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Doação de órgãos

22 de junho de 2010

Leis na Alemanha e em nível europeu procuram favorecer doação de órgãos. Na UE, 60 mil pessoas aguardam um transplante, porém menos de um quinto dos alemães são doadores. Espanha é modelo.

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60 mil pacientes aguardam transplante na UEFoto: AP

A doação de órgãos é voluntária na Alemanha. Embora 60% da população sejam teoricamente a favor, apenas 14% a 17% se tornam efetivamente doadores. Atualmente há 12 mil pessoas à espera de um transplante no país, e entre 2 mil e 3 mil morrem, a cada ano, antes de alcançar o topo da lista.

No entanto, de acordo com o Serviço Britânico de Saúde, do ponto de vista dos custos, o transplante é o tratamento mais eficiente para disfunções renais em fase terminal. No tocante a órgãos como fígado, pulmões ou o coração, o transplante é, na realidade, o único tratamento disponível nos casos de insuficiência terminal.

Fama em prol do transplante

Em face dessa situação, grupos pró-doação da Alemanha tentam elevar o nível de consciência e encorajar mais pessoas a dar o passo decisivo. Cartazes com personalidades alemãs como o diretor Roland Emmerich, o boxeador Arthur Abraham ou o ator Til Schweiger estão espalhados por toda Berlim, apelando por mais solidariedade e altruísmo: "Você recebe tudo de mim. E eu, de você?".

Ute Opper
Associação de Ute Opper defende interesses de candidatos a transplanteFoto: Sabine Münch

Parece surpreendente que alguém jamais tenha considerado o assunto. Porém este era o caso de Ute Opper, de 45 anos de idade. Até 17 anos atrás, quando, apenas quatro semanas antes de se casar, ficou seriamente doente. O diagnóstico era endocardite, inflamação da mucosa mais interna que reveste o coração.

Uma operação fracassada da válvula afetada levou a um infarto: sua única salvação era um transplante. Opper teve a sorte de precisar esperar apenas um ano pelo novo coração e, após essa experiência, fundou, juntamente com outros pacientes, um grupo de interesses para auxiliar aqueles que estão à espera de doadores. "Queremos que as pessoas imaginem que também poderiam ser elas a precisar de um órgão", explica.

Modelo espanhol

Apesar da introdução, na Alemanha, de uma lei relativa aos transplantes de órgãos, em 1997, os índices de doação vêm caindo. Segundo Roland Hetzer, diretor do Instituto Alemão de Cardiologia, em Berlim, são duas as principais razões para essa tendência: a primeira é a dificuldade de convencer o público que doar é bom, a outra é a falta de infraestrutura no país.

"Nem todos os hospitais cooperam da forma necessária, informando sobre os casos de morte cerebral de potenciais doadores. E isso tem a ver, é claro, com os crescentes problemas econômicos que as instituições hospitalares vêm enfrentando."

A Espanha é a campeã mundial de doações, não só devido a seu modelo de consentimento presumido, como também por manter profissionais exclusivamente encarregados de lidar com a disponibilidade e logística dos órgãos. Hetzer crê que o número de transplantes cresceria, se a Alemanha também dispusesse de pessoal especializado.

Olho por olho...

Arthur Abraham wirbt auf einem Poster für Organspende. Die Posters werden überall in Berlin aufgehängt werden.
Boxeador Arthur Abraham pleiteia altruísmo

O cardiocirurgião Reinhard Daniel Pregla empenha-se com afinco nas campanhas públicas pró-doação na Alemanha. No entanto, ele também gostaria de ver a adoção, em toda a União Europeia, onde 60 mil esperam por um transplante, de modelos de maior impacto. Estes incluem o consentimento tácito, vigente – além de na Espanha – também na Áustria e na Bélgica; ou a nova lei israelense que dá prioridade aos doadores de órgãos.

Na concepção de Pregla, todo europeu deveria ter que decidir se deseja ser doador ou não. "E para quem se recusar a doar, a consequência seria ter menos direito a receber um órgão. Não que deixaria de recebê-lo, mas a prioridade caberia aos doadores." Pregla insiste que uma pessoa pode salvar as vidas de cinco receptores, fato que deveria ser levado em consideração pelos potenciais doadores.

Hetzer ressalta que tais métodos já foram propostos antes, porém são considerados anticonstitucionais na Alemanha. Ute Opper também prefere apostar na educação e informação pública, embora reconhecendo as vantagens do modelo israelense para os extremamente necessitados. "Um novo órgão é um presente. A pessoa deve dizer: é o meu corpo e, se quero dar algo, deveria ser eu a decidir de que forma."

Tráfico macabro no Terceiro Mundo

Mas a situação já está mudando na Europa. A diretriz da UE para doação e transplante de órgãos, aprovada em maio último, visa padronizar a aquisição e localização, aumentando assim a disponibilidade nos 27 países-membros e reduzindo o tráfico ilegal.

Organhandel in Pakistan - Arme verkaufen ihre Nieren
Tráfico de órgãos é quase corriqueiro na Índia e PaquistãoFoto: picture-alliance/dpa

Com tanta gente necessitando desesperadamente de um rim ou fígado, aquelas que possuem meios suficientes recorrem, por vezes, ao mercado negro. O jornalista Seem Sanghi acredita que, se mais pessoas dessem consentimento para o uso de órgãos após sua morte, isso talvez desse fim ao tráfico em países como a Índia.

Lá ocorre de as pessoas deixarem seus vilarejos por uma promessa de trabalho na cidade grande, onde são sedadas e seus órgãos retirados, sem que fiquem sabendo de nada.

Embora a diretiva a ser implementada nos países da UE nos próximos dois anos não tenha influência direta sobre órgãos adquiridos fora do bloco, o jornalista indiano espera que facilitar o transplante de um coração ou pulmão para os ocidentais ajude a reduzir a pressão sobre os países em desenvolvimento.

Autoria: Cinnamon Nippard / Augusto Valente
Revisão: Roselaine Wandscheer