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Esporte

Alemanha dá uma requentada em velhas receitas

11 de setembro de 2018

Após o fracasso de 2018, os alemães anseiam por mudanças. A opção de Löw, na primeira partida pós-Copa, foi resgatar uma antiga receita. Funcionou contra a França, mas só em parte: falta achar um 10 e um centro-avante.

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Kimmich é cumprimentado por Mbappe: lateral foi usado no meio-campo contra a França
Kimmich é cumprimentado por Mbappe: lateral foi usado no meio-campo contra a FrançaFoto: Reuters/M. Dalder

Quem esperava mudanças radicais na seleção alemã no seu primeiro jogo pós-Copa, contra a França pela Liga das Nações, viu frustradas as suas expectativas.

Da equipe que naufragou diante da Coreia do Sul na Rússia, Joachim Löw mandou a campo sete jogadores. Os novatos Thilo Kehrer, Nico Schulz e Kai Havertz ficaram no banco, assim como os "retornados” Jonathan Tah e Nils Petersen. Deste ponto de vista, nada de novo no front.

A surpresa mesmo ficaria por conta da formação tática. O técnico optou por uma receita que deu certo no Brasil em 2014. Na lateral esquerda posicionou Antonio Rüdiger assim como tinha feito com Benedikt Höwedes na Copa anterior. Não bastasse isso, pôs Matthias Ginter na lateral direita, deslocando Joshua Kimmich para o meio-campo defensivo, a exemplo do que fez com Philipp Lahm pelo menos nos primeiros jogos em solo brasileiro há quatro anos.

O objetivo era claro. Seria fundamental, antes de mais nada e acima de tudo, neutralizar o insinuante ataque francês formado por Kilian Mbapée, Olivier Giroud e Antoine Griezmann e, ao mesmo tempo, proporcionar maior segurança defensiva à equipe. Acabou dando certo, mesmo porque Joshua Kimmich é um jovem muito inteligente, que seguiu à risca as instruções específicas de Löw no sentido de impedir a construção de jogadas ofensivas dos "bleus" já na sua origem.

A estratégia de Löw deu resultado pelo menos em um quesito. Foi o primeiro jogo em 2018 no qual a Alemanha não tomou nenhum gol. Em todas as outras sete partidas anteriores, o adversário de ocasião conseguia superar a defesa germânica. Ao todo foram dez gols sofridos.

A opção de Joachim Löw foi dar uma requentada na velha receita de 2014. Funcionou na partida contra a França, mas apenas em parte. A defesa deu conta do recado. Só que, daí para frente, o que se viu foram mais sombras do que luzes.

E isto basicamente pela ausência de duas peças fundamentais no esquema da Alemanha de 2014: um armador e um atacante matador.

Brandt, com a dez, marca contra o Peru: possível substituto de Özil?
Brandt, com a dez, marca contra o Peru: possível substituto de Özil?Foto: Reuters/K. Pfaffenbach

Quem exercia a função de armador na seleção alemã era Mesut Özil. Ele cumpriu muito bem este papel durante oito anos, algumas vezes até com uma boa dose de genialidade quando achava espaços nas defesas adversárias para dar uma assistência que fatalmente resultava em gol. Desde 2010, era escalado como titular em todos os jogos oficiais da Mannschaft. A série só foi interrompida após seu mau desempenho frente ao México, e ele ficou no banco na partida contra a Suécia. 

Özil resolveu se aposentar da seleção e não vai ser fácil achar um substituto à sua altura. Talvez, um dia, quem sabe, Julian Brandt possa exercer este papel. A camisa que ele vestiu na partida amistosa no domingo último, contra o Peru, ostentava o número 10. Já é alguma coisa. Outro candidato a ocupar a vaga deixada por Özil é o jovem Kai Havertz de apenas 19 anos. Falta-lhe experiência internacional, mas potencial já demonstrou – e talento, tem.

No que se refere a um atacante matador, a situação é bem mais complicada. Miroslav Klose reinou soberano neste posto de 2002 a 2014.  E durante todo este tempo, verdade seja dita, de todas as academias de clubes espalhadas pela Alemanha, não surgiu nenhum atacante de ofício capaz de seguir nas pegadas do maior artilheiro de Copas do Mundo. Nenhum.

Löw até que tentou preencher esta vaga. Ora com um falso 9 (Götze, Müller, Reus), ora com veteranos (Gomez, Wagner, Petersen) ou com algum jovem recém-chegado (Werner).

Nenhum se firmou na posição – ou porque não tem o cacoete de atacante de ofício; ou porque escancarou as suas limitações técnicas; ou porque sentiu o peso de jogar uma Copa do Mundo.

É preocupante também que quando finalmente o time consegue criar claras oportunidades de gol, na maioria das vezes elas são desperdiçadas por absoluta falta de precisão no arremate final. Foi assim contra a França e também no amistoso com o Peru. Diante dos peruanos, por exemplo, Marco Reus desperdiçou três chances no primeiro tempo.

Seja como for, o tempo urge. Ainda neste ano de 2018, a Alemanha tem três jogos oficiais a cumprir pela Liga das Nações. Um contra França e dois contra a Holanda.

A torcida até que deu seu apoio aos comandados de Joachim Löw. Foram 67.500 espectadores em Munique e 25.500 no pequeno estádio em Sinsheim. Nada mal para quem passou vergonha na Rússia. Só que a paciência do torcedor tem seus limites. Ninguém admite que, depois de um último lugar no seu grupo da Copa, mais uma vez e no mesmo ano, a Alemanha repita este constrangimento na fase de grupos da Liga das Nações.

Mesmo porque, se ficar em último, a Alemanha será rebaixada para a segunda divisão desta nova competição inventada pela Uefa. Aí também já é pedir demais ao paciente torcedor alemão. Não acham? 

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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