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AfD demite ex-porta-voz que sugeriu matar migrantes

29 de setembro de 2020

Christian Lüth já havia sido suspenso pelo partido antimigração alemão em abril, após se descrever como "fascista". Agora, ele protagoniza novo escândalo ao afirmar que migrantes devem ser mortos "a tiros" ou "com gás".

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Christian Lüth
Christian Lüth ocupou funções de destaque na AfD entre 2014 e 2020 como um protegido do colíder da bancada do partido, Alexander Gauland Foto: Soeren Stache/dpa/picture-alliance

O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) anunciou na segunda-feira (29/09) que decidiu demitir Christian Lüth da legenda. Ex-porta-voz do partido, ele já havia sido suspenso do posto em abril, após se descrever como um "fascista" e se gabar de sua "ascendência ariana" numa conversa privada.

Na segunda-feira, Lüth voltou aos holofotes após ser acusado de ter afirmado que "quanto pior a Alemanha estiver, melhor será para a AfD" e sugerindo que migrantes deveriam ser mortos "a tiros" ou "por gás".

As frases constam numa longa reportagem da emissora ProSieben sobre a cena de extrema direita da Alemanha. No vídeo, é possível ouvir os comentários durante a conversa entre um homem e a youtuber alemã Lisa Licentia, em fevereiro deste ano, em um bar de Berlim. O rosto de Lüth não é mostrado nas imagens. A emissora se refere a ele como um "um alto funcionário da AfD", mas no mesmo dia o jornal Die Zeit identificou o interlocutor como sendo Lüth. Os comentários foram feitos quando ele ainda desempenhava a função de porta-voz.

Durante a conversa, Licentia perguntou a Lüth se era de interesse da AfD que mais migrantes fossem para a Alemanha. "Sim. Porque a AfD tem melhores resultados."

"Discutimos isso por um longo tempo com Gauland, quanto pior para a Alemanha, melhor para a AfD", disse Lüth, em referência a um dos líderes da bancada da AfD no Parlamento alemão, Alexander Gauland. "Nós podemos atirar em todos depois. Ou usar gás, ou qualquer coisa. Não faz diferença para mim", diz o homem identificado como Lüth.

Fundada em 2013, a AfD tem como principal bandeira o combate à imigração. A legenda registrou um crescimento acentuado e se tornou a terceira maior força do Parlamento alemão depois da crise dos refugiados de 2015.

Após a divulgação da reportagem, Gauland, o colíder da bancada da AfD no Parlamento, afirmou que os comentários eram "inaceitáveis” e "incompatíveis com os objetivos e políticas da AfD". Ele também negou que tenha "endossado" os comentários, classificando a acusação como "absurda e totalmente fictícia".

Nos últimos meses, Lüth, que desempenhou o papel de porta-voz da AfD entre 2013 e 2018 e posteriormente de porta-voz da bancada do partido no Parlamento, foi colocado numa "geladeira" pela AfD. Segundo o jornal Die Zeit, ele não havia sido efetivamente demitido, apenas suspenso. Seu declínio começou em abril, quando foram reveladas mensagens de Whatsapp que ele havia trocado com uma mulher.

Nelas, além de se descrever como um "fascista", Lüth se gabava de ser "um ariano" e de ter laços familiares com Wolfgang Lüth, um célebre comandante de submarinos da Marinha da Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Nas mensagens, Christian Lüth, no entanto, descreveu o comandante como seu "avô", mas os filhos ainda vivos de Wolfgang apontaram para a imprensa que o capitão era na realidade tio-avô do ex-porta-voz.

Depois da má publicidade do caso, a AfD, segundo diversos veículos da imprensa alemã, removeu Christian Lüth do posto altamente visível de porta-voz da bancada do partido. Várias figuras da AfD já estavam insatisfeitas com o porta-voz, temendo que a simpatia que ele mostrava pelo nazismo gerasse repercussões negativas e pela sua proximidade com Gauland. Frauke Petry, uma ex-líder que rompeu com o partido, contou que a executiva da legenda sabia desde 2016 que Lüth gostava de fazer a saudação nazista em público.

Segundo a imprensa alemã, nas últimas semanas, antes da eclosão do novo escândalo, a liderança do partido vinha considerando tirar Lüth da "geladeira” e transferi-lo para algum outro posto na AfD.

JPS/ots