berlim a ter mais ousadia nas atividades políticas, e não teme uma nova hegemonia germânica. E há muito os EUA aguardam que a Alemanha se empenhe mais no palco internacional.

Fußball WM 2006 Deutschland
Copa 2006 projetou Alemanha internacionalmenteFoto: Getty Images

Também para os simples cidadãos desses países, o passado nazista da Alemanha não tem mais quase nenhum peso. Desde a Copa do Mundo de Futebol de 2006, os ingleses seguem sendo fãs da nova Alemanha. Já os russos adoram o sistema alemão de saúde.

Tanto norte-americanos quanto habitantes do mundo árabe se maravilham com os carros, a cerveja e a qualidade de muitos outros produtos alemães. Para ilustrar a situação nos EUA, Hanni Hüsch lembra: antes havia em todo filme de James Bond um vilão de nacionalidade alemã. Hoje, isso não ocorre mais.

Sem estudos representativos

Naturalmente é importante como a Alemanha e seus cidadãos são vistos pelo mundo afora. Os alemães são turistas que querem ser bem tratados; firmas alemãs precisam vender seus produtos no exterior. Uma má imagem é ruim para os negócios. O consultor político britânico Simon Anholt reconheceu esse fato, e em 2005 lançou o Nation Brand Index.

Para chegar a esse índice, 20 mil tomadores de decisão de mais de 50 países respondem regularmente a uma pesquisa sobre a atratividade das diferentes nações para os investidores. Segundo a edição de 2012, a Alemanha ocupa o segundo lugar de preferência, antes do Reino Unido e somente atrás dos Estados Unidos.

Isso ilustra bem o dilema: enquanto potência econômica, há anos a Alemanha ocupa a liderança. Mas, e quanto aos aspectos humanos de seus cidadãos? O livro dos correspondentes internacionais foi a primeira tentativa, em muitos anos, de chegar a algumas respostas.

Symbolbild Made in Germany 125 Jahre Gütesiegel Qualität
"Made in Germany": garantia de qualidadeFoto: picture-alliance/dpa

Na qualidade de entidade de fomento ao idioma germânico e à cooperação cultural com a Alemanha em todo o mundo, no contexto de seus eventos o Instituto Goethe registra o que se pensa sobre os alemães. Porém nada é publicado. E, embora disponha de 150 sucursais em 93 países, o instituto não realiza um estudo regular sobre a imagem internacional alemã.

A postura do Ministério do Exterior é igualmente reticente. Oficialmente, uma porta-voz explica que nenhum instituto é encarregado pelo governo federal de avaliar a imagem da Alemanha no estrangeiro. Mas o ministro do Exterior certamente dispõe de numerosas informações a respeito, através de suas embaixadas e consulados. Entretanto, dar qualquer declaração a respeito é considerado algo altamente antidiplomático.