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Após protestos, líder cubano reconhece crise e culpa EUA

12 de julho de 2021

Miguel Díaz-Canel denunciou sanções e acusou os EUA de "pagarem mercenários" para desestabilizar a ilha. Governo tem cortado internet em áreas de protestos e organizado manifestações de apoio ao regime.

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Proteste in Kuba
Miguel Díaz-Canel numa manifestação governista no último domingoFoto: Yamil Lage/AFP/Getty Images

O presidente do conselho de Estado de Cuba, Miguel Díaz-Canel, culpou nesta segunda-feira (12/07) os Estados Unidos pelos protestos históricos registrados no domingo em todo o país e disse que os atos foram uma tentativa de desacreditar o seu governo e a revolução comunista.

Em transmissão ao vivo pela televisão e pelo rádio, o líder comunista, cercado por vários de seus ministros, acusou "mercenários pagos pelos Estados Unidos" de organizar os protestos massivos, embora tenha admitido que também participaram dos atos cidadãos "confusos" com a "falta de informação" sobre os problemas que o país enfrenta.

No domingo, milhares de cubanos saíram às ruas em Havana e em outras cidades do país para protestar contra a falta de comida, medicamentos e energia elétrica em meio à pandemia. Os protestos estão sendo considerados a maior demonstração de insatisfação popular nas ruas em três décadas.

Díaz-Canel disse que a intenção de Washington é impor "uma política de sufocação econômica para provocar revoltas sociais no país". Ele garantiu que seu governo está tentando "enfrentar e superar" as dificuldades diante das sanções dos Estados Unidos, reforçadas desde o mandato de Donald Trump. Para ele, os EUA querem provocar "mal-entendidos" entre os cubanos.

A Casa Branca disse nesta segunda-feira que os protestos em Cuba foram "espontâneos" e negou que as sanções impostas pelos Estados Unidos tenham agravado a crise econômica no país. No entando, os EUA asseguraram que estão avaliando como ajudar "diretamente" o povo cubano.

Agressões e desaparecimentos

No discurso, Díaz-Canel também negou que tenha havido repressão policial contra os manifestantes pacíficos, apesar de várias denúncias de detenção e de vídeos postados nas redes sociais mostrarem a ação violenta da polícia.

O fotógrafo espanhol Ramón Espinosa, da agência de notícias americana Associated Press, foi um dos atacados por um esquadrão e precisou passar por uma cirurgia de reconstrução nasal.

Uma equipe da agência de notícias espanhola Efe presenciou a prisão de um grupo de jovens que protestava pacificamente em frente à sede do Instituto Cubano de Rádio e Televisão, em Havana, e foi levado à força para dentro de um caminhão e retirado do local.

As autoridades cubanas cortaram a conexão de internet móvel no país, o que dificulta muito o acesso às informações e o compartilhamento de vídeos dos protestos, já que o serviço de internet é incomum nos lares cubanos devido ao alto preço.

Nesta segunda-feira, os movimentos de oposição começaram a fazer listas de manifestantes desaparecidos após serem presos.

Exilados pedem ajuda de Biden

Um grupo de exilados políticos cubanos pediu nesta segunda-feira ao presidente americano, Joe Biden, que atue "decisivamente" para proteger o povo de Cuba da violência e da repressão e que apoie o desejo de mudança, para que não seja repetido o "erro" do presidente John F. Kennedy de deixá-los indefesos.

Em coletiva de imprensa com a participação de organizações de exilados de Nicarágua, Venezuela e Síria, o grupo reiteirou seu apoio à "rebelião popular" desencadeada no domingo.

"Se Biden não agir, Cuba logo estará repleta de assessores russos e chineses", como aconteceu na Venezuela, Nicarágua e Síria, disse Orlando Gutiérrez, líder da Assembleia da Resistência Cubana.

Na coletiva de imprensa, Gutiérrez e os demais dirigentes exilados disseram que "o Partido Comunista e a família Castro têm que deixar Cuba", porque esse é o "desejo do povo".

Nesta segunda-feira, Biden expressou seu apoio ao povo cubano e descreveu os protestos como "um pedido de liberdade" em um "bravo" exercício de "direitos fundamentais".

"Os Estados Unidos conclamam o regime cubano a ouvir seu povo e a servir suas necessidades neste momento chave, em vez de enriquecer", declarou o presidente americano.

À esquerda, em primeiro plano, está o rosto de um soldado, com boina e máscara cobrindo apenas a boca. Ao fundo, muitas pessoas erquem os braços em protesto.
Protestos de domingo foram os primeiros desde o famoso "Maleconazo" de 1994Foto: Stringer/Reuters

Até agora, o governo Biden tem se focado mais em problemas internos, como a luta contra a covid-19 e a aprovação de leis de infraestrutura, e ignorado Cuba.

Por outro lado, a Rússia, um dos principais defensores das autoridades cubanas desde os tempos soviéticos, alertou nesta segunda-feira contra qualquer "interferência externa" na crise.

"Consideramos inaceitável qualquer ingerência externa nos assuntos internos de um Estado soberano e qualquer ação destrutiva que favoreça a desestabilização da situação na ilha", disse Maria Zajárova, porta-voz do ministério das Relações Exteriores russo.

ONU pede respeito à liberdade

A Organização das Nações Unidas (ONU) disse nesta segunda-feira que está acompanhando o desenrolar dos protestos em Cuba e destacou a necessidade que as autoridades respeitem integralmente a liberdade de expressão e de reunião dos cidadãos.

"Queremos nos assegurar que os direitos básicos do povo, especialmente a liberdade de expressão e de reunião pacífica, sejam respeitados", disse o porta- Farhan Haq em uma coletiva de imprensa.

O alto representante da União Europeia (UE) para a política externa, Josep Borrell, exortou as autoridades cubanas nesta segunda-feira a "permitir" manifestações pacíficas e "ouvir" seus participantes.

Os protestos de domingo são considerados históricos: é a primeira vez que um grande grupo de cubanos sai às ruas de Havana para protestar contra o governo desde o famoso "Maleconazo" de 1994, no meio da crise econômica do chamado "Período Especial", os anos seguintes ao fim da ajuda fornecida pela União Soviética.  Cuba vive sob um autoritário regime comunista desde o final dos anos 1950 e periodicamente registra crises econômicas. 

Para reprimir os atos, Díaz-Canel exortou seus apoiadores a saírem às ruas prontos para o "combate".

"A ordem de combate está dada, os revolucionários às ruas", afirmou o governante, citado pela agência de notícias Efe.  

le (efe, afp, ots)