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A Muralha Amarela de volta para o futuro

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
3 de agosto de 2021

Com a volta da Bundesliga, abrem-se as cortinas para o espetáculo da potente muralha de torcedores do Dortmund no estádio do clube – ainda que em dimensão menor do que a habitual devido à pandemia.

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Torcida do Borussia Dortmund
A famosa "Gelbe Wand" costuma ser composta por até 25 mil torcedores fiéis ao BVB Foto: Reuters/L. Kuegeler

A última vez que a casa do Borussia Dortmund esteve completamente lotada foi em 29 de fevereiro de 2020. Antes da partida, 81.365 torcedores aguardavam ansiosamente a entrada em campo de Borussia Dortmund e Freiburg no Signal Iduna Park, conhecido pelos românticos e nostálgicos da velha guarda como Westfalenstadion.

Àquela altura, poucos poderiam imaginar que esse confronto fosse ser o último com casa cheia por quase um ano e meio. A tribuna sul, como de hábito, foi tomada por 25 mil torcedores ensandecidos, formando um gigantesco mosaico amarelo com as iniciais do clube BVB em alto-relevo negro. Era a chamada Muralha Amarela com todo o seu esplendor, sem saber que não voltaria tão cedo a ocupar essa arquibancada construída sem um assento sequer para ser ocupada pelo torcedor raiz.

É mesmo um paradoxo. Tem torcedor que paga uma nota por um bom lugar com todo conforto para vivenciar um jogo do seu Borussia e quando chega ao estádio tenta trocar seu ingresso numerado caro por um lugarzinho apertado de pé na tribuna sul. Abre mão do combo cerveja + bratwurst para se acotovelar num espaço exíguo – meio metro quadrado para três pessoas – e ser empurrado de um lado para o outro sem parar antes, durante e depois do jogo. Isso sem contar a gritaria incessante. Essa é a Gelbe Wand – conhecida no Brasil como Muralha Amarela.

É aqui que bate forte o coração aurinegro e começou a bater não é de agora. A sua história começa em 1974 com a inauguração do Westfalenstadion, construído especialmente para a Copa do Mundo daquele ano. Foi o primeiro estádio na Alemanha projetado exclusivamente para o futebol, sem espaço para competições de atletismo. Na época, uma verdadeira revolução arquitetônica – uma arena para então 54 mil torcedores onde imperava o futebol, primeira e única.

Naquele ano, o Borussia Dortmund disputava a segunda divisão e quando finalmente subiu para a Bundesliga em 1976, depois de quatro temporadas na Segundona, já chegou batendo recordes de público. Em média, 43 mil torcedores acompanhavam o Borussia em jogos no Westfalenstadion, chegando à lotação máxima já naquela época, quando os visitantes atendiam pelo nome de Schalke 04 ou Bayern de Munique, seus arquirrivais até hoje.

Foi naqueles tempos que surgiu a Gelbe Wand com torcedores aurinegros tomando de assalto a tribuna sul com as cores do clube. Ainda não eram nas mesmas dimensões dos últimos anos, mas já estavam lá cantando, gritando, incentivando e aplaudindo freneticamente. De quebra, criaram mosaicos inesquecíveis, além de se excederem vez por outra nos xingamentos impublicáveis dirigidos aos adversários.

Um ano e meio sem público e sem a Muralha Amarela, mas como a esperança é sempre a última que morre, há luz no fim do túnel.

A nova temporada da Bundesliga começa em 13 de agosto com Borussia M'Gladbach e Bayern de Munique, revivendo o clássico dos anos 1970 quando os dois decidiam o título de campeão alemão entre si. Um dia depois, o Borussia Dortmund recebe o Eintracht Frankfurt em sua casa.

É praticamente certo que haverá o retorno da torcida – ainda que parcial – aos estádios na Alemanha. Deverá ser permitida a presença de público sob severas condições. Não poderão entrar pessoas que não tenham sido vacinadas, a não ser que apresentem um resultado negativo para covid-19 ou tenham em mãos um certificado comprovando que já superaram a doença. A capacidade máxima de ocupação liberada é de 50% das respectivas arenas, mas limitada a 25 mil espectadores.

Com isso, ao menos parte da Muralha Amarela se fará presente, ainda que em dimensão menor do que a habitual. A Gelbe Wand é composta por torcedores fiéis ao BVB há décadas, amigos da infância ou da escola, colegas do trabalho, vizinhos da rua onde moram. Há também aqueles que se conheceram por lá e se tornaram amigos.

O ex-goleiro Roman Weidenfeller do Borussia Dortmund sabe bem o que significa ter às suas costas o incentivo incessante de 25 mil torcedores: "É um sentimento fantástico ter a Gelbe Wand atrás de você. Nem dá para descrever em palavras."

Não é à toa que, via de regra e quando podem escolher o lado do campo, os aurinegros começam jogando de costas para a Muralha Amarela, que literalmente empurra o time para o ataque. No segundo tempo, a defesa do oponente, a começar pelo goleiro, sente então toda a feroz opressão barulhenta vinda dos 25 mil.

A Bundesliga está de volta, e com ela abrem-se as cortinas para o espetáculo que a Gelbe Wand costuma oferecer. O seu show começa invariavelmente com a já antológica You'll Never Walk Alone. Uma canção apropriada para estes tempos que estamos vivendo.         

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.