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O pior problema

20 de janeiro de 2010

Estudo da ONU revela que, na opinião da maioria da população do Afeganistão, o suborno e similares são mais graves do que lacunas de segurança ou drogas. Conferência em Londres abordará o tema.

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Suborno é endêmico no paísFoto: AP

A conclusão do estudo da Organização das Nações Unidas soa quase banal: o Afeganistão está dominado pela corrupção. Porém até mesmo o diretor do Escritório da ONU contra as Drogas e o Crime (UNODC), Antonio Maria Costa, revela-se chocado com a proporção do problema.

Pela primeira vez os próprios afegãos foram consultados: 7.200 cidadãos de todo o país, nas cidades e em cerca de 1.200 aldeias. Destes, 60 comunicaram já haver tido que pagar suborno. Costa chama a atenção para o fato de que a corrupção atualmente abarca 2,4 bilhões de dólares, mais do que todo o setor agrário da nação.

Especialmente frustrante é o fato de justo aqueles que deveriam ajudar na construção do novo Afeganistão se encontrarem no topo da lista dos subornados: a polícia, a Justiça, as administrações das província, médicos, funcionários da alfândega e professores.

Cidadãos rurais são os mais afetados

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Antonio Maria Costa apresentou o relatório do UNODCFoto: AP

O relatório cita um vendedor de rua, segundo o qual o chefe da polícia haveria encarregado um funcionário de regularmente coletar os pagamentos de propina entre os vendedores. Uma licença para exercer o comércio nas ruas pode custar até 1.800 dólares. Uma soma astronômica, num país em que o salário médio é de 50 dólares por mês.

A quantia média dos subornos é de 139 dólares, calcula o estudo da ONU, e muitas autoridades corruptas exigem somas ainda mais elevadas. A população rural é a que mais sofre com a corruptibilidade de todo o serviço público. Sem propina, os agricultores não conseguem alvará de construção, sentença jurídica, tratamento médico ou exames escolares.

A corrupção é endêmica em todo o país. Somente no oeste, onde é mais forte a influência do Irã, os números são sensivelmente menores. De resto, a maioria dos afegãos a considera como o problema mais sério do país, mais do que as lacunas de segurança, a pobreza ou o tráfico de drogas.

No entanto é sabido quão estreitamente a corrupção está ligada ao narcotráfico, já que somente os bilhões dos chefões da droga trazem ao país o dinheiro que alimenta tal suborno em massa.

Medidas de praxe

Em resposta, as Nações Unidas sugerem o usual catálogo de medidas: criar um departamento de fiscalização, criminalizar as práticas corruptas, envolver a sociedade civil – iniciativas sem muita perspectiva de sucesso, diante do atual estado de coisas no Afeganistão.

Apesar disso, Antonio Maria Costa afirma: "Acredito que o presidente Hamid Karzai conhece o problema e pode ser motivado a empreender algo contra". Está claro que, na qualidade de funcionário da ONU, Costa não pode criticar Karzai.

Porém é altamente significativo o fato de o parlamento em Cabul haver rejeitado pela segunda vez o gabinete governamental proposto. Infelizmente, as razões para a indicação de ministros foram origem étnica, corrupção ou dinheiro, declarou a deputada Fawzia Kufi à emissora BBC. E todos sabem que em Cabul o mau exemplo vem de cima.

O tema corrupção consta da agenda da Conferência sobre o Afeganistão, em 28 de janeiro próximo, em Londres, lado a lado com a formação de mais policiais para o país.

Entrevista: Barbara Wesel (av)
Revisão: Alexandre Schossler