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Atração e perigo

11 de junho de 2010

Futebolistas africanos são seduzidos por promessas de sucesso fácil, mas milhares fracassam no dia-a-dia do futebol europeu. Associação francesa Foot Solitaire procura ajudá-los.

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Entusiasmo pelo futebol é grande na ÁfricaFoto: AP

A Europa exerce uma forte atração sobre os jovens e talentosos jogadores de futebol africanos que desejam fazer carreira. Porém muitas vezes seu sonho tem um fim deplorável. Este é o caso de Pierre, de 20 anos, da República dos Camarões.

Aos 14 anos, ele deixou a família, seduzido pelas promessas de um treinador, que lhe falou que seu lugar era nos grandes clubes europeus. Pierre confiou no inescrupuloso "caçador de talentos". "Me matei para pagar a passagem de avião até aqui. Pois quem quer fazer carreira no futebol tem que vir para a Europa: disso, tudo mundo sabe!"

O jovem camaronense chegou a jogar algumas vezes na equipe juvenil do Paris Saint Germain. Mas deu azar: se machucou. A partir daí, nem sombra das promessas de carreira num clube profissional. "Tive que pagar minha própria operação, a fisioterapia. Foi caro, e eu estava totalmente sozinho."

Hoje, ele se contenta em jogar pelada numa praça empoeirada de Saint Denis, nas cercanias de Paris.

Foot Solidaire

É para tentar auxiliar jovens atletas da África perdidos na Europa que Jean-Claude Mbvoumin criou a associação parisiense Foot Solidaire. O antigo jogador da seleção de Camarões conhece numerosos casos como o de Pierre.

"Isso é tráfico de crianças, e atinge sobretudo adolescentes de 15, 16 anos de idade, que se deixam explorar com facilidade. Os agentes prometem contratos profissionais, mas os clubes não esperam até que os africanos tenham se habituado com a nova realidade. E assim, eles são muitas vezes mandados embora."

Mbvoumin calcula que vivam nos subúrbios da capital francesa vários milhares de africanos vítimas dessa experiência. Sua ajuda é, de início, bem prática. "Damos dicas, ouvimos os jovens, procuramos encontrar soluções. Mas, na maioria dos casos, isso não vai além de uma ajuda emergencial!"

FC Barcelona Fußball Trikot Unicef
Samuel Eto'o é um craque camaronense que deu certo na EuropaFoto: picture-alliance/ dpa

Efeitos do Mundial

Houve progressos desde que Mbvoumin e sua organização chamaram a atenção para o problema dos futebolistas em exílio involuntário. A Federação Internacional de Futebol (FIFA) endureceu suas diretrizes: tráfico de menores é rigorosamente proibido. Mas como fiscalizar? Mbvoumin é cético.

"Não se pode mandar a polícia vigiar nem os clubes, nem os empresários dos atletas. Mas a FIFA pode empregar seu poder na mídia, os protagonistas têm que estar cientes da sua responsabilidade."

O fato de a Copa do Mundo 2010 se realizar justamente na África do Sul é uma grande chance, mas também um perigo, avalia Jean-Claude Mbvoumin. Pois a força de atração do futebol – e, portanto, da Europa – sobre os jovens jogadores africanos se tornará ainda maior.

"Vimos isso aqui na França, depois do Mundial de 1998. De repente, todo o mundo quer jogar futebol. Vai ser exatamente a mesma coisa na África, só que de forma mais extrema e mais mal organizada. A Copa é um presente para a África – e não deve se transformar num presente de grego."

Acima de tudo, o ex-craque camaronense teme que o perigo da armadilha do sucesso fácil na Europa venha a piorar, "depois que as luzes se apagarem".

Autoria: Angela Ulrich (AV)
Revisão: Carlos Albuquerque