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Alemanices: Pfand, reciclar "ganhando" dinheiro

Karina Gomes
7 de abril de 2017

Sistema de devolução de garrafas nos supermercados alemães funciona como caução: o consumidor recebe por cada recipiente. Troca é parte de uma estratégia adotada há décadas para incentivar reciclagem.

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Máquina para recolher garrafas: cada uma custa entre 7 e 15 mil euros
Máquina para recolher garrafas: cada uma custa entre 7 e 15 mil eurosFoto: picture-alliance/Rainer Hackenberg

Que os alemães amam cerveja é fato. Mas que costumam acumular caixas com garrafas em casa é algo que só entendemos quando vamos ao supermercado. Pessoas fazem filas para entregar garrafas de vidro e plástico na "Pfandautomat”. A máquina calcula o valor do recipiente e o devolve na forma de um ticket, que pode ser recebido em dinheiro no caixa ou descontado na compra.

Não foi à toa que uma funcionária da Deutsche Bahn – companhia ferroviária que opera os trens na Alemanha – me perguntou se eu iria deixar a garrafa de água para trás no restaurante de bordo. "Vale 25 centavos”, me alertou. Chequei, e o valor até aparecia na embalagem.

O esquema do "Pfand" (depósito, em alemão) funciona como um caução. Quando faz a compra, o consumidor paga um valor extra pela garrafa – entre 8 e 25 centavos de euro – e o resgata quando devolve o recipiente no supermercado. Essa quantia já está incluída no preço da mercadoria.

A estratégia é adotada pela Alemanha há cerca de três décadas para incentivar a reciclagem, reduzir danos ao meio ambiente e forçar os produtores de bebidas a manter a cota de 70% de vasilhames reutilizáveis estabelecida pela lei de embalagens alemã.

Depois que você deposita todas as garrafas, a máquina soma a quantia e gera um cupom que pode ser levado ao caixa para ser abatido no valor da compra. Mesmo sem comprar nada no supermercado, é possível apresentar o ticket e receber o valor em moedas.

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Os vasilhames de cerveja são os mais "baratos” – valem 8 centavos. Os que têm tampa com fechamento "flip top" custam 15 centavos, assim como garrafas de água e refrigerantes. Garrafas recicláveis que são utilizadas apenas uma vez e latinhas de alumínio valem 25 centavos. Elas são derretidas e o material é reutilizado na produção de novos vasilhames. Já o tradicional casco das garrafas de vidro vale cerca de 3 euros.

Com algumas garrafas de vinho é possível recuperar entre 2 e 3 centavos. Mas em geral licores e bebidas destiladas, leite e suco de frutas não têm o "Pfand”. Além disso, a regra vale apenas para marcas nacionais.

As garrafas classificadas como "Merhweg” (as que são reutilizáveis) representam 50% das embalagens de bebidas na Alemanha. Os recipientes passam por um processo de limpeza antes de serem novamente enchidos e voltarem aos supermercados. Segundo o Departamento Federal do Meio Ambiente alemão (UBA), garrafas retornáveis de vidro podem ser reutilizadas até 50 vezes e as de plástico, até 20 vezes. Apenas as tampas são recicladas.

As garrafas "Mehrweg” são as que causam menos danos ao meio ambiente. Elas podem ser devolvidas em qualquer estabelecimento na Alemanha, mas o UBA recomenda que os consumidores comprem, de preferência, garrafas produzidas na região para reduzir o impacto ambiental do transporte dos vasilhames até o produtor original.

Praticamente todos os supermercados são obrigados a ter Pfandautomaten ou receberem as garrafas dos consumidores. Cada máquina custa entre 7 mil e 15 mil euros. Boa parte do plástico PET é vendido para a China, que usa o material para confeccionar fibras têxteis, estofados domésticos, lonas plásticas e brinquedos.  

O "Pfand" é também uma forma de ganhar dinheiro extra ou até de sustento para quem vive na Alemanha. É comum ver estudantes em mutirões para recolher garrafas nas ruas e, com o dinheiro obtido no supermercado, garantir a festa do fim de semana. Ou idosos em situação vulnerável vasculhando cestos de lixo em busca das garrafas retornáveis. Voluntários costumam doar as garrafas para quem precisa.

Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos em direitos humanos e sustentabilidade e vive há três anos na Alemanha.