Atenas e a Documenta
Em 2017, a maior exposição mundial de arte se realiza em duas cidades: em Kassel, sua sede tradicional, e na capital grega, onde a Documenta abre as portas já neste sábado (08/04). Expulsão e fuga são os temas centrais.
Atenas – refúgio histórico
"Aprendendo de Atenas" é o lema da Documenta 2017: em seu caminho à Europa, refugiados da Síria, do Iraque ou do Afeganistão aportam na capital grega. Mas, já nos anos 1920, a cidade serviu de refúgio para migrantes expulsos da Ásia Menor (atual Turquia) pela guerra grego-turca, como mostram construções descontroladas decorrentes dessa imigração e que marcam até hoje a paisagem urbana ateniense.
Ruína como inspiração
Andreas Angelidakis é curador, arquiteto e artista. Em seu trabalho, a inspiração é sempre encontrada em motivos de ruínas, sejam elas antigas, modernas ou até mesmo imaginárias. Para a Documenta, ele se ocupou, em sua obra, com a história de Atenas – e com os vestígios que as ondas migratórias deixaram na estrutura urbana e na arquitetura da cidade.
Símbolo da resistência
A foto mostra a artista Georgia Sagri em frente à Politécnica de Atenas, que para os gregos é um símbolo da resistência. Durante a ditadura militar, em 1973, os estudantes a ocuparam por três dias, até o levante ser reprimido violentamente. A universidade é uma das muitas locações da Documenta relacionadas a este capítulo sombrio da história grega.
A cidade como tela de projeção
Atenas é a capital dos grafites e da arte de rua: de slogans políticos a murais monumentais. A gravura "Mãos que oram", do artista renascentista Albrecht Dürer, é mostrada aqui de cabeça para baixo, como se Deus estivesse rezando pela humanidade. Esse também é o título da obra: "Orando por nós".
Atenas alternativa
Inicialmente, a crise liberou uma enorme força criativa: artistas ocuparam espaços e realizaram projetos. Dizia-se: "Atenas é a nova Berlim". Mesmo que, atualmente, alguns tenham se cansado um pouco, tanto a capital grega quanto a alemã possuem uma vibrante cena alternativa. Com a Documenta, os organizadores esperam agora que novos impulsos e novas redes de contatos surjam na cidade.
Novas perspectivas
Akinbode Akinbiyi, curador, artista e fotógrafo britânico-nigeriano é um cronista de metrópoles – de Lagos a Berlim. Em Atenas, ele captou com sua câmera as muitas faces da história. O seu olhar corresponde à mudança de perspectiva que almeja a Documenta, uma visão para além da indústria cultural ocidental.
Arte na masmorra
Mesmo antes de começar, a Documenta usou esta caserna no Parko Eleftherias (Parque da Liberdade) para debates e performances. Ela faz parte da antiga prisão de tortura da junta militar que governou o país com despotismo brutal, censura e assassinatos. Dezenas de milhares de cidadãos, principalmente de esquerda, estiveram presos ali. Em abril de 2017, o golpe de Estado anticomunista faz 50 anos.
Imagens portuárias
Em Pireu, porto pelo qual os refugiados chegam a Atenas, o artista Hiwa K fez imagens para o seu trabalho de vídeo "Pre-Image". Proveniente do norte do Iraque, ele fugiu em 1988 para a Alemanha, através da Grécia. Ele transforma a sua experiência com a guerra, fuga e morte em instalações, performances e filmes. Ele próprio diz ver-se mais como um contador de histórias do que como um artista.
Desafio e estímulo
Os atenienses não perderam o espírito crítico com a crise. E, claro, há também reservas frente à megamostra alemã. Afirma-se que ela explora a tragédia grega como cenário pitoresco para a elite artística internacional. Diante dos escritórios da Documenta no bairro de Exarkheia, vê-se o grafite de um local: "Prezada Documenta, eu me recuso a me exotizar para aumentar o seu capital cultural."