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Um velho conhecido

19 de maio de 2011

Para o presidente do Banco Central do Brasil, países não devem ter receio ao pedir ajuda ao FMI. Órgão que emprestou dinheiro ao Brasil endividado, atualmente é maior parceiro para combater crise europeia.

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Criado após a Segunda Guerra, FMI serviu para reconstruir países destruídosFoto: picture alliance/dpa

Na década de 1990, praticamente não havia um brasileiro que não soubesse o significado do FMI: no imaginário coletivo, o Fundo Monetário Internacional carregava a ideia do país endividado, em crise, sem perspectivas de melhora em curto espaço de tempo.

No Brasil dos anos 2000, o Fundo se distanciou do país, que passou de devedor a credor – o que foi tido como grande conquista pelo governante da época, Lula. Atualmente, os brasileiros arriscam, inclusive, influenciar a escolha do novo diretor-gerente, depois da renúncia de Dominique Strauss-Kahn.

"O Brasil já colocou a sua posição há tempos: a posição máxima de instituições multilaterais como FMI e Banco Mundial deveria ser submetida a um processo mais amplo, que considera o mérito, independente da nacionalidade e da posição geográfica. Acho que esse princípio deve ser observado, e essa é a mensagem mais importante agora", respondeu à Deutsche Welle o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, durante uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira (18/05).

Brasilien Nationalbank Alexandre Tombini
Alexandre TombiniFoto: AP

À frente da instituição desde janeiro, Tombini conhece de perto o funcionamento do FMI – ele atuou como representante brasileiro na instituição entre 2001 e 2005. Sobre a possível indicação de um nome para o cargo máximo do órgão, ele é econômico nas palavras: "A discussão precisa ser ampla, e é preciso que haja transparência suficiente na escolha da liderança"

Do Brasil à Europa

Mesmo com um novo diretor-gerente, seja europeu ou vindo de um país emergente, o FMI agora é o principal parceiro da União Europeia para combater a sua crise. Como reconhece o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, em uma carta enviada à presidência do G20: "É compreensível que alguns países europeus desejem encontrar uma rápida solução para seus problemas. Não obstante, não devemos decidir de forma precipitada a sucessão da chefia de uma instituição de tamanha importância".

Seria mais vergonhoso pedir ajuda a um órgão financeiro internacional presidido por um executivo não europeu? "Pedir socorro ao FMI é uma situação vergonhosa para qualquer governo e ainda é carregada, sim, de muito estigma. É uma declaração de incompetência. Se a administração fosse competente, a crise não teria ocorrido", ressalta Carlos Pio, professor de economia e política internacional da Universidade de Brasília.

Segundo o especialista, os governos preferem pedir dinheiro emprestado ao mercado financeiro, ao setor privado porque, junto com o dinheiro do FMI, vem agregadas uma série de condições e ajustes. Alexandre Tombini, por outro lado, é mais ameno em suas considerações: "Os países não devem ter o estigma de pedir ajuda ao FMI. Acho que a organização está muito bem posicionada, tem condições e conhecimento de ajudar os países, incluindo a Europa".

De volta às origens

Criado no pós-Segunda Guerra, o FMI serviu especialmente para ajudar os países destruídos pelo confronto. "Os europeus pegavam muito dinheiro emprestado. Bélgica, Itália e França, por exemplo, recorreram muito ao fundo no começo dos anos 1950", lembra Pio.

Politikwissenschaftler Carlos Pio
Carlos PioFoto: privat

A primeira vez que o Brasil recorreu ao órgão foi em 1984. Mas foi no início dos anos de 1990 que o FMI virou sinônimo de problema: "O que tem a ver com o montante da dívida pública externa, por conta dos planos megalomaníacos do governo militar. Pode-se dizer que Delfim Neto foi o grande responsável", ressalta o professor da UnB.

O especialista considera que o jogo começou a virar depois de uma engenhosa negociação com o Fundo, conduzida pelo ex-ministro Pedro Malan, por meio de reformas que atraíram capital externo de longo prazo e que puderam proporcionar meios de pagar a dívida. "Hoje, a dívida brasileira é praticamente toda privada. O governo acumula as reservas para usá-las na hora do setor privado pagar a sua dívida", acrescenta Pio.

E foi em 2010 que o Brasil virou credor da instituição que era tão assustadora para os brasileiros, e que, agora, passou a ser mais temida pelos europeus. "O mundo mudou muito nos últimos anos. Economias como a do Brasil se desenvolveram muito nos últimos cinco anos. Quanto ao FMI, acredito que seja uma instituição que tem esse papel de ajudar países em dificuldades, com problemas na balança de pagamentos, com débitos. Acho que o FMI deve e vai ter um papel muito construtivo ao ajudar a Europa a resolver os problemas que a região tem enfrenta nos dias de hoje", finalizou Alexandre Tombini.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer