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Espionagem

28 de janeiro de 2011

Mark Kennedy, agente secreto da Scotland Yard, também agia na Alemanha. Políticos da oposição querem saber qual era exatamente a atuação do agente, acusado de infringir regras de conduta.

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Suspeito agia sob codinome 'Mark Stone'Foto: Fotolia/Evgeniya Ponomareva

Políticos de oposição da Alemanha exigem que governo investigue em mais profundidade as atividades do agente secreto inglês Mark Kennedy, acusado de pelo menos três crimes em solo alemão.

A história chegou ao conhecimento público através do semanário Der Spiegel, que cita fontes internas do governo. Segundo o artigo, numa reunião sigilosa o diretor do Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA), Jörg Ziercke, teria conversado com políticos importantes sobre o trabalho secreto de Kennedy no país.

"Não posso comentar sobre os procedimentos no comitê interno, mas sei que as reportagens nos jornais de hoje estão, na maior parte, corretas", afirmou na quinta-feira (27/01) o deputado verde Hans-Christian Ströbele, membro do Grêmio Parlamentar de Controle dos Serviços Secretos da Alemanha.

"É verdade que Mark Kennedy esteve ativo na Alemanha, e não apenas a serviço de autoridades britânicas como a Scotland Yard. Também está bastante claro que ele trabalhava para várias forças policiais alemãs, especificamente as dos estados de Schleswig-Holstein, Baden-Württemberg e Berlim", revelou Ströbele.

Invocando a confidencialidade das declarações de Ziercke em Berlim, o BKA recusou-se a comentar o assunto.

"Mark Stone"

Sob o codinome "Mark Stone", Kennedy infiltrou-se em grupos de esquerda e ambientalistas de diversos países europeus. Ao longo de vários anos, o agente trabalhou para a Scotland Yard. Entretanto, relatórios divlugados no Reino Unido, e agora na Alemanha, indicam que em sua atividade ele violou certas regras.

Ströbele relata que Kennedy teria participado de pelo menos três delitos menores na Alemanha, numa conduta totalmente vedada aos agentes secretos do país. Como todos os demais servidores públicos, os agentes policiais alemães ficam subordinados a regras rigorosas, estando proibidos de violar qualquer lei, independente da natureza do trabalho.

Essas regras – que dificultam, ou mesmo impossibilitam aos agentes secretos alemães infiltrar-se em organizações criminosas e obter provas – não se aplicam atualmente a funcionários estrangeiros que sirvam na Alemanha.

"Ao que me consta, o uso de agentes estrangeiros é atualmente uma prática comum, permitindo operar com maior liberdade; e também por se acreditar que os grupos infiltrados terão mais dificuldade de identificar agentes estrangeiros", observou Ströbele, acrescentando: "Precisamos unificar a regulamentação em toda a Europa e assegurar que todos os agentes secretos sigam o mesmo código de conduta".

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Manifestação durante a cúpula do G8 em Heiligendamm, 2007Foto: Attac

Violando regras

Mark Kennedy foi detido quando ajudava a incendiar um contêiner de lixo público em Berlim, assim como participando de um bloqueio ilegal durante a Cúpula do G8 em 2007, em Heiligendamm, no norte da Alemanha. Contudo, de acordo com a imprensa alemã, todas as acusações foram retiradas quando as autoridades informaram a polícia local sobre a identidade de Kennedy.

"Ainda não está afastada a suspeita de que Kennedy estivesse agindo, na verdade, como um agente provocador nesses crimes", disse uma porta-voz do partido alemão A Esquerda nesta quinta-feira. O agente manteve ainda um relacionamento sexual com uma ativista em Berlim, rompendo os códigos de conduta aplicáveis aos oficiais alemães.

Oficialmente, Kennedy era classificado pelo serviço secreto alemão como "informante", e não como um agente policial. No entanto, o deputado Ströbele argumenta que o aumento da cooperação internacional e do poder introduzido pela influência da União Europeia implica a queda de tais distinções entre os agentes secretos de diferentes nacionalidades.

"É absolutamente necessário mais esclarecimento em relação ao assunto. Precisamos saber se esse agente secreto era também pago pelo governo alemão, além do polpudo salário que recebia da Scotland Yard. E também: ele esteve envolvido em outros crimes semelhantes? E por que não foi processado ou sequer investigado pelos casos existentes?"

Identificação com a causa ambientalista?

No momento, é desconhecido o paradeiro de Mark Kennedy: acredita-se que ele se encontre nos Estados Unidos. Suas atividades foram submetidas a investigação minuciosa no Reino Unido, nas últimas semanas, desde que o julgamento de seis ambientalistas foi suspenso diante da notícia de que Kennedy testemunharia a favor dos réus. Eles eram acusados de planejar sabotar uma das maiores usinas de energia na Inglaterra.

O Serviço Público de Processamentos (CPS) britânico recusou-se a comentar por que, exatamente, suspendeu o processo em 10 de janeiro último. O órgão emitiu um comunicado alegando que "vieram à tona informações antes indisponíveis, que minam severamente o caso".

Porém, segundo advogado dos ambientalistas, Mark Schwartz, o âmbito das atividades de Kennedy também pode ter ameaçado o processo. "Não tenho dúvida de que nossas tentativas de revelar o papel de Kennedy provocaram o colapso do julgamento", diz Schwartz.

"Não é coincidência o fato de que o CPS paralisou o processo apenas 48 horas após termos lhe dito que nossos clientes não poderiam ter um julgamento justo a menos que o órgão revelasse informações a respeito de Kennedy", explicou o advogado de defesa.

Schwartz ressaltou que Mark Kennedy pretendia testemunhar a favor de seus clientes, e sugeriu que, após uma década trabalhando entre os ativistas, o agente secreto poderia ter "se transformado num nativo".

Autor: Mark Hallam (np)
Revisão: Augusto Valente