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América Latina: desafios em 2007

Mirjam Gehrke (sv)10 de janeiro de 2007

Passado o ano eleitoral no continente, os governos latino-americanos terão vários desafios a enfrentar, acredita o cientista político alemão Detlev Nolte.

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"Abismo entre ricos e pobres deve crescer"Foto: Geraldo Hoffmann

Para o especialista Detlev Nolte, do Instituto de Estudos Latino-Americanos, sediado em Hamburgo, a "guinada para a esquerda" observada em várias eleições no continente não significa que haja um movimento esquerdista homogêneo nos países da América Latina. De um lado, o cientista político vê os atuais governos do Brasil, do Chile, da Argentina e do Uruguai como meros defensores de uma linha social-democrata, sem maiores intenções de modificar a ordem econômica vigente.

"Petropopulismo"

Do outro lado estão, segundo Nolte, os defensores do que o jornalista argentino Andrés Oppenheimer chamou de "petropopulismo", ao se referir "à vitória nas urnas, em países como Venezuela, Bolívia e Equador, de candidatos dos quais a maioria da população espera, através de benefícios sociais, uma rápida redistribuição da renda proveniente da exportação de petróleo e gás".

Ölpumpen Venezuela
Extração de petróleo na Venezuela: esperança de redistribuição da rendaFoto: DW/Steffen Leidel

Devido aos altos preços de matérias-primas no mercado mundial, a América Latina passa por um crescimento econômico acelerado desde 2003. Para 2007, as previsões são de um crescimento de 4%.

Há 15 anos que o continente não passava por uma fase tão longa de estabilidade econômica, vista na Europa como reflexo de um boom nas exportações e como conseqüência das reformas econômicas implementadas nas últimas décadas. Mesmo assim, Nolte não acredita que vá haver no continente uma mudança substancial no combate à pobreza.

Diferenças sociais devem aumentar

"O problema não vai diminuir, embora no último ano a pobreza tenha sido levemente reduzida, num processo paralelo ao crescimento econômico. Comparando-se 1990 com 2006, é possível observar uma redução de aproximadamente 10% nos índices de pobreza. Mas mesmo assim, a distribuição de renda no continente não deve melhorar. Pelo contrário, o abismo entre ricos e pobres vai se tornar ainda maior. E diante do crescimento econômico constante, é óbvio que as expectativas devem aumentar em relação aos sistemas políticos", analisa Nolte.

Cruz, Bolivien, Gegensatz zwischen arm und reich
Cruz, na Bolívia: contrastes comuns em todo o continenteFoto: DW/Steffen Leidel

Continente esquecido

Com seus 550 milhões de habitantes, a América Latina é certamente um enorme mercado potencial. Caso os países do continente não consigam, em 2007, integrar economicamente subregiões como o Mercosul ou a Comunidade Andina, é possível que o continente permaneça pouco atraente como parceiro comercial da União Européia.

Por essas e por outras, a América Latina deve se manter atenta para não perder o bonde da economia mundial, acredita o especialista. Se, por um lado, o boom atual das economias nacionais se deve à exportação de matérias-primas, por outro lado os mercados latino-americanos são bem menos atraentes no contexto internacional que outros, como o asiático, por exemplo.

Nolte lembra que, além de tudo, a União Européia está muito voltada para seu próprio umbigo após o ingresso da Romênia e da Bulgária no bloco. E os EUA, segundo o especialista, só se lembram da América Latina em dois contextos: quando se fala de migração ou de tráfico de drogas.