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Massacre da Praça da Paz Celestial e a luta pela democracia

William Yang
4 de junho de 2019

Há trés décadas, Pequim repreendia violentamente um movimento pró-democracia. Muitos manifestantes fugiram para o exterior e se tornaram ativistas. Com ascensão econômica da China, eles lutam para manter a causa viva.

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Evento em memória às vítimas do massacre da Praça da Paz Celestial reuniu milhares de pessoas, em Hong Kong, em 2017
Evento em memória às vítimas do massacre da Praça da Paz Celestial reuniu milhares de pessoas, em Hong Kong, em 2017Foto: picture-alliance/Zuma/S. Yeung

Há exatos 30 anos, em 4 de junho de 1989, tanques rolaram pelas ruas de Pequim para reprimir protestos pacíficos na Praça da Paz Celestial, também conhecida por Praça Tiananmen. Há semanas estudantes e outros cidadãos vinham reivindicando reformas democráticas. No final de abril, dezenas de milhares de habitantes da capital chinesa aderiram aos protestos de rua e apoiaram os cerca de 100 mil estudantes. E o movimento se espalhou para muitas outras cidades da China.

Alguns dos líderes estudantis se lembram bem dos detalhes da noite de 3 a 4 de junho de 1989, quando a liderança do Partido Comunista decidiu resolver a situação com o uso da força.

"Ouviam-se tiros por toda parte. Foi como estar num campo de batalha", disse o ex-líder estudantil Zhou Fengsuo, em uma conferência em Taiwan. "A resistência corajosa de muitos cidadãos de Pequim permitiu que a maioria dos estudantes se retirasse pacificamente da praça", completou Zhou à DW.

O número exato de vítimas resultantes da operação militar segue incerto. De acordo com a mais recente publicação sobre a história da República Popular da China, do historiador alemão Klaus Mülhahn, centenas de pessoas foram mortas durante o avanço do Exército e a evacuação violenta da praça, e milhares ficaram feridas.

Os manifestantes que sobreviveram à investida militar ainda não estavam seguros. O governo chinês fez de tudo para deter principalmente os líderes estudantis. Muitos fugiram para o exterior, especialmente para os Estados Unidos e a França. Os menos afortunados passaram vários anos na cadeia antes de a China ceder à pressão internacional e autorizar sua saída do país.

Assim que se estabeleceram no exterior, vários estudantes iniciaram organizações para pressionar a China e apoiar a sociedade civil no país, como a Federação Independente de Estudantes e Acadêmicos Chineses (IFCSS, nos EUA).

A IFCSS obteve sucesso com seu trabalho de lobby nos Estados Unidos – uma lei promulgada em 1992 concedeu aos estudantes chineses que entraram no país entre 5 de junho de 1989 e 11 de abril de 1990 o direto permanente de residência no país.

O ex-líder estudantil Zhou lançou em 2007 a organização não governamental Humanitarian China. "Além de tentar manter a crença na democracia do movimento de 4 de junho, essas organizações foram importantes para levar os dissidentes chineses para fora do país e apoiá-los em seus novos lares", disse Zhou à DW.

O líder estudantil Wang Dan discursa perante uma Praça da Paz Celestial completamente lotada em 27 de maio de 1989
O líder estudantil Wang Dan discursa perante uma Praça da Paz Celestial completamente lotada em 27 de maio de 1989Foto: AP

Wang Dan, fundador da think tank Dialogue China, com sede em Washington, segue a mesma linha de raciocínio e afirmou que as organizações têm desempenhado há 30 anos "o papel de testemunhas, apoiadores e instigadores".

"Como quase todos os ex-líderes estudantis não moram mais na China, não podemos liderar um movimento democrático no país. Mas precisamos apoiar o que ainda resta do movimento, o tanto quanto pudermos", disse Wang.

O ex-líder estudantil citou o ano de 2011 como um exemplo positivo. Naquele ano ocorreram manifestações em diversas grandes cidades chinesas contra a corrupção e aumentos de preços e em prol de reformas políticas.

Papel especial de Hong Kong e Taiwan

Hong Kong, na época ainda uma colônia do Reino Unido, desempenhou um papel significativo durante e após os protestos. Em 21 de maio de 1989, uma manifestação com cerca de um milhão de participantes em apoio ao movimento democrático na China.

Muitos estudantes escolheram Hong Kong como exílio. Apoio foi fornecido pela organização HK Alliance, que ainda existe e recorda anualmente o massacre na Praça da Paz Celestial.

Em 1997, Hong Kong foi devolvido à China e, desde então, tem o status de região administrativa especial. Uma mudança política que foi sentida na ex-colônia britânica, segundo Albert Ho, presidente da HK Alliance: "Tenho que admitir que Hong Kong não é mais livre. Essa é a realidade política."

Também por isso, o seminário anual  da HK Alliance foi transferido neste ano, pela primeira vez, para Taiwan. O Estado insular, que leva o nome oficial de República da China, começou seu processo de democratização em 1988 – um ano antes do movimento chinês.

Em entrevista à DW, Zeng Jianyuan, membro do conselho da ONG New School for Democracy, afirmou que Taiwan é um lugar apropriado para o evento anual. "Se em Hong Kong não é mais possível realizar grandes eventos memoriais para o 4 de junho, Taiwan representa uma boa alternativa, pois valores democráticos ainda são respeitados por lá", disse.

A ascensão da China e os estreitos laços econômicos do país com os Estados Unidos enfraqueceram a influência dos dissidentes, segundo Zhou. "O aumento da interação bilateral entre os EUA e a China levou muitos grupos estrangeiros pró-democracia a perder o apoio de chineses no exterior", afirmou.

Isso se reflete, sobretudo, no fato de que têm fluído cada vez menos doações. Muitos chineses da chamada geração Tiananmen ficaram ricos com a ascensão econômica da China. Segundo Zhou, eles não querem interferir na liderança comunista do país e têm sido bem menos generosos com doações para dissidentes no exterior.

Os recursos financeiros são extremamente necessários. Nos últimos anos, o governo chinês reforçou a censura e a perseguição da sociedade civil.

O ex-líder estudantil Shao Jiang, pesquisador no Centro de Estudos para a Democracia da Universidade de Westminster, em Londres, afirmou acreditar que os grupos pró-democracia precisam se reorganizar para que não se tornem irrelevantes.

"Como os ativistas da democracia têm pouca influência sobre os políticos ocidentais, eles precisam se unir ao movimento global contra a expansão da China", disse Shao. Em vez de apoiar os dissidentes chineses na China, eles deveriam se concentrar em se opor às ambições econômicas e políticas da China no exterior e apoiar a democracia fora da China.

Mas Zhou afirmou que ainda não perdeu a esperança. Ele ainda acredita nos valores do movimento de 4 de junho e quer voltar a ser bem-sucedido em sua empreitada com ideias criativas. "Acho que devemos acreditar que a história ficará do nosso lado."

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