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Ajuda alemã a Bagdá

(sv)17 de dezembro de 2002

Jornal berlinense informa que dossiê sobre armas no Iraque a ser enviado à ONU contém lista de mais de 80 empresas alemãs acusadas de terem fornecido a Bagdá know-how para fabricação de armas atômicas.

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Informações recolhidas pelos inspetores de armas no Iraque podem ter sido filtradas antes de chegarem ao Conselho de Segurança da ONUFoto: AP

Antes mesmo da entrega aos membros do Conselho de Segurança da ONU, os dados do documento sobre a produção de armas atômicas, químicas e biológicas no Iraque chegaram às mãos da imprensa alemã. O diário berlinense taz, die tageszeitung informou em sua edição desta terça-feira (17) que o dossiê de três mil páginas contém uma lista de mais de 80 empresas alemãs, que colaboraram com Bagdá até pelo menos 2001.

Laboratórios estatais e privados, bem como cientistas individualmente, teriam, segundo o taz, fornecido desde 1975 tecnologia ao programa de Saddam Hussein para o desenvolvimento de armas de exterminação em massa. Além disso, empresas sediadas na Alemanha teriam vendido ao Iraque foguetes e um arsenal de armas convencionais.

Segundo o jornal alemão, a administração Bush – que também recebeu previamente uma cópia do dossiê a ser entregue à ONU – esforça-se no momento para conseguir mais provas da suposta cooperação entre empresas alemãs e o Iraque.

Uso civil –

Um dos principais pontos mencionados é o trabalho conjunto entre um fabricante do setor de micro-eletrônica da Alemanha com o regime de Hussein, cujo desenrolar já seria conhecido por Berlim desde 1999. Há muito, o governo alemão teria recebido de especialistas em política armamentista o alerta de que este tipo de tecnologia tido como "meramente de uso civil" poderia estar sendo utilizado para fins militares.

O número de empresas alemãs envolvidas neste tipo de "auxílio paralelo" ao Iraque é, segundo o taz, maior do que a soma dos envolvidos de todos os outros países do mundo. No ranking de colaboradores de Bagdá, os EUA ocupariam o segundo lugar da lista, com 20 empresas. Também o Departamento norte-americano de Energia é acusado de ter fornecido ao Iraque, no decorrer dos anos 80, peças não nucleares relevantes para o programa de desenvolvimento armamentista.

Incentivo oficial –

O jornal alemão afirma ainda que, no dossiê a ser entregue à ONU, há a afirmação de que, no período que vai do fim dos anos 70 até a guerra do Golfo de 1991, a cooperação ilegal entre Alemanha e Iraque teria sido tolerada e até mesmo incentivada por instituições oficiais. Entre estas, estariam órgãos públicos alemães e até mesmo o Ministério da Economia do país.

O que ainda não estaria claro, segundo o taz, é se as informações enviadas de Bagdá irão ser entregues a todos os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU. O documento que chegou às mãos do diário alemão é uma cópia do relatório completo, que após aportar em Nova York, há duas semanas, teria sido passado, por 24 horas, a especialistas norte-americanos. Estes teriam tido, assim, tempo suficiente para filtrar informações indesejadas, antes de que o dossiê fosse enviado aos outros quatro membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Omissão de nomes –

A lista do quem é quem da exportação ao Iraque publicada pelo jornal alemão causou nos bastidores da ONU menos surpresa do que o fato de que exatamente uma das partes mais delicadas do dossiê tenha chegado às mãos da imprensa. Além dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, o coordenador das inspeções no Iraque, o sueco Hans Blix, tinha a intenção de omitir os nomes das empresas, institutos e especialistas alemães mencionados no documento.

Uma das razões disso seria, segundo Blix, o fato de que muitos dos envolvidos na questão podem ter feito a transferência de know-how sem terem ao menos desconfiado de um eventual desvio do uso de seus produtos. Da lista dos fornecedores, constam, por exemplo, fabricantes de aparelhos destinados à diluição de cálculos renais. Além disso, a comissão de inspetores liderada por Blix não pretendia tornar pública uma lista de fontes de informação tão valiosa como a dos ex-parceiros do regime de Hussein.

Manual de bombas –

Não só os nomes dos fornecedores alemães deverão ser omitidos na versão final do dossiê destinado aos membros do Conselho de Segurança da ONU. Detalhes concretos do programa nuclear desenvolvido pelo Iraque ficarão da mesma forma de fora, "pois poderiam servir como um manual de instruções para a fabricação de bombas atômicas", finaliza Blix.