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Ataque em Beirute aumenta temor de avanço do conflito na Síria

Andreas Gorzewski / Mariana Santos26 de maio de 2013

Mísseis atingem bairro xiita ocupado pelo grupo Hisbolá, que luta ao lado das tropas do regime Assad no conflito com rebeldes na Síria. Apoio a governo em Damasco baseia-se em interesses estratégicos na região.

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Foto: Reuters

Dois mísseis atingiram neste domingo (26/05) um bairro xiita em Beirute, considerado uma fortaleza do grupo Hisbolá. Os ataques deixaram pelo menos quatro feridos e aumentaram os temores de que o conflito na Síria, que já dura mais de dois anos, tenha avançado sobre o país vizinho.

Até agora nenhum grupo reivindicou a autoria dos ataques, mas eles ocorreram poucas horas após o líder do Hisbolá, Hassan Nasrallah, afirmar que continuará lutando "até a vitória" ao lado do presidente sírio nos confrontos entre tropas do governo e rebeldes.

Desde o início dos conflitos na Síria, este foi o primeiro ataque aparentemente visando a área Hisbolá, no sul da capital libanesa. Os embates entre rebeldes e tropas leais ao presidente sírio, Bashar al Assad, já deixaram mais de 80 mil mortos e 1,5 milhão de exilados, segundo organizações internacionais.

Os Estados Unidos e a Rússia programam para junho a realização de uma conferência internacional a fim de discutir saídas diplomáticas para a crise na Síria. Segundo o ministro sírio do Exterior, Walid al Moualem, o governo em Damasco acredita que o encontro poderá ser uma oportunidade para resolver a crise, portanto "a princípio", o país participará do debate.

Desde o início dos confrontos na Síria, o Líbano tem estado polarizado: de um lado, estão os muçulmanos sunitas apoiando a maioria insurgente, também sunita, contra o regime Assad; do outro, estão os xiitas do Hisbolá, que apoiam o presidente da Síria, pertencente à minoria alauita – vertente do islamismo xiita.

Syrien Soldaten in Kusair Qusayr
Soldados sírios em Qusair, onde também contam com apoio de combatentes do HisboláFoto: JOSEPH EID/AFP/Getty Images

Mortes aumentam

O número de combatentes do Hisbolá mortos na Síria vem aumentando. Desde que a organização libanesa começou a atuar no país vizinho, em apoio ao presidente Assad, pelo menos cem integrantes perderam a vida, segundo os defensores dos direitos humanos na Síria. O número de mortes cresce especialmente nos combates pelo controle da cidade síria de Al Qusair, na fronteira com o Líbano.

Para o cientista político Rami Khouri, da Universidade Americana de Beirute, apesar das grandes perdas humanas resultantes das investidas do Hisbolá na Síria, a organização ainda tem como meta formar, junto ao Irã e à Síria, uma autodenominada frente de resistência contra Israel e o Ocidente. "Se a Síria e o regime de Assad caírem, seria um grande golpe para o Hisbolá e o Irã", avalia o professor em entrevista à Deutsche Welle.

O eixo Teerã-Damasco-Hisbolá, acredita Khouri, quer evitar que outros países ganhem mais espaço no mapa político da região. Os sunitas da Arábia Saudita e do Catar estariam tentando, por exemplo, por meio de uma mudança do governo na Síria, impedir a influência dos xiitas do Irã. Sem a Síria, o eixo ficaria praticamente de lado e o Hisbolá, assim como o Irã, continuaria isolado.

Hisbolá atingido

Com o apoio militar na Síria, o Hisbolá também espera reafirmar sua base de poder no próprio Líbano. Afinal, se o regime em Damasco cair, a organização xiita se enfraquece, ressalta Khouri. O Hisbolá tem lucrado com o apoio político e logístico ao governo Assad, o qual repassa informações sigilosas ao grupo e faz o transporte de equipamentos.

Hisbollah Parade in Libanon Archivbild 28.11.2012
Parada militar do Hisbolá no LíbanoFoto: Mahmoud Zayyat/AFP/Getty Images

Até mesmo as estreitas relações entre os xiitas libaneses e o Irã seriam abaladas caso o regime sírio venha a cair. Em 1982, o governo em Teerã ajudou a construir o Hisbolá. Até hoje os iranianos, de mesma fé religiosa, exercem grande influência sobre o braço político e militar da organização libanesa. E sem acesso direto pela Síria o repasse de armas e combatentes iranianos até o Líbano ficaria bem mais complicado, pois o Líbano só teria fronteira com Israel. Desde 2006 a costa libanesa vem sendo protegida por uma frota internacional da ONU.

Combatentes de elite

Não se sabe exatamente o quanto o Hisbolá está engajado no conflito interno sírio. Ely Karmon, do Instituto de Combate ao Terrorismo na cidade israelense de Herzliya, estima que o número de combatentes possa chegar a alguns milhares. "É uma tropa de elite, que antigamente lutava contra Israel no sul do Líbano", ressalta o especialista. Em caso de necessidade, a organização pode ainda acionar sua grande, porém pouco preparada milícia.

As ações de guerra aumentam, porém, a tensão no instável Líbano. Há décadas o Hisbolá tem se mostrado como um fator de poder no país. Sunitas e parte da população cristã no Líbano têm várias reservas em relação à organização.

Os Estados Unidos estão discutindo a entrada do Hisbolá na lista de organizações terroristas. Com isso, ações mais duras poderiam ser tomadas contra o grupo. Mas líderes da organização vêm se mostrando pouco impressionados. Cada vez mais combatentes estão se apresentando no frente de combate na Síria.