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A insanidade das sacolas plásticas no Brasil

1 de novembro de 2018

Ir ao supermercado no Rio não é só um exercício de paciência: o uso de sacolas plásticas chega a ser fascinante, de tão abusivo. Mas nem tudo está perdido: o canudinho dá esperanças, crê o colunista Philipp Lichterbeck.

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Plastik im Supermarkt
Foto: Marcel Kusch/dpa/picture-alliance

Estou na fila do caixa de um grande supermercado no Rio. Antes de sair, assegurei-me que o meu celular estava carregado. Pois eu sei que vou ter tempo para ler um jornal inteiro. A fila diante de mim nem é tão longa assim, são só seis outros clientes. O problema é outro: a sacola plástica.

Pois, por motivos cuja plausibilidade até agora tem me escapado, tudo o que se compra no Brasil tem que ser embalado em sacos plásticos. E isso, mesmo quando é retirado uns minutos mais tarde, como um pacotinho de chicletes.

Por isso, todo comerciante brasileiro que se preze tem um monte de sacos plásticos sob o balcão: sacolas azuis, pretas, brancas, em geral de qualidade duvidosa, rasgando logo. Por que ainda não se inventaram no Brasil bolsas plásticas que não arrebentem: esse permanecerá um dos eternos mistérios deste país

O medo de rasgar é também o motivo por que tudo é duas vezes mais lento no supermercado, pois tem que ser embalado logo em duas sacolas. O complicado processo de acondicionar uma dentro da outra devora o tempo de todos.

E assim o tempo escoa na fila. A caixa espera pacientemente até cada cliente ter realmente colocado tudo em duas sacolas, antes de atender ao próximo comprador. Decerto seria possível resolver esse problema bem facilmente, com uma ripa divisória, mas o atraso tecnológico não é o tema desta coluna.

Outra coisa que me surpreende: o supermercado recompensa os clientes que não usem sacolas plásticas com um desconto de três centavos para cada cinco produtos comprados. Então se deveria pensar que, num país com 13 milhões de desempregados, essa possibilidade de poupar fosse avidamente empregada.

Mas, longe disso, nem mesmo as caixas parecem conhecer a regra – embora a lei que obriga o supermercado a dar esse desconto esteja pregada nas paredes. Eu, pelo menos, tenho sempre que lembrar as funcionárias, toda vez que arrumo minhas compras numa mochila.

Faço isso de modo bem demonstrativo, para mostrar às outras pessoas: "Vejam só: vai rápido e é muito mais prático." Sou alemão, e temos esse jeito de querer sempre educar o resto do mundo. Mas nesse caso acho até que se justifique, pois o problema é sério.

No Brasil são distribuídas cerca de 1,5 milhão de sacolinhas por hora, como divulgou o Ministério do Meio Ambiente. Portanto chega-se a 13 bilhões de sacos plásticos por ano. Onde eles vão parar? Na maioria das vezes, infelizmente, na rua, e dali para o esgoto, que acaba entupido. Ou na floresta, num rio ou no mar, e por fim na barriga de uma baleia, matando-a.

Para fabricar uma bolsa plástica, utiliza-se petróleo ou gás natural, água e energia, e são liberados efluentes (dejetos líquidos). Portanto sua produção é altamente poluente.

As que seguem para os depósitos de lixo causam problemas, pois o plástico retém a água, impermeabilizando o solo e os aterros, dificultando a biodegradação dos resíduos orgânicos. De acordo com dados da associação de direitos do consumidor Proteste, as sacolas plásticas duram 200 anos quando são enterradas junto com o lixo comum. Isso, após terem sido utilizadas só por uns minutos.

É certo que os brasileiros não são os campeões mundiais das bolsas plásticas: os americanos jogam fora, a cada ano, 100 bilhões delas, o que significa o desperdício de 12 milhões de galões de petróleo. E também sei que no Brasil muitos lhes dão uma breve segunda vida, como sacos de lixo. Além disso, desenvolveu-se no país uma verdadeira cultura da sacola plástica. Por vezes me parece que os vendedores têm medo de ofender o freguês se não oferecerem a sacolinha.

Apesar disso, os brasileiros deveriam dar uma olhada no mundo, por exemplo para países como Bangladesh, Quênia ou Ruanda, onde sacos plásticos são banidos. É isso mesmo: esses países em desenvolvimento estão muito à frente. A pequena Ruanda, que já foi devastada por um genocídio, é considerada até mesmo como país mais limpo da África – coisa que posso confirmar, pois estive lá.

Outro exemplo: na Indonésia, uma das principais nações produtoras de lixo plástico, duas comunidades islâmicas conclamam o total de seus 100 milhões de fiéis a evitarem o material e a adotarem bolsas de bambu. Não seria essa uma boa ideia para a Assembleia de Deus ou a Igreja Universal?

Na Alemanha, aliás paga-se no supermercado entre 0,40 e 1,25 real por cada sacolinha plástica, o que resultou na redução do consumo a menos da metade, desde 2015. Hoje, os cidadãos do país gastam, em média, 29 sacolas por ano. Ou seja, exatamente tantas quantas o homem à minha frente na fila do supermercado acaba de usar para embalar suas compras.

Mas espera-se que em breve tudo isso vá mudar, pois parece que está chegando o fim dos sacos plásticos descartáveis nos supermercados. Uma nova lei banirá por completo seu uso no estado do Rio de Janeiro. Em seu lugar, bolsas reutilizáveis até 60 vezes e, depois, biodegradáveis, e com uma resistência mínima de dez quilos.

É grande a minha esperança de que essa lei seja implementada no próximo ano e que não se gere uma polêmica como em São Paulo. Lá, os sacos plásticos foram banidos dos supermercados, depois voltaram, foram proibidos novamente, e no fim tudo ficou como sempre esteve.

O que me dá esperança são os canudinhos. A versão plástica foi proibida no Rio, eles agora devem ser biodegradáveis. É fato que muitos estabelecimentos ainda ignoram a lei, mas recentemente, na feira, um vendedor de cocos me entregou um canudinho de palha, dizendo: "Aqui, custa um pouco mais para mim, mas é melhor para o planeta".

Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, ele colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para os jornais Tagesspiegel (Berlim), Wochenzeitung (Zurique) e Wiener Zeitung. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio.

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