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História

Alemanha devolve cruz do século 15 à Namíbia

17 de maio de 2019

Em gesto de reconciliação, governo alemão aceita devolver artefato mundialmente famoso à sua ex-colônia. A cruz, erguida na costa africana por exploradores portugueses em 1486, é um símbolo do passado colonial.

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Cruz de pedra secular com brasão português exposto no Museu Histórico Alemão em Berlim
A cruz de pedra foi erguida pelo explorador Diogo Cão em 1486 para marcar as reivindicações territoriais portuguesasFoto: picture-alliance/dpa/P. Zinken

A Alemanha anunciou a devolução à Namíbia de uma cruz de pedra secular. Embora o artefato seja de origem europeia, a ministra da Cultura alemã, Monika Grütters, afirmou nesta sexta-feira (17/05) que a decisão de devolver a cruz de pedra – a pedido da Namíbia – representa um gesto de reconciliação e um sinal de que a Alemanha trata de forma responsável seu passado colonial.

A cruz de pedra calcária com o brasão português erguida em 1486 em Cape Cross (Cabo Cross ou Cabo Cruz) na costa da atual Namíbia está exposta no Museu Histórico Alemão em Berlim. O país africano pediu o retorno do artefato em junho de 2017.

A restituição, provocada em parte por um simpósio de 2018 que o museu realizou sobre a história do objeto, faz parte de ações da Alemanha para enfrentar a responsabilidade moral de seu passado colonial.

O museu disse que, embora não seja uma obra de arte africana, o artefato é um exemplo de como "descendentes da Europa e da África podem se engajar num diálogo que faça justiça histórica". O museu reconheceu o "significado extraordinário que um artefato como este pilar tem para o povo da Namíbia e a contribuição especial que ele pode fazer no futuro para entender a história da Namíbia".

A cruz de pedra foi originalmente erguida pelo navegador português Diogo Cão em 1486 no litoral da atual Namíbia para marcar as reivindicações territoriais portuguesas, assim como para servir como um marcador de navegação.

Ela pesa 1,1 tonelada, tem 3,5 metros de altura e possui o brasão de armas portuguesas, além de inscrições em português e latim. Sua presença, juntamente à de outras cruzes, foi tão significativa que os mapas da época – como o mapa-múndi de Martin Waldseemüller, de 1500, por exemplo – apresentavam imagens das cruzes.

As cruzes também deram origem ao nome atual da costa: Cabo Cruz.    

O artefato ficou em posse da Alemanha em 1893, quando o marinheiro Gottlieb Becker ao descobriu, ordenou sua remoção e retornou com ele à Alemanha, onde a cruz de pedra seguiu de Wilhelmshaven para Berlim.

O objeto foi presentado ao imperador Guilherme 2º, o último imperador alemão e Rei da Prússia até sua abdicação em 1918 com o fim da Primeira Guerra. Ele a usou para servir seus propósitos de propaganda em relação à superioridade naval do Império Alemão (1871-1918). O imperador também ordenou que fosse erguida uma nova cruz – esta estampada com a águia imperial alemã e uma inscrição alemã para substituir a original.

A cruz de pedra entrou na coleção do Museu da História Alemã da antiga Alemanha Oriental em 1953, e depois na do Museu Histórico Alemão após a Reunificação. Ela fazia parte da exposição permanente do museu desde 2006.

A Namíbia, que anteriormente era conhecida como Sudoeste Africano Alemão, foi uma colônia alemã de 1884 a 1915 – a independência como República da Namíbia veio somente em 21 de março de 1990.

A Alemanha demorou a reconhecer plenamente os capítulos mais sombrios de seu passado colonial, mas tem feito esforços recentes nesta direção. Embora o governo alemão tenha reconhecido oficialmente e pedido desculpas pelo genocídio de dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças das etnias herero e nama entre 1904 e 1908, recusou-se a pagar indenizações e costuma chamar a atenção para os milhões concedidos ao longo dos anos em ajuda ao desenvolvimento da Namíbia.    

PV/dpa/dw

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