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Adeus “Aufbau”?

(sv)15 de abril de 2004

Fundado em 1934 por exilados judeus alemães em Nova York, o jornal “Aufbau” – que já teve Albert Einstein, Theodor Adorno e Thomas Mann entre seus colaboradores – corre o risco de desaparecer.

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Redação em Nova York: fim de uma era?Foto: AP

Os recursos de que o Aufbau dispõe não foram suficientes nem mesmo para garantir a última edição, encolhida, por força das circunstâncias, à versão online. Embora uma publicação apenas via internet não seja de forma alguma o objetivo dos editores. “Pois temos uma predileção muito especial por nossa clássica edição impressa”, conta Ines Hirschfeld, coordenadora da redação berlinense do Aufbau.

Aufbau aufbauonline.com Titelseite CURRENT PUBLICATION December 11, 2003
«Aufbau Online»
De guia prático a pódio de discussão

Fundado por imigrantes judeus alemães em 1934, em Nova York, o Aufbau (Construção) fez história. Antes da Segunda Guerra Mundial, serviu como uma espécie de porta-voz da comunidade judaica, que chegava aos EUA em fuga da Alemanha durante a ascensão nazista. O jornal fornecia na época informações práticas aos recém-chegados, como dicas de como encontrar trabalho, casa, etc.

Mais tarde, o então semanário Aufbau acabou se transformando em pódio de discussão política e cultural para os exilados, tendo tido entre seus colaboradores nomes como Albert Einstein, Hannah Arendt, Thomas Mann, Theodor Adorno e Stefan Zweig.

Durante a guerra, o Aufbau chegou a ter uma tiragem de 50 mil exemplares, trazendo informações sobre o Holocausto, inclusive listas de deportados. Alguns destes textos serviram de testemunho histórico durante o julgamento dos criminosos de guerra nazistas no Processo de Nurembergue, após o fim da guerra.

“Procura-se”

Nos primeiros anos do pós-guerra, o semanário ainda conseguiu manter uma boa tiragem. Entre os pontos altos da publicação, estavam os anúncios de “procura-se”, em que judeus espalhados pelo mundo tentavam reencontrar parentes ou amigos. O registro da memória coletiva e a tarefa de escrever o capítulo da história sobre o Holocausto foram as prioridades da publicação durante as décadas de sua existência.

Nos últimos anos, com uma tiragem reduzida a dez mil exemplares, o Aufbau se transformou numa importante plataforma política e intelectual, aberta a reflexões sobre a vida cultural tanto na Europa, quanto nos EUA e em Israel.

Recife: primeira sinagoga das Américas

Sua última edição, por exemplo, tem a “guerra contra o terrorismo” entre os principais assuntos tratados, além de abordar as divergências transatlânticas entre os governos norte-americano e alemão, refletir sobre o conceito de “judeu alemão” e relembrar a construção da primeira sinagoga das Américas, erguida em Recife, no século 17.

"Após a fuga dos judeus da Inquisição, a sinagoga caiu no esquecimento e só foi redescoberta em 2000", pode-se ler no Aufbau. Fundada por judeus portugueses, que haviam migrado para Amsterdã para fugir dos inquisidores, a sinagoga foi o centro religioso de uma comunidade judaica no Brasil. Esta teve seus áureos tempos durante a ocupação holandesa de Pernambuco, que estabeleceu em Recife a liberdade religiosa.

Aufbau 70 Jahre deutsche Wochenzeitung in New York
Recepcionista Lisa Schwarz: Redação do Aufbau em Nova YorkFoto: AP
Público-alvo se extingue

O público-alvo do Aufbau, no entanto, parece estar fadado a desaparecer. Os filhos e os netos de judeus alemães hoje não dominam o idioma alemão. Diante disso, o semanário passou a publicar cada vez mais artigos em inglês. “Os leitores tradicionais estão se extinguindo. Precisamos repensar como chegar à segunda e terceira gerações de leitores, que não têm mais ligações com a Alemanha”, observa Ines Hirschfeld.

Essas novas gerações têm suas redes sociais nos EUA, muito menos interesse nas raízes alemãs de seus antepassados e, com isso, na leitura de um periódico como o Aufbau. Na Alemanha, o jornal conseguiu aumentar seu número de leitores após a abertura de uma redação em Berlim, inaugurada em 2002.

Embora isso não baste: sem um investidor que garanta sua sobrevivência, o tradicional Aufbau corre o risco de ter mesmo que fechar as portas. E se transformar em apenas um registro histórico. E numa página arquivada na internet.