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Alemanices: "Puxadinhos" verdes

Karina Gomes
21 de abril de 2017

Os "Schrebergärten" – jardins urbanos alemães – são muitas vezes confundidos com favelas por estrangeiros, mas são espaços de lazer superdisputados na Alemanha. Terrenos públicos são arrendados à população.

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Deutschland Bildergalerie Kleingärtner
Schrebergarten – jardim urbano – em LeipzigFoto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt

A primeira impressão do olhar estrangeiro sobre as pequenas casinhas amontoadas à beira das ferrovias ou no meio das cidades é de que são "favelas ao estilo alemão". 

Os barraquinhos de madeira enfileirados e separados por cercas são, na verdade, parte dos disputados jardins urbanos da Alemanha – os Schrebergärten.

Os terrenos públicos cedidos a mais de 15 mil associações que coordenam o aluguel e a utilização dos espaços servem para o cultivo de legumes, verduras e flores. Ou ainda para aproveitar as noites quentes do verão depois do trabalho ou fazer um churrasco no fim de semana.

É uma opção econômica para quem mora em apartamentos e não tem um espaço de lazer ao ar livre. Os "puxadinhos" nas grandes e pequenas cidades da Alemanha já foram considerados caretas, mas se tornam cada vez mais populares entre as famílias jovens alemãs. 

Karina Gomes, Journalistin der DW
A colunista Karina Gomes vive na Alemanha desde 2013Foto: privat

Os mais de um milhão de Schrebergärten na Alemanha cobrem uma área de quase 50 mil hectares e são disputadíssimos. Há longas filas de espera para conseguir alugar um pequeno lote. Os preços variam de acordo com a região e instalações próximas, como piscinas públicas ou espaços de diversões para crianças.

O arrendamento dos lotes é, geralmente, por tempo indeterminado e pago anualmente à associação que gere a área, mas os cerca de 5 milhões de locatários precisam cumprir as regras de organização e limpeza. As cercas vivas precisam ser aparadas de forma impecável, o gramado bem cortado, e os caminhos de passagem sempre limpos para que os vizinhos não reclamem.

Tem até quem comemore a festa de casamento nos pequenos jardins, idealizados há 200 anos. A primeira colônia de jardins urbanos foi estabelecida em 1814 por um pastor na cidade de Kappeln, no extremo-norte da Alemanha.

Já o nome "Schrebergarten" é uma alusão ao médico Daniel Schreber, de Leipzig, que incentivou a criação de espaços verdes de lazer para que crianças pudessem ficar mais perto da natureza e serem mais saudáveis.

Esses jardins também estão presentes na Áustria, Suíça e outros países na Europa Central e Escandinávia. As casinhas de cada lote não podem servir como moradia, e os produtos cultivados não podem ser vendidos. Os locatários também precisam respeitar leis ambientais.

O movimento kleingärten (pequenos jardins, em alemão) inovou a ecologia urbana e o paisagismo das cidades alemãs, com espaços públicos voltados ao cultivo sustentável e ao lazer. Com a primavera e a chegada do verão, quem tem um Schrebergarten volta a enfeitar os jardins e colocar as cadeiras do lado de fora para aproveitar o sol. São pulmões verdes em meio ao asfalto. 

Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos em direitos humanos e sustentabilidade e vive há três anos na Alemanha.