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"Ataque em Nice não deve ser respondido com mais ódio"

30 de outubro de 2020

Em entrevista exclusiva à DW, presidente alemão diz que França e Europa devem ser firmes contra o "ato de brutalidade", mas resposta precisa defender tolerância e respeito, e não incentivar ainda mais ódio e xenofobia.

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O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier
"Aceitação e respeito mútuo fazem parte de nossa sociedade", diz Frank-Walter Steinmeier à DWFoto: Soeren Stache/AFP

Enquanto a França está de luto pelas três pessoas assassinadas no ataque a faca em uma igreja em Nice, no sul do país, na quinta-feira (29/10), o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, condenou atos de violência, ódio e xenofobia, em entrevista exclusiva à DW.

O chefe de Estado afirmou que seus pensamentos "estão sobretudo com os familiares" das três vítimas, incluindo uma brasileira de 44 anos que morava na França. Ao mesmo tempo, ele clamou por uma resposta dos governos que não seja ditada por mais "ódio".

"Acredito que o que devemos fazer agora na Europa, e não apenas na França, é enfrentar esse ato de brutalidade e as motivações islâmicas por trás dele. Em nossas sociedades democráticas, acima de tudo, não devemos basear a resposta do Estado em um curso determinado pelo ódio e pela xenofobia", declarou.

Steinmeier observou ainda que tentar encontrar um equilíbrio entre enfrentar a violência e ao mesmo tempo defender sociedades abertas e a tolerância é um desafio único.

"Aceitação e respeito mútuo fazem parte de nossa sociedade. Enfrentar tais atos de violência brutal e as motivações islâmicas é uma coisa; outra coisa é tentar manter a abertura de nossa sociedade – isso é outro desafio", afirmou o presidente.

Nesse contexto, ele lembrou o ataque em Dresden, no leste da Alemanha, que deixou uma pessoa morta e uma ferida no início de outubro. Segundo Steinmeier, não se pode pensar que a Alemanha está imune de atentados como esses. "Não, pelo contrário, precisamos continuar vigilantes."

O autor do atentado em Nice foi identificado como um tunisiano de 21 anos. Ele acertou três pessoas, um homem e duas mulheres, com golpes de faca dentro da Basílica Notre-Dame, antes de ser baleado pelos policiais e hospitalizado em condições de risco de morte.

O suspeito, que teria gritado "Allahu Akbar" (Deus é grande, em árabe) ao perpetrar o ataque e carregava um Alcorão, havia chegado recentemente à França e não estava no radar das agências de inteligência como uma ameaça potencial de terrorismo.

As tensões têm crescido entre a França e vários países de maioria muçulmana depois que o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu a liberdade de expressão e o direito de divulgar caricaturas no país, incluindo do profeta Maomé.

A declaração de Macron foi feita depois que um professor de história, Samuel Paty, foi decapitado por um extremista islâmico nas proximidades de Paris, em 16 de outubro, por ter exibido caricaturas do profeta em sala de aula, durante uma discussão sobre liberdade de expressão.

A Turquia, em particular, liderou essa onda de indignação no mundo muçulmano, com o presidente Recep Tayyip Erdogan acusando Macron de ter uma agenda antimuçulmana e pedindo um boicote aos produtos franceses.

Na entrevista à DW, Steinmeier afirmou "não haver dúvidas" de que o discurso de Erdogan "não ajuda em nada". "Espero que, por meio dessa escalada que temos notado, na retórica que visivelmente se escala, que alguns dos possíveis perpetradores não se sintam encorajados."

Ao mesmo tempo, o presidente descreveu como positivo que, após as mortes em Nice, vários líderes de países de maioria muçulmana tenham condenado o atentado. "Isso é importante e também um sinal entendido dentro das comunidades muçulmanas na França."

EK/dw