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ReligiãoAngola

Angola decide expulsar 7 pastores brasileiros da Universal

9 de abril de 2021

Grupo angolano dissidente de Edir Macedo tomou controle da Igreja Universal no país africano e foi legitimado pelo governo local. Outros pastores brasileiros também estariam sob risco de deportação.

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Homens em frente a um templo da Igreja Univeral em Moçambique
Igreja Universal está presente em mais de cem países, com templos em pelo menos 12 nações africanasFoto: DW/J.Beck

Sete pastores evangélicos brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola foram notificados na quinta-feira (08/04) pelo governo local que devem deixar o país em no máximo oito dias.

A ordem foi emitida pelo Serviço de Migração e Estrangeiros angolano, que cancelou os vistos de permanência dos pastores devido à "cessação da atividade eclesiástica em território nacional".

A decisão se insere em uma disputa pelo comando da Universal no país que se arrasta desde o final de 2019 e opõe um grupo de pastores ligados ao bispo Edir Macedo, fundador da instituição, a outro formado por pastores angolanos dissidentes.

O grupo ligado a Macedo afirma que mais 52 pastores brasileiros também estão sob risco de serem expulsos do país.

No ano passado, o presidente Jair Bolsonaro, que tem em Macedo um aliado, pediu ao presidente angolano, João Lourenço, garantias de proteção aos pastores brasileiros e ao patrimônio da Universal.

O embaixador do Brasil em Angola, Rafael Vidal, afirmou à Rede Record que entrou em contato com autoridades do país para tratar do visto de permanência dos pastores brasileiros e pediu um tratamento "equilibrado" à questão.

Ramo brasileiro x ramo angolano

O conflito na Igreja Universal em Angola foi deflagrado em novembro de 2019, quando cerca de 300 bispos angolanos romperam com a liderança brasileira, a quem acusaram de práticas contrárias à "realidade de Angola e da África" e de sonegação fiscal. 

Em junho de 2020, os dissidentes assumiram o comando de mais de 80 templos na capital, Luanda, e nas províncias vizinhas. Em seguida, uma ata foi publicada pelo grupo no Diário Oficial do país, "formalizando" a destituição da liderança brasileira.

O ramo angolano, liderado pelo bispo Valente Bezerra Luís, afirma que a decisão de romper com a representação brasileira se deveu a práticas como exigência de vasectomia, castração química, racismo, discriminação social e abuso de autoridade, além de evasão de divisas para o exterior.

A Procuradoria-Geral da República do país abriu um processo penal contra a Universal e, em agosto de 2020, determinou o fechamento de todos os templos da Igreja no país africano. O órgão afirmou ter encontrado "indícios suficientes da prática de crimes como associação criminosa, fraude fiscal, exportação ilícita de capitais, quebra de confiança e outros atos ilegais".

Em fevereiro deste ano, a ala angolana elegeu o bispo Bezerra Luís para comandar a Universal no país, e em seguida os templos da Igreja foram reabertos. Uma comissão liderada pelo mesmo bispo também recomendou a deportação dos missionários brasileiros.

O ministro da Cultura, Turismo e Ambiente de Angola, Jomo Fortunato, afirmou em março que o Estado reconhecia a nova direção local da Universal como a responsável pela Igreja. A direção anterior, ligada a Macedo, recorreu à Justiça para cancelar a assembleia que elegeu Bezerra Luís, e o processo ainda não foi concluído.

"Golpe"

A porta-voz do ramo brasileiro da Universal no país, Ivone Teixeira, afirmou que a ordem de expulsão dos sete pastores faz parte de "um golpe" liderado "pela ala angolana da IURD [Igreja Universal do Reino de Deus], que está a ser sustentada por alguns organismos" estatais. Segundo ela, está ocorrendo "perseguição religiosa" e "xenofobia".

Teixeira disse que estão ameaçados de expulsão, além de outros 52 pastores brasileiros, mais 28 religiosos de outras nacionalidades, incluindo moçambicanos, são-tomenses, argentinos e um espanhol. Alguns deles constituíram famílias com mulheres angolanas.

"O poder executivo, no caso o INAR [Instituto Nacional para Assuntos Religiosos, vinculado ao Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente] não pode validar um processo que ainda está no fórum judicial e que ainda não foi decidido", afirmou Teixeira. "Há muita coisa a reverter a nosso favor, porque, primeiro, tomaram de assalto as igrejas, e estão a certificar um grupo de golpistas de uma forma totalmente ilegal", disse.

A direção anterior da Igreja Universal em Angola, vinculada a Macedo, nega as acusações feitas pelo ramo angolano e moveu processos judiciais contra os dissidentes. Anteriormente, ela já havia acusado autoridades judiciais angolanas de terem feito apreensões ilegais e atentarem contra a liberdade religiosa.

A Igreja Universal afirma ter 8 milhões de fiéis no Brasil e está presente em mais de cem países ao redor do mundo, com templos em pelo menos 12 nações africanas.

bl/ek (Lusa, ots)